Preços dos alimentos caem, mas energia puxa inflação que fecha julho em 0,33%
Jornalista: Letícia Sallorenzo
Índice em julho ficou é 0,33% contra 0,30% de junho. O maior aumento foi no preço da energia, mostra pesquisa do IBGE
A inflação no mês de julho fechou em 0,33% – um aumento de 0,03% na comparação com o mês anterior que havia ficado em 0,30%, mostra pesquisa divulgada nesta sexta-feira (25) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
No Índice Nacional do Preço ao Consumidor Amplo (IPCA-15) que mede os custos para famílias com rendimento de 1 a 40 salários-mínimos se destaca a queda pelo segundo mês consecutivo nos preços do grupo Alimentação e bebidas (menos 0,06%). Em junho, esse grupo recuou 0,02%.
A alimentação no domicílio teve redução de 0,40% nos preços em julho, ante a variação de -0,24% observada em junho. As quedas da batata-inglesa (-10,48%), da cebola (-9,08%) e do arroz (-2,69%) impactaram o resultado. No lado das altas, destacou-se o tomate (6,39%), depois da queda de 7,24% no mês anterior.
Em relação à alimentação fora do domicílio, ocorreu aceleração de junho (0,55%) para julho (0,84%), em virtude dos aumentos do lanche (de 0,32% em junho para 1,46% em julho) e da refeição (de 0,60% em junho para 0,65% em julho).
Artigos de residência também tiveram queda (-0,02%) e Vestuário (-0,10%).
Dos nove grupos de produtos e serviços pesquisados, cinco tiveram alta no mês de julho. A maior variação e o maior impacto positivo vieram do grupo Habitação, com 0,98% e 0,15 p.p., respectivamente.com destaque para a energia elétrica residencial com altas de 3,01% e 0,12 % como principal impacto individual no índice, permanecendo a vigência da bandeira tarifária vermelha patamar 1, com a cobrança adicional de R$4,46 a cada 100kwh consumidos.
Além de Habitação, quatro dos nove grupos de produtos e serviços pesquisados tiveram alta no mês de julho: Transportes (0,67%), Despesas pessoais (0,25%), Saúde e cuidados pessoais (0,21%) e Comunicação (0,11%). Alimentação e bebidas (-0,06%), Artigos de residência (-0,02%) e Vestuário (-0,10%) mostraram variação negativa, enquanto Educação (0,00%) teve variação nula.
Já o grupo Transportes apresentou aceleração de junho (0,06%) para julho (0,67%). A alta foi impulsionada pelas passagens aéreas (19,86% e 0,11 p.p.) e pelo transporte por aplicativo (14,55% e 0,03 p.p.). Por outro lado, os combustíveis recuaram 0,57% em julho, com quedas nos preços do gás veicular (-1,21%), do óleo diesel (-1,09%), do etanol (-0,83%) e da gasolina (-0,50%).
Índice anual
No ano, o IPCA-15 acumula alta de 3,40% e, nos últimos 12 meses, a variação foi de 5,30%, acima dos 5,27% observados nos 12 meses imediatamente anteriores.
Sobre a pesquisa
O indicador abrange as regiões metropolitanas do Rio de Janeiro, Porto Alegre, Belo Horizonte, Recife, São Paulo, Belém, Fortaleza, Salvador e Curitiba, além de Brasília e do município de Goiânia. A metodologia utilizada é a mesma do IPCA, a diferença está no período de coleta dos preços e na abrangência geográfica.
Brasil vai ingressar em ação contra Israel por genocídio em Gaza
Jornalista: Letícia Sallorenzo
Processo foi movido pela África do Sul na Corte da ONU
O Brasil irá ingressar formalmente em ação movida pela África do Sul na Corte Internacional de Justiça contra Israel por genocídio na Faixa de Gaza.
Em nota, o Ministério das Relações Exteriores informou nessa quarta-feira (23) que a decisão tem como base a Convenção para a Prevenção e Repressão do Crime de Genocídio e “o dever dos Estados de cumprir com suas obrigações de Direito Internacional e Direito Internacional Humanitário frente à plausibilidade de que os direitos dos palestinos de proteção contra atos de genocídio estejam sendo irreversivelmente prejudicados, conforme conclusão da Corte Internacional de Justiça, em medidas cautelares anunciadas em 2024″.
A Convenção do Genocídio foi firmada pelos membros das Nações Unidas após a Segunda Guerra Mundial como forma de prevenir crimes contra a humanidade.
A África do Sul apresentou a ação na Corte, órgão judicial das Nações Unidas, em janeiro de 2024, em que acusa Israel de violar a convenção internacional, ter uma “conduta genocida” e promover “assassinato em massa de civis em Gaza”.
Na sustentação oral, representantes do país africano justificaram que há uma tentativa de “destruição da vida palestina”, com uso de arsenal destrutivo, ataques de áreas consideradas seguras e campos de refugiados, impedimento de assistência humanitária, destruição de casas e infraestruturas. As autoridades israelenses negam as acusações.
Para o governo brasileiro, na nota em que anunciou hoje os trâmites finais para adesão ao processo, a comunidade internacional não pode ficar inerte diante das violações que vêm ocorrendo em Gaza e na Cisjordânia.
“A comunidade internacional segue testemunhando, de forma rotineira, graves violações de Direitos Humanos e Humanitário: ataques à infraestrutura civil, inclusive a sítios religiosos, como à paróquia católica em Gaza, e às instalações das Nações Unidas, como à Organização Mundial da Saúde; violência indiscriminada e vandalismo por colonos extremistas na Cisjordânia, como o incêndio às ruínas da antiga Igreja de São Jorge e ao cemitério bizantino em Taybeh; massacres de civis, a maior parte dos quais mulheres e crianças, que se tornaram cotidianos durante a entrega de ajuda humanitária em Gaza; e a utilização despudorada da fome como arma de guerra”, afirma o comunicado.
Outras violações apontadas pelo Brasil são dominação à força de territórios e ampliação de assentamentos ilegais.
As forças israelenses mataram quase 60 mil palestinos em ataques aéreos, bombardeios e tiroteios desde que lançaram sua ofensiva contra Gaza em resposta aos ataques a Israel pelo grupo Hamas, que matou 1,2 mil pessoas e capturou 251 reféns em outubro de 2023.
Impacto da IA é irreversível e exige participação de trabalhadores para transição
Jornalista: Letícia Sallorenzo
“Negociação Nacional Bancária sobre Novas Tecnologias, como a IA, e a Atividade Bancária” será o tema do próximo encontro entre Comando Nacional dos Bancários e Fenaban
Hoje é impensável descartar a tecnologia e seus impactos no mercado de trabalho. Um estudo da empresa PwC aponta que, só no Reino Unido, a inteligência artificial (IA) pode criar 2,7 milhões de empregos líquidos, até 2037.
Já outro estudo conduzido pela LCA 4Inteligence, considerando 435 ocupações no Brasil, destaca que 31,3 milhões (de um universo de 103,2 milhões de ocupações no país) serão afetadas, em maior ou menor grau, pela IA. Em entrevista ao jornal Valor Econômico, o responsável pela pesquisa da LCA, Bruno Imaizumi, explicou que a maior probabilidade é que ocorra “transformação dos empregos” e não “automação total” na maioria das ocupações, isso porque elas ainda exigirão a intervenção humana.
Por outro lado, das mais de 31 milhões de vagas afetadas, 5,5 milhões correm o risco de sofrerem automatização completa, sendo 4 milhões relacionadas à ocupação de escrituário geral: profissionais que executam tarefas administrativas e que dão suporte em processos burocráticos. Portanto, a chegada da IA e outras formas de tecnologia no mercado de trabalho aponta para três cenários concomitantes: (1) criação; (2) transformação; e (3) eliminação de ocupações.
Qual ou quais desses cenários atingem em maior ou menor grau o ramo financeiro? E como se preparar para essas mudanças com o objetivo de proteger os trabalhadores? Essas são algumas das questões que o Comando Nacional dos Bancários levará para a “Negociação Nacional Bancária sobre Novas Tecnologias, como a IA, e a Atividade Bancária”, prevista para a próxima segunda-feira (28).
Impacto da tecnologia no emprego bancário
Em março deste ano, a Febraban divulgou que 80% dos bancos já incorporaram a IA em suas operações: em 2024, os bancos brasileiros investiram R$ 42,3 bilhões em tecnologia e, em 2025, a expectativa é que esse volume aumente em 13% em relação ao ano anterior, alcançando R$ 47,8 bilhões.
Já um relatório mais recente, produzido pelo Dieese com base em dados do Caged, mostra que, no primeiro trimestre de 2025, foram eliminadas 1.197 vagas no setor bancário formal, número 67,8% superior ao registrado no mesmo período de 2024. Em 12 meses, esse corte foi mais expressivo: 7.473 postos a menos, sendo que, só em março, 1.111 vagas bancárias foram extintas.
Por outro lado, os bancos apresentaram aumento de contratação na área de Tecnologia da Informação (TI): em 12 meses foram criadas 1.842 vagas.
“Nos últimos anos, temos discutido com os bancos essa movimentação, que aponta para um fortalecimento das áreas de TI nos bancos. Essa atuação do movimento sindical bancário gerou algumas conquistas importantes, em 2022, na Convenção Coletiva de Trabalho (CCT), como a mesa permanente ‘Negociação Nacional Bancária sobre Novas Tecnologias’ e o comprometimento dos bancos em investir na formação e requalificação de trabalhadores na área de TI, com destaque para bolsas de estudo exclusivas para mulheres”, explica Juvandia Moreira, coordenadora do Comando Nacional dos Bancários e presidenta da Confederação Nacional dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Ramo Financeiro (Contraf-CUT).
A dirigente ressaltou que discutir a questão de gênero nesse processo de ascensão das novas tecnologias é fundamental porque as mulheres estão entre as mais afetadas com essas mudanças. O trabalho da LCA 4Intelligence, por exemplo, destaca que as mulheres têm duas vezes mais chances de serem expostas à IA generativa, por estarem mais concentradas nas ocupações que sofrem maior risco de automação, como áreas administrativas e de atendimento ao cliente.
Já, em relação a queda de emprego no setor bancário, 66,5% das 1.197 vagas fechadas no primeiro trimestre de 2025 correspondiam a vagas que antes eram ocupadas por mulheres. Ao mesmo tempo, na área que mais cresce nos bancos, a de TI, houve uma redução da proporção de mulheres de 31,9%, em 2012, para 25,2%, em 2024. O que significa que, para cada quatro trabalhadores na área de TI dos bancos, apenas um é mulher.
Redução da jornada
Entre as propostas do movimento sindical para equilibrar os ganhos da automação digital nos bancos com os trabalhadores está a redução da jornada de trabalho.
“O que estamos vivenciando neste momento com a IA é comparável aos impactos da máquina à vapor, à energia elétrica, computação e internet, talvez, só que de uma forma mais acelerada. Portanto, não é a primeira vez, para a humanidade, que o trabalho sofreu impactos dos avanços tecnológicos. Como as gerações passadas conseguiram superar esses desafios? No século XX, por exemplo, ocorreu o fim das escalas abusivas nas fábricas. E hoje podemos repensar, novamente, a redução semanal da carga horária para evitar a concentração de renda, em benefício de toda a sociedade”, ressalta Juvandia Moreira .
Ela completa que, neste debate, o que está em jogo não é só a proteção de empregos de uma categoria, mas a conscientização política sobre as mudanças que estão por vir e que poderão determinar se haverá ou não escalada na concentração de renda no mundo e, com isso, um aprofundamento da pobreza. “Esses são temas que já estão sendo discutidos em fóruns internacionais que participamos, representando o movimento sindical brasileiro, promovidos por entidades como a Organização Internacional do Trabalho (OIT)”, salientou a presidenta da Contraf-CUT.
Ela conclui reforçando que as vantagens competitivas trazidas pela IA precisam ser compartilhadas por toda a sociedade. “Para isso temos que desenvolver estratégias múltiplas e que incluem (1) capacitação de trabalhadores, (2) redução da jornada de trabalho e (3) participação da sociedade nos debates sobre o desenvolvimento dessas tecnologias que afetam a vida de toda a humanidade de forma irreversível”, pontua.
INSS muda regras para facilitar o acesso à aposentadoria e ao salário-maternidade
Jornalista: Letícia Sallorenzo
Entre as regras estão: serviço militar e trabalho infantil serão ser contatos como tempo de serviço, e o fim da carência de pagamentos que dá acesso à concessão do salário-maternidade de autônoma
O Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) publicou a Instrução Normativa nº 158 no início deste mês de julho, que muda sete regras de acesso à aposentadoria e outros direitos previdenciários, a partir de decisões judiciais. São elas:
Trabalho na infância
Os trabalhos exercidos na infância devem ser contados como tempo de contribuição independentemente da idade legal autorizada para o período, desde que o trabalhador tenha provas do exercício da atividade como recibos de pagamentos ou até mesmo fotografias da época.
A mudança decorre por que de 1998 até 2019, o reconhecimento só vinha para atividades exercidas a partir dos 16 anos ou 14 anos, no caso de menor aprendiz. Mas a Justiça já havia determinado em outubro de 2018 o reconhecimento dos períodos de trabalho na infância como tempo de contribuição para a aposentadoria, independentemente das permissões legais. No no entanto, o INSS só implantou o reconhecimento dessa regra em 2019, prejudicando quem havia pedido o benefício antes dessa data. Com a publicação da Normativa se corrige essa distorção.
Aposentadoria rural
O INSS aumentou o rol de contribuintes que podem ser enquadrados como segurado especial e ter direito à aposentadoria rural. Agora também têm direitos os produtores rurais donos de terra ou que tenham usufruto, posseiros, assentados, parceiros, meeiros, arrendatários, quilombolas e pessoas que já viveram em quilombos, seringueiros, extrativistas vegetal e segurado que reside em imóvel rural ou aglomerado urbano, desde que desenvolva atividade agrícola, pastoril ou hortifrutigranjeira de forma individual ou em regime de economia familiar.
A aposentadoria rural é concedida com menor tempo de trabalho do que a urbana. É a partir de 60 anos para os homens e 55 para as mulheres— desde que comprovem 15 anos de trabalho. Não é preciso ter contribuições efetivas.
Aposentadoria híbrida
Trabalhadores rurais que se tornaram trabalhadores urbanos e vice-versa agora terão direito de se aposentar por idade, mas a idade mínima é maior do que quando a aposentadoria é só rural. São necessários 65 anos de idade para homens e 62 anos para as mulheres, além do pagamento de ao menos 180 contribuições ao INSS.
A vantagem dessa aposentadoria é que o segurado pode somar o tempo de trabalho no campo, mesmo sem ter contribuído efetivamente com a Previdência, para conseguir se aposentar.
Salário-maternidade da autônoma
As trabalhadoras autônomas passam a ter direito ao salário-maternidade do INSS com o pagamento de apenas uma contribuição à Previdência Social, conforme ocorre para as trabalhadoras que têm contrato pela CLT (Consolidação das Leis do Trabalho).
Segundo a nova regra, a partir de 5 de abril de 2024, mulheres que pedem a licença-maternidade à Previdência Social estão isentas da carência. Antes o período mínimo de contribuição ao INSS variava de cinco a 10 contribuições conforme a data do pedido.
Tempo de serviço militar obrigatório
O tempo de serviço militar obrigatório exercido após a reforma da Previdência de 2019, feita no governo de Jair Bolsonaro que aumentou o tempo de contribuição e reduziu o valor da aposentaria, será contabilizado como carência, ou seja, período mínimo de pagamentos para ter um benefício.
Para incorporar esse tempo é preciso ser certificado pelo respectivo ente federativo, por meio da CTSM (Certidão de Tempo de Serviço Militar), que deverá ser apresentada pelo segurado ao pedir o benefício previdenciário.
Complementação do salário mínimo
Os segurados que têm contribuições pagas em valores menores do que o salário mínimo poderão complementá-las para se aposentar. Essa complementação poderá ser feita no ato da aposentadoria, e não anteriormente, mês a mês, como previa instrução normativa anterior, de março de 2022. Se complementadas, elas serão contadas como contribuição para ter o benefício.
Facilidade de liberação do PPP para médicos e trabalhadores de cooperativas
Trabalhadores ligados a cooperativas poderão ter o PPP (Perfil Profissiográfico Previdenciário), que garante o tempo especial para ter benefício do INSS, liberados pela cooperativa de trabalho. O documento deve ser emitido com base nos laudos técnicos de condições ambientais do trabalho, tendo assinatura dos responsáveis.
Racismo, transfobia e ódio: as armas da extrema direita contra mulheres no poder
Jornalista: Letícia Sallorenzo
Lideranças como Erika Hilton e Marina Silva enfrentam ofensiva violenta que mistura racismo, sexismo e LGBTfobia como arma de intimidação política. Violência atinge também outras personalidades
Um recente episódio de violência verbal explícita reacendeu o alerta sobre os ataques de extremistas a figuras do campo progressista no Brasil. A ameaça pública feita pela apresentadora Antonia Fontenelle à deputada federal Erika Hilton (PSOL-SP) revelou a face brutal de uma estratégia sistemática que consiste em usar a violência para tentar silenciar mulheres progressistas. Em vídeo com teor racista e transfóbico, a apresentadora afirmou: “Se vier para cima de mim, eu puxo a peruca e te deixo careca”, o que representa um ataque direto a uma das vozes mais proeminentes da esquerda brasileira.
Durante críticas ao voto de Erika Hilton contra um projeto sobre crimes hediondos, Fontenelle extrapolou qualquer limite civilizatório, insinuando que a deputada “queria ser uma branca loira, só que você não é, e nunca vai ser”. A agressão revela como grupos extremistas instrumentalizam múltiplas formas de opressão para deslegitimar adversárias políticas, atacando simultaneamente identidade racial, de gênero e capacidade intelectual.
O episódio, que resultou em ação judicial de R$ 50 mil por danos morais, representa apenas a ponta de um iceberg de violência política que atinge sistematicamente mulheres negras, trans e defensoras de direitos humanos em posições de poder. Os ataques seguem um padrão que combina misoginia, racismo e LGBTfobia, direcionados especificamente a lideranças capazes de abalar estruturas de poder consolidadas.
Marina Silva
O caso de Hilton não é isolado. A ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, abandonou uma audiência no Senado após ser ofendida pelo senador Plínio Valério, que afirmou que “a mulher merece respeito, a ministra, não”. Silva já foi alvo de comentários como “imagine o que é tolerar a Marina seis horas e dez minutos sem enforcá-la”, proferidos pelo mesmo parlamentar. A frase sintetiza a estratégia de desumanização aplicada a mulheres em cargos de liderança.
Marina Silva acumula um histórico de ameaças. O mesmo senador já havia, em outra ocasião, dito a frase: “Imagine o que é tolerar a Marina seis horas e dez minutos sem enforcá-la”. Embora justificado como “força de expressão”, o parlamentar jamais pediu desculpas, contribuindo para clima de intimidação que inclui interrupções constantes, gritos e atitudes agressivas durante audiências públicas.
Em julho de 2025, a ministra enfrentou nova ofensiva em comissão do Congresso, sofrendo hostilidade e interrupções em audiência com ruralistas na Câmara dos Deputados. A estratégia é clara: impedi-la de apresentar argumentos e defender suas pautas ambientais através do cansaço e da humilhação pública.
Marielle
O assassinato de Marielle Franco em março de 2018 representa o ápice desta violência política. A vereadora negra, favelada e bissexual foi executada após denunciar violência policial e militar no Rio de Janeiro. Mesmo após a morte, continua sendo alvo de campanhas difamatórias que tentam ligá-la ao crime organizado, enquanto setores conservadores propagam mentiras sobre sua trajetória.
A investigação avançou em 2024 com a prisão dos irmãos Brazão e do ex-chefe da Polícia Civil Rivaldo Barbosa, apontados como mandantes. Mas os ataques simbólicos persistem, incluindo quebra de placas com seu nome por parlamentares de direita, evidenciando como a violência transcende a dimensão física para atacar a memória e o legado político.
Preta Gil
A cantora Preta Gil também integra esta lista. Em 2011, quando questionado por ela no programa CQC (Band) sobre como reagiria se um filho se relacionasse com uma mulher negra, o então deputado Jair Bolsonaro respondeu: “Eu não corro esse risco. Os meus filhos foram muito bem educados e não viveram em ambientes como, lamentavelmente, é o teu.”
A resposta combinava racismo e classismo, sugerindo que ambientes frequentados por mulheres negras seriam inadequados para “educação” de qualidade. O episódio ilustra como figuras públicas negras enfrentam questionamentos sobre sua dignidade e direito de existir em espaços de poder ou influência.
A análise de quem vive na pele
Para Filipa Brunelli, vereadora trans (PT) de Araraquara, no interior de SP, esses ataques representam uma reação estrutural de grupos que sentem seu poder ameaçado. “É um mecanismo social, principalmente incorporado pelos ultraconservadores, pelos fundamentalistas religiosos, para impedir que essas mulheres alcancem lugares de poder para que possa fazer de fato uma alternância de poder”, explica a parlamentar, que já recebeu ameaças de morte logo após tomar posse em seu segundo mandato, no início de 2025.
Filipa vivencia cotidianamente esta violência. No primeiro mandato, foi ameaçada ao denunciar acordos internos da Câmara. Na posse do segundo mandato, setores ultraconservadores promoveram ataques públicos. Recentemente, vereadores protocolaram projeto para alterar o regimento interno, impedindo-a de usar roupas com frases políticas. “Todo dia rotineiramente a gente passa por agressões misóginas, sexistas, transfóbicas”, relata.
A vereadora fala sobre as personalidades progressistas em espaços de poder, parafraseando a ex-deputada estadual (PSOL-SP) Erica Malunguinho, Brunelli. É uma ‘reintegração de posse’. Ela diz, se referindo à ocupação dos espaços de poder.
Ela cita também o conceito para entender a dinâmica de “corpos agressivos”. Segundo ela, existe hegemonia social branca, cisgênero e dentro de padrões estéticos específicos. “Todos os corpos que fogem dessa ótica são corpos agressivos para eles. Pessoas pretas, pessoas racializadas, pessoas travestis, pessoas periféricas, pessoas marginais”, explica.
Esta “elite corporal” tenta caracterizar mulheres progressistas como “loucas”, “desequilibradas” ou “despreparadas” nos debates públicos. “Olha o cabedal político, intelectual de nossas parlamentares e olha o cabedal deles”, desafia Filipa Brunelli, evidenciando a contradição entre os ataques e a qualificação real das vítimas.
A parlamentar ainda reforça a capacidade de transcendência dessas lideranças. “Hoje Erika Hilton é uma das vozes mais potentes da esquerda brasileira. Ela consegue pautar não somente questões identitárias, mas também questões trabalhistas, a escala 6×1, direitos de entregadores de aplicativo”, exemplifica, defendendo que corpos marginalizados podem debater temas amplos da sociedade.
Nikolas Ferreira
O deputado Nikolas Ferreira é um exemplo de como jovens políticos instrumentalizam ódio para construir carreiras. Condenado a pagar R$ 200 mil por discurso transfóbico após usar peruca loira na tribuna no Dia Internacional da Mulher, zombando da identidade trans, o parlamentar acumula histórico de ataques sistemáticos.
Em 2023, subiu à tribuna da Câmara declarando: “Hoje eu me sinto mulher. Deputada Nikole.” Continuou afirmando que “as mulheres estão perdendo espaço para homens que se sentem mulheres”. Foi condenado por transfobia contra Duda Salabert, usando pronomes masculinos e fazendo ofensas. Também publicou vídeo de jovem trans de 14 anos em banheiro escolar, sendo denunciado pelo Ministério Público.
Tática de silenciamento – mais casos
A violência segue padrões identificáveis. Manuela D’Ávila (PCdoB) enfrenta campanhas sistemáticas de fake news, incluindo montagem que a associava a facção criminosa e notícias falsas sobre “legalização do incesto”. A Record e Igreja Universal foram condenadas por veicular mentiras usando sua imagem.
A ex-deputada e família receberam ameaças de morte e cunho sexual. Em 2022, denunciou ameaças contra a filha Laura, de seis anos. “Esses ataques são extremamente agressivos e visam intimidá-la para que ela se afaste da vida política”, documenta o padrão de intimidação familiar.
Talíria Petrone (PSOL-RJ) recebe ameaças constantes por sua atuação antirracista. Jean Wyllys chegou ao extremo de renunciar ao mandato e deixar o Brasil devido à intensidade das ameaças homofóbicas, demonstrando eficácia desta estratégia de terror.
Perspectivas e resistência
Apesar da violência, Filipa Brunelli vê avanços significativos. “Nós pessoas trans somos a base de um iceberg social. Estamos conseguindo fazer com que esse iceberg emerja para que o fundo venha à tona”, usa metáfora poderosa para explicar o papel transformador de corpos historicamente excluídos na política institucional.
A vereadora observa, contudo, retrocessos preocupantes. Nas eleições de 2024, a representatividade trans diminuiu apesar do crescimento LGBTQIA+ geral. “A extrema direita cooptou pessoas das nossas comunidades para disputar eleições e seguir cartilha ultraconservadora”, alerta sobre instrumentalização da diversidade por forças conservadoras.
Não somente sobre pessoas trans, mas também sobre mulheres, negras e outros segmentos da minorizados socialmente, Filipa diz: “Prego que se destaca leva martelada. É o que acontece conosco.”
Para ela, a frase sintetiza a realidade brutal de que mulheres progressistas que ousam questionar estruturas de poder se tornam alvos preferenciais de grupos extremistas dispostos a usar qualquer método para preservar privilégios históricos.
Trump ataca Pix por interesse bilionário em favor dos EUA contra os brasileiros
Jornalista: Letícia Sallorenzo
Os ataques do presidente dos EUA, Donald Trump ao Pix tem como pano de fundo a perda de bilhões que as empresas Visa e Mastercard deixam de arrecadar ao serem substituídas pelo sistema utilizado no Brasil
Anunciado em 21 de dezembro de 2018 e passado a ser utilizado pela população em novembro de 2020, o Pix, ferramenta criada pelos servidores públicos do Banco Central do Brasil, vem sendo monitorado pelos Estados Unidos desde 2022 , segundo documento oficial do Escritório do Representante de Comércio dos Estados Unidos (USTR) que revelou que aquele país estava “preocupado” com os impactos da popularização da plataforma brasileira de pagamentos instantâneos. O Pix somou no fim de junho deste ano 159,9 milhões de pessoas físicas cadastradas.
Mas neste ano o ataque ao Pix pelo governo norte-americano aumentou. O presidente dos Estados Unidos Donald Trump com a desculpa de evitar evitar o julgamento por tentativa de golpe de Estado por parte de Jair Bolsonaro (PL), justificou o tarifaço de 50% em cima das exportações brasileiras, também a uma “prática comercial desleal”, segundo ele, por parte do Brasil, numa referência indireta ao uso do Pix. Os ataques ao Pix e à soberania brasileira têm sido apoiados pelo filho do ex-presidente, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) que está nos EUA e por parte de parlamentares da extrema direita.
Mas por quê Trump quer o fim do Pix?
Primeiro que hoje para usar o Pix como pagamento à vista, as pessoas físicas e Microempreendedores Individuais (MEIs) não pagam tarifas ou taxas adicionais. Já as empresas (pessoa jurídicas) pagam um percentual muito abaixo dos cartões – em média de 0,33% do valor da transação e, dependendo do banco podem ser isentas porque a cobrança é opcional. Uma transação via cartão de débito custa ao comerciante em média entre 1,23% e 2% e o de crédito entre 3% e 5%.
Essas facilidades e juros menores acabaram por diminuir consideravelmente o uso dos cartões pelos brasileiros levando as grandes instituições financeiras dos EUA a perderem espaço e milhões de dólares. Além disso o Pix começou a ser aceito em alguns estabelecimentos da América Latina e na França, o que pode tirar o poder do dólar na economia mundial.
A economista do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) Vivian Machado demonstra o quanto o PIX retirou de lucro das empresas norte-americanas. Ela conta que uma pesquisa da Federação Nacional dos Bancos (Febraban) mostra que a participação do cartão de crédito, mesmo nos meios de pagamento, tem caído.
“Em 2020, por exemplo, as transações feitas pelo cartão de crédito representavam 22% do total e hoje estão em 14%. O cartão de débito representava 25% das transações no ano passado e neste primeiro semestre de 2025 ficou em apenas 11%”, diz Vivian.
Já o Pix se consolidou como o meio de pagamento mais utilizado no Brasil, superando o cartão de débito e o dinheiro em espécie. A pesquisa do Banco Central mostra ainda que 76,4% da população utiliza o Pix, enquanto o cartão de débito é usado por 69,1% e o dinheiro em espécie por 68,9%.
Volume financeiro
O volume financeiro movimentado pelo Pix em 2024 atingiu a marca de R$ 26,455 trilhões, com 63,51 bilhões de operações. Isso representa um crescimento de 54% em relação ao ano anterior, quando foram movimentados R$ 17 trilhões, segundo o Banco Central.
Por sua vez, o volume financeiro das compras realizadas com cartões de crédito, débito e pré-pagos cresceram 10,9% em 2024, somando R$ 4,1 trilhões, de acordo com dados da ABECs, associação que representa a indústria de meios eletrônicos de pagamento.
“O ataque de Trump é por conta disso, exatamente porque embora o volume de transações via cartões tenha aumentado, percentualmente diminuiu e o Pix aumentou muito mais “, diz Vivian.
Uma conta hipotética mostra o quanto as empresas dos EUA estão perdendo com o PIX. Se calcularmos apenas R$ 1,00 por Pix dentre as 63,51 bilhões de transações feitas, os cartões de débito e crédito perderam a movimentação no ano passado de R$ 63,51 bilhões. Esta conta não calcula a possibilidade do uso de TED e outros meios de pagamentos. Ainda assim a perda financeira dos cartões norte-americanos é bilionária, o que para Trump é inadmissível.
Quem também perde com o Pix é a modalidade do WhatsAPP Pay da bigh tech Meta, da holding que controla também as redes sociais: Facebook, Instagram e Threads, de Mark Zuckerberg, já que os brasileiros não aderiram a esse tipo de pagamento.
Pagamento on-line por Pix cresce
Até 2030, seis a cada em 10 pagamentos (58%) realizados em lojas virtuais serão feitos via Pix em 2030, segundo relatório “The Global Payments Report 2025” (Relatório Global de Pagamentos 2025) da Worldpay, multinacional norte-americana que oferece serviços e tecnologias de pagamento.
Atualmente as vendas pelo e-commerce (compras on-line) pelo Pix representam 41% das transações realizadas pelos consumidores. Já em lojas físicas, esse percentual cai para 31%. Ainda assim somando crédito, débito e pré-pago os cartões seguem como formas de pagamento fundamentais no Brasil. Segundo o relatório da Worldpay, essas modalidades responderam por 39% do valor das transações no e-commerce em 2024. Só o cartão de crédito segue sendo muito utilizado em compras de maior valor, especialmente por conta do parcelamento.
“Mas as pessoas estão preferindo o pagamento via Pix, muitas vezes, sem precisar carregar mais cartão, e entre acionar o cartão eletronicamente e fazer o pagamento via Pix, é mais fácil pegar o QR Code de onde você vai fazer o pagamento ou dar a sua chave Pix para receber alguma transferência. Então, o Pix está sendo priorizado pelos custos e pela facilidade”, acrescenta Vivian.
Outra facilidade do uso do PIX, segundo a economista, é o fato dele funcionar 24 horas, os sete dias da semana.
“Se você está num restaurante num sábado, o comerciante não vai esperar até segunda-feira para compensar aquele pagamento que ele recebeu. Então, para ele, é vantagem ter a liquidez do Pix. É vantagem para os comerciantes, é vantagem pra quem usa, pra quem paga, porque a pessoa física não tem taxa, não tem tarifa pra fazer esse tipo de transferência”, ressalta Vivian.
Compras parceladas podem acirrar competição
As compras parceladas pelo PIX começarão a funcionar a partir de setembro, o que pode aumentar o uso desse sistema de pagamento pelos brasileiros, já que os juros aos consumidores e para as empresas serão muito menores do que os cobrados atualmente pelas instituições financeiras de cartões de crédito como Visa e Mastercard, além da facilidade de o valor cair imediatamente na conta de quem vende.
Outro benefício do Pix parcelado é a não necessidade de limite. Basta ter o valor das parcelas na conta mensalmente para o débito ser efetuado. Caso não haja saldo na conta, o valor será pago da mesma forma, submetido ao cheque especial.
“O Pix parcelado também vai ajudar a evitar fraudes praticadas com boletos falsos enviados por golpistas já que as empresas não precisarão mais emitir esses boletos”, entende a economista.
Essas facilidades e juros menores devem diminuir ainda mais o uso dos cartões pelos brasileiros levando as grandes instituições financeiras internacionais a perderem espaço no mercado e bilhões de dólares.
Com esses novos formatos de Pix haverá uma redução do uso de cartões. O que também é importante, porque a gente tem um endividamento muito grande no cartão, que tem a pior taxa de juros no Brasil. Então, o fato de reduzir o uso dos cartões é benéfico no sentido de buscar diminuir também o endividamento da população
Saiba como vai funcionar o Pix parcelado (informações do BC e G1)
O Pix parcelado surge como alternativa às taxas exorbitantes dos clientes bancários no cartão de crédito rotativo (acima de 15% ao mês) caso não paguem o valor total da fatura. Essa é a linha de crédito mais cara do mercado financeiro. Embora o parcelamento por meio do PIX já seja oferecido por várias instituições financeiras o BC vai padronizar as regras, o que tende a favorecer a competição entre os bancos.
O parcelamento deverá estar disponível para a população e para os lojistas a partir de setembro de 2025. Segundo o presidente do BC Gabriel Galípolo a nova modalidade beneficiará 60 milhões de pessoas que não tem acesso ao cartão de crédito.
Quem estiver recebendo terá acesso a todo o valor instantaneamente, mas quem estiver pagando poderá parcelá-lo.
O PIX parcelado possibilitará a tomada de crédito pelo comprador, em uma instituição financeira, preferencialmente com a qual já tenha relacionamento, para permitir o parcelamento de uma transação PIX.
A instituição onde o comprador detém a conta dará o crédito e definirá o processo em caso de atraso no pagamento das parcelas ou de inadimplência (juros), considerando seus procedimentos de gerenciamento de riscos, conforme o perfil do cliente como já acontece com outras linhas de crédito.
O Pix Parcelado poderá ser usado para qualquer tipo de transação, inclusive para transferências.
Prêmio Nobel de Economia elogia o Pix
O economista norte-americano Paul Krugman publicou um artigo nesta terça-feira (22) elogiando o sistema brasileiro de pagamentos Pix — sugerindo que o Brasil pode ter inventado o futuro do dinheiro. Krugman é vencedor do Prêmio Nobel de Economia em 2008 e é professor da Universidade da Cidade de Nova York.
No artigo, intitulado “O Brasil inventou o futuro do dinheiro?”, Krugman critica a posição de parlamentares republicanos (partido de Trump) que aprovaram lei que impede a criação de moedas digitais por bancos centrais (públicos), sob a alegação de preocupações com privacidade, mas que suas verdadeiras preocupações são que muitas pessoas optariam por ter moedas digitais do banco central, em vez de contas correntes em bancos privados.
O governo de Trump aprovou a lei do Genius Act que estabelece regras para o mercado de stablecoins, as criptomoedas com lastro em dólar norte-americano.
Para o economista, a nova lei norte-americana “abre caminho para futuras fraudes e crises financeiras”.
Carta em Defesa da Soberania Nacional será lançada dia 25, no Largo São Francisco
Jornalista: Letícia Sallorenzo
Carta será lida a partir das 11 horas, no Salão Nobre da Faculdade de Direito do Largo de São Francisco
O Comitê de Defesa da Soberania Nacional está convocando a população a participar do evento em que será lida na próxima sexta-feira (25), a partir das 11 horas da manhã, uma “Carta em Defesa da Soberania Nacional”, no Salão Nobre da Faculdade de Direito da USP/ Largo de São Francisco nº 95 – centro de São Paulo.
Devem participar entidades que reúnem juízes, promotores e defensores dos direitos humanos, além de sindicatos e movimentos sociais. O objetivo é o de prestar solidariedade ao Judiciário brasileiro e ao Ministério Público, também alvo do governo de Donald Trump, além de denunciar a interferência do presidente dos Estados Unidos nos assuntos internos do Brasil.
“Como uma instituição vigilante da defesa do Estado de Direito e formadora do pensamento jurídico do Brasil, a Faculdade de Direito da USP convoca esse ato para fortalecer os pilares democráticos do Brasil diante de ameaças à soberania nacional. Nenhum outro País tem autoridade para interferir no sistema de Justiça nacional. Muito menos, constranger decisões tomadas pelo Judiciário, por contrariar interesses de empresas estrangeiras”, acredita o diretor da Faculdade de Direito da USP Celso Campilongo.
No convite à população os organizadores declaram que “a soberania é o poder que um povo tem sobre si mesmo. Há mais de dois séculos o Brasil se tornou independente e governa o seu próprio destino. Como nação, expressamos nossa soberania democraticamente e apenas nos subordinamos à lei e à Constituição.
Os organizadores ressaltam ainda que “este é um grave momento, em que nossa soberania está sendo atacada de maneira vil e indecorosa, a sociedade civil, mais uma vez, se mobiliza na defesa da cidadania, das instituições constitucionais e dos interesses econômicos e sociais da Nação”.
Com estruturação, Brasil pode minimizar risco do tarifaço, diz economista do Dieese
Jornalista: Letícia Sallorenzo
Leandro Horie afirma que páis tem capacidade de responder imposições de Donald Trump se articular saídas
As entidades IndustriALL Brasil, CUT, Força Sindical e o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) apresentaram ao secretário de Desenvolvimento Industrial do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC) e secretário-executivo do Conselho Nacional de Desenvolvimento Industrial (CNDI), Uallace Moreira Lima, propostas para enfrentar a taxação de 50% sobre os produtos brasileiros exportados aos Estados Unidos. O encontro aconteceu na segunda-feira passada (14).
Entre as principais propostas está a criação imediata de um Grupo de Trabalho Interministerial com a participação de representantes do governo federal, representações empresariais do setor industrial e representações de trabalhadores e trabalhadoras, por meio das centrais sindicais, da IndustriALL Brasil e do Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (Dieese)
Além da criação do GT para enfrentar a taxação imposta pelo governo Donald Trump, o documento também traz um posicionamento sobre a indústria de transformação como pilar fundamental na estratégia nacional de desenvolvimento sustentável até 2033.
Na edição do Conversa Bem Viver, programa do Brasil de Fato, vamos conversar com o economista Leandro Horie do Dieese sobre o chamado “Tarifaço”, a taxação de 50% sobre os produtos brasileiros exportados para os Estados Unidos, anunciada pelo presidente Donald Trump; e a proposta de reindustrialização para o Brasil.
Confira entrevista na íntegra
É necessário que trabalhadores e trabalhadoras estejam envolvidos nesse debate sobre imposição de taxação? Essa proposta do GT é importante, em que sentido?
Tem dois aspectos básicos que a gente não pode deixar de salientar. O primeiro, mais direto, é que este tipo de acontecimento, no caso a taxação do Trump, vai ter um impacto que ainda não conseguimos mensurar, até porque o Trump tem feito muitas idas e vindas, não sabemos o que de fato vai sobrar no primeiro de agosto. Mas os trabalhadores e trabalhadoras vão ser muito afetados, caso essa tarifação os atinja em cheio. Eles vão ser o elo que vai sentir na pele. Então é muito importante que eles estejam incluídos nesse debate.
E o segundo aspecto, uma coisa mais ampla, é que na verdade os trabalhadores e trabalhadoras têm propostas, uma visão de mundo. Eu diria que no Brasil nos últimos sete, oito anos houve uma redução desse diálogo social muito grande. Um diálogo onde toda a sociedade, inclusive os trabalhadores, se viam representados dentro de um debate mais amplo sobre as questões mais evidentes de política e economia. Eu acho que a retomada desse GT é uma forma de resgatar também essa tradição.
Tem alguma relação desses sete, oito anos que você cita de determinada perda do debate social com esse momento político que está envolvido na taxação de 50%?
Tem relação direta porque na verdade reflete uma visão de mundo. É isso que a gente tem que ter em mente. Temos um arcabouço institucional construído dentro de diversos aspectos, no comércio internacional, na economia, nas relações internacionais e ele tem origem no pós-guerra.
Mas em geral, toda essa estrutura gerou institucionalidades que tem diferentes braços: econômico, relações internacionais, política, trabalho, saúde, etc. Donald Trump é a versão mais poderosa da tentativa de destruição desse arranjo de relação política. E o Bolsonaro é a nossa versão nacional desse arranjo.
E isso envolve a destruição completa desses canais de institucionalidade na sociedade que existe. Então seria uma consequência natural, uma pessoa como ele quando ascende ao poder, a primeira coisa que faz é cortar esses canais institucionais de relação da sociedade com os governos. Isso faz parte de uma projeto mais amplo de destruição.
Discutimos muito que essa tarifação do Donald Trump é reforçar esse aspecto, é destruir todo o arcabouço de economia internacional que existe desde os acordos de comércio no pós-Segunda Guerra. “Eu vou tarifar porque eu posso”. Essa foi a justificativa. Eu posso.
Não que eu seja defensor árduo do livre comércio, mas as leis do comércio existem para tentar dar um ordenamento sobre uma estrutura complexa de relações econômicas entre os países e o presidente de um dos principais países simplesmente fala: “Eu vou fazer o que der na minha cabeça”. Ou seja, na verdade, faz parte de um arranjo mais amplo de destruição dessa institucionalidade que envolve economia, relações internacionais, relações políticas e relações institucionais entre a sociedade.
Não é coincidência, faz parte de um projeto de concentração total de poder. E isso significa cortar esses canais de relação com a sociedade. Então os trabalhadores foram tolhidos do debate dentro dessa lógica.
Sobre a defesa de uma reindustrialização brasileira como projeto de desenvolvimento nacional, quais são as possibilidades que um Brasil desindustrializado tem diante de uma ameaça de taxação desse grande ator internacional que é os Estados Unidos?
É possível um país viver sem indústria, sem diversificação econômica? É, mas são países pequenos, que não tem uma população muito grande. Então uma população menor é muito mais fácil.
Com um país do tamanho geográfico e populacional como o Brasil é impossível, não existe na história e na literatura qualquer pesquisa do campo econômico ou social que aponte que esses países se desenvolvem sem indústria. Agora, desenvolver que tipo de indústria? Uma indústria diversificada.
Isso é um erro que não podemos cometer de achar que se desenvolvermos uma indústria de alta tecnologia, a gente resolve nosso problema. Não, temos que desenvolver toda a indústria, desde o insumo mais básico ao insumo mais sofisticado, porque dessa forma diminuímos a dependência externa.
Exportamos muitos produtos para os Estados Unidos, de menor conteúdo tecnológico, como café, óleo e petróleo. Mas um petróleo pesado, que recompramos refinado porque nós não temos capacidade de refino.
Então extraímos petróleo pesado e exportamos ele por um valor menor. E depois importamos esse mesmo petróleo refinado por um custo maior, gerando déficit.
Um segundo exemplo: Temos exportações relevantes para os Estados Unidos em aeronaves e máquinas. Mas a produção de insumos, de matéria-prima, principalmente as de maior valor agregado, a gente importa. Não produzimos aqui. Então, na verdade, a gente monta a lata, monta os instrumentos de navegação sofisticados e motor. O projeto é nosso, que é uma vantagem, mas a gente não produz. Então se a gente depende muito desse tipo de importação, se temos problemas de balanço comercial, a gente não consegue fazer.
Quando você não tem uma indústria diversificada que tem todas as gamas de tecnologia, seja da mais baixa à mais alta você fica dependendo de outro país de alguma forma.
Se você depende de outro país, você necessariamente precisa ter uma corrida desesperada por conseguir dinheiro externo, ou seja, recursos para fazer essas importações. E isso é a base de uma dependência tecnológica. Nós temos uma dependência tecnológica em certos aspectos com os Estados Unidos também.
Nós temos essa dependência tecnológica porque a nossa indústria empobreceu nos últimos 40 anos. Por isso que qualquer plano que foque em um desenvolvimento econômico que seja sustentável, inclusive ambientalmente, em termos de trabalho decente, envolve reindustrializar o país. Não há outro caminho. Diversificar a economia em torno do setor industrial é a única solução para um país como o nosso. Como nós vamos fazer? Isso é uma coisa que nós temos certeza que não é fácil. Agora, nós temos que fazer. E sem a participação do trabalhador e da trabalhadora é impossível fazer isso.
Qual é a reflexão que você faz sobre as possibilidades que o Brasil tem frente a essa ameaça de taxação de 50%, algo inédito na história das relações entre os dois países. Você vê uma oportunidade, uma chance do Brasil ter uma reação mais soberana de reafirmação? Que saídas nós temos de maneira estruturada?
O primeiro aspecto especificamente sobre essa taxação do Trump é que foi um ato contra a soberania do país. Isso não tem discussão, as pessoas não podem ter dúvidas em relação a isso.
Por isso que eu falo que Trump é o símbolo maior e o Bolsonaro é o projeto nacional da destruição de qualquer resquício de institucionalidade internacional que existe. É a lei do mais forte, que ele acredita que seja.
O segundo aspecto que também não pode ser descartado nessa discussão é a resposta dos próprios movimentos internacionais a esse totalitarismo do Trump.
No caso brasileiro, a articulação que ele tem tentado fazer via relações bilaterais com a União Europeia, com outro comércio sul-sul, o sul global e principalmente com os BRICS é uma resposta também.
Terceiro lugar, que o Trump também tem que ser visto um pouco como um negociador do setor privado meio fanfarrão, vamos dizer assim. Então ele puxa e estica a corda. Ele ameaça, depois volta atrás.
Por isso que eu falo que é difícil calcular agora, antes de 1º de agosto, o que vai acontecer de impacto de fato. E em termos de oportunidade, temos de curto, médio e longo prazo. A questão é saber exatamente como a gente trabalha. Uma coisa certa é que vamos ter que procurar outros mercados.
E isso o governo tem agido muito agilmente em relação a isso, já se reuniu com empresários, já se reuniu com os setores que exportam mais, vamos procurar caminhos para escoar parte dessa produção.
A outra coisa que acho que vai ter uma certa resistência do setor empresarial, mas vai ter que acontecer também é que parte dessa exportação pode ser escoada para o mercado interno. E isso vai significar o quê? Redução de preço de alimentos e de insumos.
Isso é uma coisa que é muito importante as pessoas fiscalizarem, porque naturalmente isso aconteceria, mas eu já li algumas declarações do setor do agronegócio falando que se fizer isso, eles terão um colapso de preços. E por fim, de médio e longo prazo, é uma possibilidade de tentar entrar numa discussão mais pesada sobre a questão da dependência tecnológica mesmo.
Isso envolve basicamente começar a reestimular setores que temos uma dependência tecnológica muito grande. Diante da desordem que o próprio Trump está provocando, também não podemos ser inocentes com a questão das patentes.
Tendência de consumo em favelas foge de estereótipo da pobreza extrema
Jornalista: Letícia Sallorenzo
19% têm como maior sonho melhores condições de moradia
Pesquisa realizada em favelas de todo o país analisou percepções sobre consumo, condições de vida e perspectivas dos moradores. Contrariando o estereótipo de que são espaços de pobreza, onde o próprio desejo pelo consumo enfrenta limitações, as respostas indicam um ambiente comercial pujante e alinhado às principais marcas e plataformas utilizadas no restante do país.
O estudo ouviu 16 mil pessoas, com atuação de mil voluntários ligados à Central Única das Favelas (Cufa), e metodologia do instituto de pesquisas Data Favela.
Entre as percepções, a de que 83% dos entrevistados preferem produtos que ao mesmo tempo sejam baratos, mas tenham qualidade; 85% se sentem realizados quando conseguem juntar recursos para comprar um produto de acesso mais difícil; e 78% se esforçam para adquirir produtos cujo acesso não foi possível quando eram mais jovens, o que denota uma percepção do consumo como conquista e do acesso como direito e pertencimento.
A sensação de frustração também foi investigada pela pesquisa. E mais: 50% dos entrevistados consideraram já ter passado por situação de constrangimento ou humilhação por não ter acesso a um produto, enquanto 62% se sentiram excluídos porque não têm condições financeiras de consumir um produto que está na moda.
Outro aspecto destacado pela pesquisa foi a percepção da importância dos cuidados com a aparência: 77% dos entrevistados disse se importar com a aparência, 57% consideraram produtos cosméticos como itens de primeira necessidade e 37% disseram que ter boa aparência é um elemento positivo para melhores condições profissionais.
Anseios
A pesquisa também buscou a percepção sobre quais os principais anseios dos moradores: 19% têm como maior sonho melhores condições de moradia e 18% mais acesso a hospitais e postos de saúde.
Outros 18% priorizaram mais segurança, enquanto 14% sonham com mais infraestrutura, como rede de esgoto e iluminação. O item Respeito para os moradores foi prioridade para 9% dos ouvidos, enquanto o item opções de lazer ficou com 7%; mais escolas com 5% e mais opções de transporte, 4%. Cinco por cento priorizaram outros sonhos e 1% não definiu nenhum desejo como prioritário.
Como a favela compra
O consumo on-line é realizado por seis em cada 10 moradores das favelas nas quais vivem no país cerca de 17 milhões de pessoas com mais de 18 anos em 8% dos lares do país.
As principais plataformas preferidas são Shopee, Mercado Livre e Shein, com 78% de menções como sites em que os moradores da região costumam comprar, com liderança considerável da primeira, usada por 40% dos entrevistados.
Quanto às intenções de compras em um intervalo de seis meses, 70% dos moradores de favelas pretendem adquirir peças de vestiário, 60% desejam comprar itens de beleza e perfumaria e 51% somente produtos de beleza. Material de construção está entre os desejos próximos de 51% dos entrevistados, mesmo número dos que têm pretensão de adquirir eletrodomésticos. Já 43% pretendem comprar eletrônicos, enquanto 43% sonham consumir cursos diversos e 29% cursos de idiomas.
A pesquisa apurou ainda dificuldades em compras on-line. E mais: 60% dos entrevistados relataram ocorrência de atrasos na entrega de encomendas, enquanto 20% não receberam encomendas, pois o endereço não foi encontrado. Metade dos entrevistados disse ter recebido mensagens ou e-mails fraudulentos sobre encomendas. Um terço dos ouvidos caiu em golpes de mensagens ou e-mails.
17ª Plenária Estatutária da CUT-SP debate estratégia de luta da classe trabalhadora
Jornalista: Letícia Sallorenzo
Evento nos dias 18 e 19 de julho em São Paulo debateu os principais desafios dos trabalhadores e traçou estratégias para os próximos meses, com participação de representantes de diversas categorias
A 17ª Plenária Estatutária da CUT-SP, que aconteceu nos dias 18 e 19 de julho, na capital paulista, reuniu sindicalistas de várias categorias do movimento sindical cutista, além de lideranças políticas para debater os desafios da classe trabalhadora e definir as estratégias de luta para os próximos meses.
Após dois dias de debate, foi aprovado um calendário de lutas que inclui mobilizações no estado de São Paulo contra o avanço das privatizações promovidas pelo governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), as reformas neoliberais, os impactos da Inteligência Artificial (IA) generativa no mundo do trabalho, a defesa da democracia, da soberania nacional e o fortalecimento do Plebiscito Popular 2025.
No primeiro dia do evento, o presidente nacional da CUT, Sérgio Nobre, participou do debate sobre a conjuntura política e o fortalecimento da luta dos trabalhadores e trabalhadoras. O dirigente destacou os desafios que a classe trabalhadora enfrenta no estado e no Brasil, especialmente diante das privatizações promovidas pelo governo estadual.
Sérgio destacou também a importância das eleições de 2026, que definirão rumos cruciais para os trabalhadores e ressaltou a necessidade de ampla divulgação das conquistas e políticas públicas implementadas pelo governo federal em São Paulo e no país. Além disso, reforçou o Plebiscito Popular como um instrumento essencial de participação popular e debate democrático.
Dirigentes sindicais de várias regiões do estado de São Paulo participaram da plenária, tanto presencialmente na sede da CUT, no bairro do Brás, quanto de forma virtual, por meio de uma plataforma online.
No último dia do evento – o sábado (20) – os participantes dedicaram a tarde de sábado à análise, discussão e votação das emendas ao plano de lutas da CUT-SP para o próximo período. Além disso, foram consolidados os encaminhamentos que representarão o estado na Plenária Nacional da CUT, marcada para outubro, reforçando a unidade e a construção coletiva das pautas da Central em todo o país.
O presidente da CUT-SP, Raimundo Suzart, destacou o alto engajamento dos participantes durante os dois dias de plenária. “Nossa pauta está diretamente ligada ao momento político do país. É fundamental reeleger o presidente Lula, mas sem mudar a composição do Congresso e reverter a atual correlação de forças, seguiremos enfrentando obstáculos para aprovar políticas em benefício dos trabalhadores”, alertou o dirigente.
Destacando a conjuntura nacional, a vice-presidenta da CUT-SP, Ivone, ressaltou que os países que mantêm relações comerciais com o Brasil devem respeitar as leis nacionais e a soberania do país.
Presença do ministro Luiz Marinho
Em seu discurso de encerramento, o ministro do Trabalho e Emprego, Luiz Marinho, destacou o papel estratégico de São Paulo – estado com maior fatia do Produto Interno Bruto (PIB) no desenvolvimento do país.
Marinho apresentou as principais iniciativas do governo Lula para geração de emprego e renda, fazendo um balanço entre os resultados já obtidos e os obstáculos que ainda precisam ser superados. O ministro defendeu a urgência de políticas públicas que assegurem inserção no mercado de trabalho com direitos garantidos.
“Nosso compromisso é com o trabalho digno, especialmente para a juventude, que precisa enxergar um futuro promissor no mundo do trabalho”, afirmou.
Homenagem a João Batista Gomes e João Nazareth
A 17ª Plenária Estatutária da CUT-SP foi marcada por homenagens a duas importantes lideranças sindicais que morreram este ano: João Batista Gomes (Joãozinho), falecido em 4 de abril de 2024, e João Nazareth, que nos deixou em 18 de julho deste ano. Ambos ocupavam posições de destaque nas diretorias da CUT Nacional e da Central em nível estadual, deixando um legado de lutas pelos direitos dos trabalhadores.
A mesa em homenagem a Joãozinho e João Nazareth contou com as presenças de Sérgio Nobre, presidente nacional da CUT, e Juvandia Moreira, vice-presidente da Central, além de lideranças sindicais como João Gabriel (Sindsep-SP), Nicinha Lopes (Fetam-SP) e Juliano Godoi (Sinpeem).
Os participantes compartilharam memórias e reflexões sobre a trajetória dos dois militantes, destacando seu legado de dedicação à causa trabalhista e à construção de uma sociedade mais justa.
No final do ato, foi apresentado um vídeo com imagens e um pouco da história de vida dos dois. Os familiares de Joãozinho e João Nazareth receberam uma placa de homenagem da CUT-SP e agradeceram as manifestações recebidas.