Professores do RS decretam greve até sexta-feira (4)
Jornalista: Leticia
Mais de 3 mil educadores lotaram a Praça da Matriz, em Porto Alegre, durante a Assembleia Geral do CPERS. Diante do Palácio Piratini, professores e funcionários de escola deram a resposta aos constantes parcelamentos de salários impostos pelo governo Sartori: greve até a próxima sexta-feira (04), quando será realizada nova Assembleia, às 13h30, em primeira chamada, e às 14h, em segunda chamada, na Praça da Matriz.
Até lá, a orientação do Sindicato é a de que sejam realizadas mobilizações por todo o Estado para denunciar o desrespeito do governo com os educadores e a educação pública.
“Sartori continua parcelando os nossos salários mesmo após a decisão do Tribunal de Justiça, que o proibiu de fazer isso. Age como um rei absolutista. Tem a cara de pau de querer que a gente peça licença para nos manifestarmos, comunicando com 30 dias de antecedência nossas ações. Nota-se que este governo não conhece o CPERS e seus aguerridos educadores. Nós fizemos a luta na ditadura, não é agora que vamos nos curvar”, afirmou a presidente do CPERS, Helenir Aguiar Schürer.
Categoria atendeu ao chamado do CPERS e lotou a Praça da Matriz
Logo após o anúncio do valor do depósito de R$ 650,00, equivalente a primeira parcela dos salários, na última sexta-feira (29), o Sindicato iniciou a mobilização dos educadores para a Assembleia Geral. A categoria respondeu e veio em massa para a Praça da Matriz. “Que baita orgulho dessa categoria. Em uma mobilização de apenas dois dias, estão aqui mais de 3 mil professores e funcionários de escola. Olhe bem este cenário, governador, e veja a força dos educadores gaúchos”, declarou Helenir.
A força da mobilização dos educadores fez com que a Assembleia Legislativa não realizasse nenhuma votação nesta terça-feira.
A partir desta quarta-feira (02), serão desenvolvidas atividades como passeatas luminosas, panfleteações, varal do contracheque, entre outras manifestações, para denunciar à população os ataques do governo Sartori e seus aliados contra os educadores gaúchos e a educação pública.
Confira as propostas de mobilização aprovadas:
1. Deflagrar greve, com a realização de nova Assembleia Geral, no dia 04 de agosto, às 13h30, na Praça da Matriz;
2. Realizar Audiência Pública contra a Criminalização dos Movimentos Sociais;
3. Definir como eixos de Luta:
3.1. Contra o Ajuste Fiscal: Reforma da Previdência e PECs que fazem parte do pacote de Maldades do Governo Sartori, para assegurar nenhum Direito a Menos;
3.2. Lei Kandir: Cobrar os 48 bilhões que o Governo Federal deve repassar ao RS;
3.3. Contra o parcelamento salarial;
3.4. Fora Temer/Fora Sartori.
4. Unificar a Luta com os municipários, na terça-feira (01/08/2017): caso não haja votação de PECs, na Assembleia Legislativa do Estado, participar do Ato dos Municípários, às 16h30min, em frente a Prefeitura Municipal;
5. Participar do Ato Público do Fórum em Defesa da Previdência, na terça-feira (01/08/2017), às 17h, na Esquina Democrática;
6. Realizar ações nas Câmara Municipais, para que os vereadores se posicionem em defesa dos trabalhadores e contra as políticas de retiradas de direitos dos governos Federal e Estadual;
7. Montar varal com contracheques, expondo os salários dos (as) professores (as) e funcionários (as), esclarecendo a população sobre o que representam os salários frente ao que é dado de incentivo fiscal (9 bilhões por ano) e sonegação (7 bilhões por ano) no Estado do Rio Grande do Sul;
8. Moção de solidariedade às professoras Katiele e Larissa, do município de Canoas, que foram colocadas à disposição por defenderem um aluno do 5º ano que foi agredido pela polícia dentro da Escola Davi Canabarro.
(do CPERS)
Educar é assumir um compromisso com a formação de um sujeito em sua integralidade, é trabalhar com a dimensão intelectual, mas também com a física, emocional, social e cultural. É considerar o estudante como o centro do processo de aprendizagem e partilhar a construção do conhecimento.
O Carta Educação selecionou cinco filmes disponíveis na Netflix para mostrar que, quando em diálogo com a realidade e comprometida com os estudantes, a Pedagogia tem um alto poder de transformação. 1. Preciosa – Uma história de Esperança (2009)
A jovem Claireece “Preciosa” Jones tem uma vida marcada por abusos. Grávida de seu próprio pai pela segunda vez, humilhada pela mãe, sem saber ler nem escrever, a jovem vê possibilidades de mudança ao ser transferida para uma escola alternativa e conhecer a professora Rain, que a ajuda no resgate de sua identidade e autoestima. Trailer aqui. 2. Escritores da Liberdade (2007)
Baseado em uma história real, o filme conta a história da novata professora Erin Grunwell, que chega a uma escola marcada por separatismos e preconceitos raciais. Obstinada a mudar a realidade da escola e de seus estudantes, a docente parte das histórias dos jovens para promover transformação. Trailer aqui. 3. A Voz do Coração (2003)
O professor Clément Mathieu assume a missão de ensinar música a crianças de um pensionato. Contrariando os métodos rígidos utilizados para conter as crianças indisciplinadas, o professor estrutura um coral e modifica as relações existentes. 4. O Sorriso de Monalisa (2003)
A recém-formada Katherine Watson é contratada para lecionar História da Arte na Wellesley College, uma escola só para mulheres. Além de lecionar, a educadora começa a confrontar os valores conservadores da instituição e a mostrar às suas alunas, de famílias tradicionais, que elas poderiam querer mais do que se casar no futuro. Trailer aqui. 5. O Aluno (2010)
O filme reconta a história de Kimani Maruge Ng’ang’a, um queniano que foi preso e torturado por lutar pela liberdade de seu país. Aos 84 anos, quando soube de um programa governamental de escolas para todos, Maruge se candidata a uma escola primária que atende crianças de seis anos de idade. Sua entrada acontece graças ao apoio de uma das professoras e ele também se torna um grande educador. Trailer aqui.
(da Carta Educação)
“Isso aqui é uma aula pública”, anuncia Paulo Roberto Magalhães, professor de geografia da Escola Municipal de Ensino Fundamental Duque de Caxias, localizada no Glicério. “E aulas públicas são aquelas que a comunidade pode participar.”
Há pelo menos seis anos, o docente da rede municipal paulistana repete essa introdução a cada aula que promove no território que cerca a escola. Ali, não há lugar que não possa ser aproveitado para promover a aprendizagem: desde a Vila Suíça, centenário local de origem operária, às escadarias da rua Anita Ferraz, considerada a primeira rua de brincar da capital paulista, passando ainda pela Paróquia Nossa Senhora da Paz, conhecida por receber centenas de migrantes e refugiados que diariamente desembarcam em São Paulo.
Em 2011, ano do surgimento do projeto – hoje reconhecido tanto dentro como fora da escola –, o bairro não estava preparado para receber os estudantes em seus espaços comuns. “Naquela época, moradores e trabalhadores do Glicério não entendiam o que a gente estava fazendo. Não deixavam tirar fotos e nem se dispunham a contar histórias. Hoje, a aceitação aumentou, e quebramos uma armadura muito grande, pois a população não só está mais receptiva a tudo isso como ajuda a promover a Aula Pública”, afirma Magalhães.
Ele credita a mudança na percepção da comunidade ao coletivo Criança Fala, “que veio para colorir o bairro, botar as crianças no espaço público e conversar com a população local”. Alguns integrantes do coletivo sugeriram ao docente promover um espaço educativo fora da sala de aula, e ele não titubeou: três dias depois, acontecia a primeira Aula Pública do Glicério.
O ambição do projeto de Magalhães foi tão longe que lhe rendeu o Prêmio Territórios Educativos, concebido pelo Instituto Tomie Ohtake para reconhecer e fortalecer experiências pedagógicas que explorem oportunidades do território onde a escola está inserida, e a indicação como finalista deste ano do Prêmio Educador Nota 10, cuja lista foi divulgada na sexta-feira (29).
A iniciativa também tem boa repercussão dentro da rede: outras escolas já participaram da atividade e professores estão buscando insumos para replicar o método.
Entenda quais caminhos são necessários para que uma aula pública aconteça no território da escola, segundo Paulo Magalhães e o diretor da EMEF Duque de Caxias, José Mário Britto: 1 – Prepare materiais, logística e o território
O professor que tem interesse em realizar uma aula fora da sala, envolvendo tanto alunos quanto a comunidade local, deve se preparar para isso. Além de um trabalho prévio em sala de aula, Magalhães busca conteúdos formativos muito além dos materiais didáticos: pesquisa teses de mestrado e doutorado sobre os temas que irá tratar em público.
Tais temas, aliás, surgem naturalmente a partir da interação e diálogo com os alunos. “Os assuntos que eles demonstram interesse são os temas que priorizo para a Aula Pública. Após aprofundar o tema em sala de aula, levo a turma para o espaço público, para que conheçam um pouco daquela realidade.”
O docente deve entregar para a coordenação da escola o roteiro da saída pelo bairro, detalhando os espaços que serão ocupados, os conteúdos, as autorizações dos pais e a linguagem que será utilizada.
No território, Magalhães costuma visitar os locais com antecedência, conversando com moradores e buscando introduzir temas que serão trabalhados durante a Aula Pública. “A preparação deve ser interna e externa. Por isso, demanda-se um tempo que não apenas o da aula.” 2 – Faça um pacto com os estudantes
As crianças devem ter autorização dos pais para circular no espaço público. Estarem todos uniformizados ajuda na organização coletiva. É preciso enfatizar que as ruas só podem ser atravessadas na faixa e quando os veículos estiverem totalmente parados. E, claro, que haja respeito com as pessoas que estejam por ali.
“Nesse sentido, a criação de uma rede ajuda bastante: envolvimento familiar, com pais e avós participando desse momento; envolvimento escolar, com outros professores e funcionários ajudando a organizar; e envolvimento comunitário, com parcerias previamente acertadas com espaços do bairro.”
Magalhães reforça o papel do diálogo na criação da Aula Pública, já que ele é capaz de estabelecer e pactuar os códigos e regras que serão levados tanto pelo professor, quanto pelos estudantes, para a rua, um espaço repleto de estímulos e dinâmicas distintas às da sala de aula.
“Não precisa ser metódico, mas é necessário planejar bem, não deixar coisas para a última hora. Quando se estiver na rua, tem que estar preparado para tudo. Por incrível que pareça, os imprevistos que aconteceram até agora foram sempre positivos. A comunidade está ali para somar”, afirma o professor. 3 – Busque parcerias com a comunidade
“A escola tem que ser um reflexo da comunidade”, aponta o diretor da EMEF, José Mario Britto. “Queremos que todos os professores iniciem esse movimento de explorar o bairro. Afinal, nossas crianças sabem transitar pelo público. E o nosso incentivo é para que as pessoas pensem o bairro como a escola, sem ficarem presas à sala de aula.”
Com a aprovação da diretoria, o professor deve buscar parcerias com a comunidade, para evitar que a escola fique “ilhada” no território. “Quando entrei na direção, fui para a rua conhecer os moradores locais, os comerciantes, os trabalhadores. Agora, vamos trazer movimentos comunitários para dentro da escola, como atividades do Mês do Hip Hop e o Cineclube.” A ideia, por fim, é fazer com que a escola e o bairro se misturem cada vez mais.
Para Magalhães, este movimento transforma não apenas a escola, mas também a comunidade. “Muitos dos participantes da aula pública são moradores locais. Eles acompanham a atividade porque querem aprender mais sobre o local onde vivem.” 4 – Envolva a comunidade escolar nas aulas
Não basta somente o apoio da direção. Quanto mais professores envolvidos na Aula Pública, melhor. “Todas as áreas do conhecimento contam com a possibilidade de relacionarem seu conteúdo com o espaço público”, defende José Mario Britto. “Nossa ideia é criar uma abordagem interdisciplinar para a Aula Pública.”
De acordo com Magalhães, foram levantadas mais de 20 possíveis aulas públicas entre os docentes da EMEF. “Alguns estão dando seus primeiros passos em público. A atividade se tornou um evento mensal e já tem vários professores que estão me procurando para replicar a metodologia.” 5 – Articule sua aula com o currículo
Britto é enfático ao afirmar que o currículo formal não ajuda as crianças e jovens em nada. “Ele cria para nós, educadores e gestores, uma batalha que não conseguimos vencer: de tentar prender os estudantes nesses espaços escolares”, observa.
“A Lei de Diretrizes e Bases nos dá autonomia pedagógica, financeira e legislativa. Dentro da nossa relativa autonomia, podemos implementar um projeto de escola diferente, que tenha a cara da escola e do bairro.”
Durante uma aula pública, os saberes são produzidos durante a própria dinâmica de troca de conhecimento entre os presentes. “O que importa é haver um conteúdo significativo. Quem disse que sistematizar o conhecimento é apenas colocar conteúdo no papel? Os alunos não vão revelar os saberes só na escrita, nem todos tem essa capacidade de síntese no papel. Saberes são construídos também na observação e na experiência.” 6 – Tenha coragem e humildade
Magalhães ressalta dois aspectos fundamentais para o docente que tenha interesse em levar suas turmas para aprender no território: coragem e humildade. “É preciso coragem para sair na rua, encarar a realidade, subir no degrau de uma escada e falar com as pessoas, sensibilizando não apenas os alunos mas quem estiver passando por ali. E a humildade é importante para o professor sair do pedestal e se equiparar com o morador de rua, o dono do bar, o taxista, uma mãe. A aula não é só para as crianças, mas também para a comunidade.” 7 – Peça que alunos registrem seus percursos
Durante as atividades, Magalhães costuma pedir para que seus alunos registrem o que estão sentindo naquele momento, seja através de vídeos de celular, depoimentos orais ou desenhos. “Já em sala de aula, comentamos sobre aspectos positivos que aconteceram, um bate-papo sobre as dificuldades que surgiram. Deixo eles bem à vontade, pergunto o que pode melhorar da próxima vez.”
(da Plataforma Cidades Educadoras )
"A concentração midiática conspira contra as democracias", diz jornalista argentina
Jornalista: Leticia
“A América Latina é a região de maior concentração midiática do mundo. Essa alta concentração impõe uma mídia sem pluralidade de vozes e diversidade, e atenta contra a democracia”. A afirmação é da jornalista e professora argentina Cynthia Ottaviano, que esteve, durante quatro anos, à frente da Defensoria Pública de Serviços de Comunicação Audiovisual do país, criada em 2012 no âmbito da Lei de Serviços de Comunicação Audiovisual. A conhecida “Lei de Meios”, da qual a Argentina é modelo, está ameaçada com o governo do presidente Maurício Macri.
A Defensoria tem o papel de monitorar os serviços prestados por empresas de comunicação públicas e privadas, com ou sem fins lucrativos. Entre os anos de 2012 e 2014, recebeu mais de 1.300 denúncias e obteve 70% de resoluções positivas sobre estas queixas. A maioria das denúncias tratava sobre conteúdos discriminatórios.
“Em uma sociedade midiatizada e mediada, como a que vivemos, se os meios de comunicação estão em poucas mãos, se tem informação cega e faz com que as pessoas tomem decisões equivocadas”, destaca Ottaviano, que esteve no Brasil durante o 3º Encontro Nacional pelo Direito à Comunicação, realizado pelo Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação (FNDC), no final de maio, em Brasília (DF).
Nesta entrevista ao Brasil de Fato, Cynthia Ottaviano fala sobre democracia, concentração midiática e sobre a importância da luta pela democratização da comunicação. “Ao contrário do que se pensa, em períodos de crise econômica e de crise política, quando o dinheiro aparece como o mais relevante – porque as pessoas estão preocupadas em sobreviver – a comunicação tem ainda mais relevância, porque não se pode ter acesso aos nossos direitos se não através da informação”, destaca. Confira a entrevista.
Brasil de Fato: Por que falar de Direito Humano à Comunicação ainda é algo tão incomum na sociedade? Cynthia Ottaviano: Existe um ponto chave que é: ninguém reclama um direito que não conhece, e, portanto, ninguém o defende e nem o ensina. Então, é muito importante difundir o direito humano à comunicação, que quer dizer ter o direito a dar e a receber informação, a buscá-la, a investigar e a difundi-la como pessoa individual, mas também como coletivo.
É dizer que posso acessar as informações e as opiniões das demais pessoas, mas que também tenho o direito a reclamar quando se viola o direito humano à comunicação. Então o direito humano à comunicação tem a pessoa no centro da cena e não o empresário da comunicação, que tem, por exemplo, a liberdade de empresa e que logo essa se transformou em liberdade de imprensa, confundindo-a. Disfarçam a liberdade de empresa recobrindo com a liberdade de imprensa, que tampouco está centrada no jornalismo.
Portanto, o centro do direito humano à comunicação é ocupado por todas as pessoas em igualdade de condições, não importa se têm dinheiro ou não, não importa em que lugar geográfico vivem, não importa o que pensem. É essencial que possam buscar informação e difundi-la, mas também que possam participar sobre outras informações quando, por exemplo, são inexatas ou agravantes. O direito humano a comunicação está constituído pelo acesso a informação, pelo direito a retificação e resposta, e, pela liberdade de expressão.
Toda informação é pública; pode ser de gestão privada, estatal ou universitária, com ou sem fins lucrativos. Mas a comunicação, enquanto um direito humano, é publica, não é propriedade de ninguém. O que acontece é que os históricos donos dos meios se acham donos da comunicação – quando falamos de radiodifusão tampouco são donos porque as licenças são nossas, se outorgam em determinadas condições e com determinadas obrigações. A radiodifusão diz respeito a todos, no meu ponto de vista não importa o suporte da comunicação, se por internet, rádio, telefone, televisão é de todos e é um direito humano.
Assim, as democracias se constituem, respiram através do direito humano à comunicação. Por quê? Porque em uma sociedade midiatizada e mediada, como a que vivemos, não se pode ter uma informação a não ser através de todos os meios de comunicação; se os meios de comunicação estão em poucas mãos, se tem informação cega e faz com que as pessoas tomem decisões equivocadas. Então para vivenciar a democracia se requer um acesso igualitário, universal ao direito humano à comunicação, com acesso a informação plural e diversa, que permitam formar opiniões e tomar decisões, opiniões livres.
Ao contrário do que se pensa, em períodos de crises econômicas e de crises políticas onde o dinheiro aparece como o mais relevante – porque as pessoas estão preocupadas em sobreviver – a comunicação tem ainda mais relevância, porque não se pode ter acesso aos nossos direitos se não através da informação. A concentração midiática é um dos graves problemas para a realização do direito humano à comunicação. Quais são os efeitos disso para a sociedade?
A concentração midiática conspira contra as democracias, porque justamente se apropria do que é de todos, gera privilégios e não direitos e nessa apropriação exclui a maioria das pessoas. A comunicação concentrada significa um poder na construção da subjetividade, eliminando algumas e privilegiando outras. Faz com que o contrato social se veja quebrado. O contrato social significa igualdade na participação e igualdade no acesso. Quando existem uns poucos que decidem isso não é uma verdadeira democracia.
A comunicação concentrada gera pensamento único e uma lógica de produção de como se fazer comunicação do que é ou não é, constrói sentidos, subjetividades de forma positiva e de forma negativa; gera uma agenda temática com censura empresarial e restringe a possibilidade da diversidade e da pluralidade. Então as consequências são sempre verdadeiros fatores de disciplinamento social.
A concentração dos meios de comunicação é também um verdadeiro fato de pressão para que não se regulem as comunicações, porque pretendem uma auto-regulação associada ao livre mercado. A comunicação concentrada não tem limites. Limites temos nós, as pessoas que não fazem parte dessa comunicação. Você também disse que um dos efeitos dessa concentração midiática é que os veículos atuam como verdadeiros cartéis da informação…
Se cartelizam porque o que fazem é disfarçar os interesses ideológicos, políticos e econômicos com a liberdade de expressão. Gera uma confusão social na qual fazem passar os interesses de todos e de todas pelos interesses individuais. Quando se expressam sobre governos não se expressam verdadeiramente sobre as políticas públicas, se expressam sobre se o governo funciona ou não aos seus próprios interesses, isso é uma desvirtuação. Na verdade não existe liberdade de imprensa, o que existe mesmo é só liberdade de empresa, esse é o problema da comunicação concentrada.
No meu ponto de vista, pela experiência na Argentina, não fazer frente à desmonopolização é o que produz sérias consequências aos poderes políticos, econômicos e ao poder judiciário – uma vez que somamos, fortalecemos e promovemos a comunicação alternativa, popular e democrática. O fator que hoje vivenciamos, com muita dureza, é a aliança dos poderes tradicionais excluindo o poder popular, nesse sistema que termina sendo conspirador contra as democracias porque é controlado por uns poucos.
Nesta conjuntura política da América Latina, é possível traçar similaridades, principalmente quando se aponta os retrocessos sociais, entre Brasil e Argentina?
Existe uma diferença entre os processos de Argentina e Brasil e é que na Argentina a direita chegou ao poder com os votos, com pouca diferença 51% contra 49%, mas uma diferença suficiente dentro da democracia para poder governar hoje o destino do país.
O problema que temos e que é similar ao do Brasil, é que uma elite dominante, quer dizer, o poder governamental é o mesmo poder econômico financeiro, que, por sua vez, tem aliança com o poder judiciário. Isso tem produzido no meu país grande repressão dos protestos sociais, com violência institucional – quer dizer o poder do Estado posto a calar as manifestações, as greves e as mobilizações, e, ao mesmo tempo, silenciadas pela comunicação concentrada, se olhar para os meios de comunicação nem saberá que existe manifestações.
Por outra parte, as forças de segurança estão entrando nas universidades, nas escolas – como nunca antes havia passado – nem na época da ditadura em Argentina – e exigem listas de quem são as pessoas que participam dos movimentos sociais, que organizam e que fazem luta popular, existe perseguição ideológica, não poder trabalhar livremente nos meios de comunicação, existe perseguição sindical, perseguem a organização dos trabalhadores e trabalhadoras. E toda essa realidade tem se recrudescido ainda mais. Por exemplo, o poder judicial e a força de segurança estão habilitados para confiscar equipamentos de comunicação alternativa popular e prender pessoas; hoje temos presos políticos na Argentina.
Toda essa situação tem muitos traços de semelhança com o processo que está se vivendo no Brasil, com as diferenças que assinalei antes, de que a Argentina segue um processo democrático em vigência, mas com mecanismos que vão debilitando a participação cidadã e democrática.
E neste cenário, é possível ter esperança?
Para responder tenho que contar uma historinha curta que reflete na esperança. Evita Perón foi uma líder política na Argentina que transcendeu [na história]. Em um edifício em que ela trabalhava no meu país, no meio da avenida mais importante de Buenos Aires tem uma escultura dela, como a de Che Guevara na praça de Cuba, essa escultura estava iluminada, o governo anterior a iluminava para ressaltar a figura de Evita, esse governo atual nem bem assumiu e retirou a iluminação.
Um dia estava voltando da universidade e a vejo a escultura iluminada. Fiquei surpresa porque não era luz que saía da escultura, era uma luz que vinha de outro edifício à frente, essa luz era de um refletor gigante colocado pela Federação dos Trabalhadores. Então, quando o governo apaga, só os trabalhadores e trabalhadoras, só o povo é quem acende.
Assim, claro que tenho esperança. Essa é a nossa missão como povo, acender e iluminar o que eles querem apagar, aquilo que querem extinguir. As coisas não são assim, as coisas estão assim e é preciso transformá-las.
342 Agora, o movimento virtual contra Temer que sonha em acordar as ruas
Jornalista: Leticia
Antes mesmo da vitória do presidente Michel Temer na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara na última quinta-feira, um grupo de artistas já mirava o passo seguinte: a votação no plenário da Casa, onde 342 votos são necessários para que a denúncia de corrupção contra Temer seja aceita, e de fato o Supremo Tribunal Federal possa decidir ou não tirar-lhe do cargo. Nas redes sociais, o movimento 342 Agora, liderado por vários artistas, tenta furar a polarização ideológica PT e anti-PT e reavivar uma mobilização que ainda não existe nas ruas, apesar da baixíssima aprovação popular do presidente. Fazem parte do movimento, por exemplo, tanto o ator Marcelo Serrado, que se posicionou a favor do impeachment de Dilma Rousseff e fez campanhas na rede no ano passado pela sua queda, como o músico Tico Santa Cruz, identificado com a esquerda, e que na ocasião buscou denunciar o golpe e pede por “Diretas já”. Mas tem também Caetano Veloso, Marisa Monte, e outros famosos globais, como Adriana Esteves, ou Fabio Assunção.
O “Fora, Temer” virou o ponto de concordância que tenta fazer ebulição até 2 de agosto, para quando está marcada a votação decisiva. “Sempre que os artistas se mobilizam, a repercussão nas redes é grande. Mas a internet, apesar de conseguir cultivar uma ideia entre a audiência, não é capaz por si só de transformar isso em manifestações de rua“, diz Fábio Malini, professor da Universidade Federal do Espírito Santo e coordenador do Laboratório de estudos sobre Internet e Cultura (LABIC). “Nem direita e nem esquerda conseguem dialogar com conjunto da população, que nega esse sistema político. Por isso há esvaziamento nas ruas. A população não quer fazer papel de isca, de bobo, e legitimar candidato A ou B. Sabe que em determinada manifestação podem pedir a volta do Lula ou querer entregar o poder para outra pessoa”.
Os artistas começaram a se unir em torno do “Fora, Temer” no final de maio, quando muitos deles se apresentaram na praia de Copacabana e pediram por “Diretas Já”. Depois, houve também ato em São Paulo. Paula Lavigne – dona da Uns Produções e Filmes, que gerencia a carreira de Caetano Veloso e Teresa Cristina, entre outros – transformou seu apartamento em uma espécie de QG das “Diretas Já”, num movimento ao que também se engajaram o deputado Alessandro Molon (REDE), o senador Randolfe Rodrigues (REDE) e o deputado estadual Marcelo Freixo (PSOL). Lavigne chegou a dizer que o encontro foi feito para “acima de tudo para sinalizar a sociedade que precisamos deixar esse racha ideológico de lado e voltarmos a conversar de forma respeitosa para pensamento junto o Brasil que queremos”.
Apesar da natureza pretensamente supraideológica, foram os movimentos mais à esquerda que abraçaram a mobilização. Ao entrar no site 342agora.org.br, criado pela Mídia Ninja, um órgão claramente alinhado à esquerda, o usuário se depara com o placar dos deputados que são a favor da investigação, que são contra e que estão indecisos. Algo semelhante havia sido feito durante o impeachment por grupos à direita. Clicando no nome do parlamentar é possível enviar mensagens para ele ou ela através do e-mail, Facebook, Twitter, entre outros canais. No site estão dezenas de pequenos vídeos nos quais os artistas pedem: “Vamos pressionar para que os deputados aceitem a denúncia contra Temer”. Caetano Veloso, Glória Pires, Martinho da Vila, Karol Conka, Wagner Moura, Criolo, Adriana Esteves e Maria Padilha são alguns dos muitos que deixaram suas mensagens.
Segundo postou a empresária Paula Lavigne, articuladora do movimento e companheira de Caetano Veloso, nas primeiras três horas online o site teve 250.000 acessos, 500.000 e-mails enviados a congressistas e um alcance de 10 milhões de usuários. Malini, do LABIC, explica não ser possível medir o desempenho no Instagram, onde os artistas costumam ter muita mais influência. Uma postagem de Marisa Monte sobre o 342 Agora teve, por exemplo, 8.011 curtidas até 17h40 desta quarta-feira. “Os artistas chegam à públicos que os movimentos não chegaram. Geralmente, muitos dos que seguem as celebridades não são apegados a temas políticos e estão fora a bolha ideológica”, argumenta Malini. Tudo isso ocorre em um momento no qual Temer balança no cargo, com o PSDB dando sinais de que vai sair da base do Governo e classe política se reunindo em torno da figura do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ). Também em um contexto de “aquecimento da esquerda, algo que inclusive o Datafolha reflete”, segundo Malini. A direita, explica o especialista, vem se mobilizando menos nas redes e o único tema que mais figura nas redes é “Bolsonaro 2018”. “A esquerda ainda tem uma hegemonia do PT, mas não tem a característica de criar uma central de mobilização nas redes sociais. Os movimentos da esquerda e as pautas são muito diversificadas, e a capacidade de influência é policentrada. Já a direita busca se afirmar como ser direita, algo muito novo. É uma relação é diferente. O MBL [Movimento Brasil Livre] e o Vem pra Rua têm hoje características de partido político”, explica o pesquisador sobre ciências de dados.
Para Aldo Fornazieri, 'convulsão social já está ocorrendo'
Jornalista: Leticia
Em meio à maior crise política de sua história recente, o Brasil espera o fim do recesso parlamentar para conhecer a decisão, pelo plenário da Câmara dos Deputados, sobre o futuro de Michel Temer. A votação que pode ou não autorizar o Supremo Tribunal Federal a dar prosseguimento ao processo está prevista para o dia 2 de agosto, quando o peemedebista precisará de 172 votos para evitar esse desfecho e, na prática, o fim de seu governo.
Enquanto isso, na opinião de Aldo Fornazieri, professor de Filosofia Política da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (Fespsp), o país já vive uma convulsão social. “Na verdade, a convulsão social está ocorrendo, mas não pela via política. Está ocorrendo na guerra civil no Rio de Janeiro, com a violência espalhada pelo país e a quebradeira geral dos serviços brasileiros pelo governo”, diz.
Para ele, o problema é que Temer até o momento tem sido bem sucedido em suas manobras e articulações para se manter no poder. “Do ponto de vista político não acontece nada. A esquerda está acomodada, o Lula é condenado e não vimos ainda manifestações contra a condenação. Por esse caminho não acredito em convulsão social.” A apelação do ex-presidente Lula da sentença do juiz Sergio Moro, que o condenou a 9 anos e 6 meses de prisão, será julgada pelo Tribunal Regional Federal da 4ª Região, em data ainda imprevisível.
Na opinião de Fornazieri, Temer tem “grandes chances” de se salvar. “Ele está fazendo um jogo pesado para isso. Está dando uma aula de como os profissionais de uma quadrilha reagem com força para se manter no poder, gastando bilhões do dinheiro público. Não vejo mobilizações suficientes para tirar Temer do governo”, afirma Fornazieri.
Ele acredita que as manifestações dia 20 precisarão ser grandes para configurar um contraponto popular à mobilização parlamentar e articulação política do grupo palaciano. “Qual vai ser o tamanho e o alcance dessas manifestações? Até hoje as manifestações da esquerda na Paulista não passaram de piqueniques cívicos”, diz Fornazieri. Em sua opinião, as mobilizações teriam que envolver muito mais gente do que a militância organizada que faz parte das estruturas dos partidos e sindicatos.
Para se manter no poder, o presidente “está quebrando o país mais do que já está quebrado”. “E não se vê uma contrapartida das oposições nas ruas. As oposições são minoria no Congresso, mas estão se submetendo ao jogo puramente parlamentar, enquanto no contexto do golpe e do impeachment da Dilma foram mobilizadas milhões de pessoas nas ruas”, afirma ainda o professor.
Na quinta-feira (13), a Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania (CCJ) da Câmara rejeitou, por 40 votos a 25, o relatório do deputado Sergio Zveiter (PMDB-RJ), favorável à autorização para abertura do processo contra Temer no STF.
Segundo a ONG Contas Abertas, o governo federal liberou em junho R$ 134 milhões em emendas parlamentares a 36 dos 40 deputados que votaram a favor de Temer na CCJ.
Para Antônio Augusto de Queiroz, diretor de Documentação do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap), os cenários na atual conjuntura são basicamente três:“a) renúncia, por exaustão do governo; b) a cassação, por decisão do STF, após autorização da Câmara dos Deputados; e c) a Sarneyzação do governo, ou a imagem do “pato manco”, com a equipe econômica e o Congresso fazendo o feijão com arroz, sem qualquer reforma relevante”. Na opinião do analista, o primeiro cenário “é realista, o segundo pessimista e o terceiro otimista”.
(da Rede Brasil Atual)
Ação popular por anulação do golpe avança com Lula e Chico Buarque
Jornalista: Leticia
A ação popular em favor da anulação do impeachment da presidenta Dilma Rousseff avança com a assinatura de trabalhadores, estudantes, artistas, intelectuais e ganha força com a adesão de nomes de peso dentro e fora do cenário político. Depois da presidenta nacional do PT, Gleisi Hoffmann (PR), e do senador Lindbergh Farias (RJ), que assinaram no último dia 5, ocasião da posse da senadora como dirigente nacional do PT, foi a vez do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Lula assinou na noite da última segunda-feira (10), em lançamento da segunda fase do Memorial da Democracia, em Belo Horizonte. “Não conseguimos falar diretamente com o presidente, mas o Paulo Okamoto se prontificou a levar a ficha até ele, que assinou”, conta a compositora e ativista digital Malu Aires, da coordenação do comitê em Belo Horizonte.
De acordo com ela, é cada vez maior o engajamento na ação popular. “Muita gente que nem conhecemos está espalhando as fichas, coletando assinaturas. E não se trata de um simples abaixo-assinado. É uma ação popular que tem força legal. Anular o impeachment significa trazer de volta a credibilidade ao ato de votar, porque o povo votou e rasgaram seu voto ao afastar a presidenta eleita democraticamente sem crime de responsabilidade”, diz.
Malu destaca que depende do Supremo Tribunal Federal (STF) trazer de volta a legalidade democrática e o equilíbrio das instituições. “Aí sim a gente pode confiar que as próximas eleições serão respeitadas. Caso contrário, como confiar em uma eleição se houve impeachment sem legalidade democrática, o que dirá dentro de um golpe de Estado? Só a volta de Dilma para caracterizar que o governo Temer é usurpador e poder revogar todas as medidas aprovadas em seu governo”, pondera. “Claro que não é algo automático, mas a partir daí podemos questionar tudo judicialmente”.
O músico Damu Silva, da coordenação do comitê do Rio de Janeiro, também destaca o envolvimento da população. “As pessoas formam fila diante da nossa tenda na Candelária para assinar a ação. São pessoas de todas as classes sociais, trabalhadores, gente quer dar sua contribuição. Muitas até dizem que não votaram em Dilma, mas entendem que ela tem de voltar”, diz.
Damu, que aproveitou um evento para pegar a assinatura do ex-ministro e ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad, conta que a ex-ministra da Cultura de Dilma, Ana de Hollanda, logo que soube da ação entrou em contato. “E apareceu com mais de cem assinaturas, inclusive do irmão Chico Buarque, da ex-cunhada Marieta Severo e tantos outros artistas”. O vereador de São Paulo Eduardo Suplicy (PT) também assinou a ação.
Fernanda Pieruzzi, do comitê de Brasília, conta que a anulação do impeachment chegou a ser discutida no congresso do PT realizado no início de junho, em Brasília. E que foi aprovada moção de apoio a iniciativas como a ação popular. “Em ato contra a votação da reforma trabalhista no Senado, companheiros anunciaram dos carros de som a coleta de assinaturas”, conta.
Por mais remota que pareça a possibilidade de o STF anular o impeachment, Fernanda pensa diferente. “Os ministros ainda não se pronunciaram. Seria diferente se julgassem improcedente. Além disso, muitas pessoas ainda desconhecem essa alternativa do mandado de segurança. E Dilma viaja o mundo denunciando o golpe, tendo dito até não se sentir aliviada porque ainda é presidenta. E voltando, ela pode pedir as eleições diretas. Uma coisa não anula a outra”, destaca.
Lançada no dia nacional de paralisação convocado pelas centrais sindicais e pelos movimentos sociais, no último dia 30, a ação popular pretende reunir 1,3 milhão de assinaturas para pressionar o Supremo Tribunal Federal a anular o impeachment.
Com comitês em diversas capitais, o Movimento Nacional pela Anulação do Impeachment contesta o mérito do processo que depôs Dilma mesmo sem ter sido comprovado crime de responsabilidade.
“A gente sabe que o Supremo é golpista, que está alinhado com as forças do golpe, mas a gente tem que fazer um contraponto, uma oposição a isso. Se o povo pressionar, vai ser outra força e vai fazê-los se posicionar. A colocar ou não as suas digitais formalmente no golpe. É isso que está faltando aqui no Brasil, essa resistência popular de fato”, afirma a enfermeira aposentada e militante Edva Aguilar, da coordenação nacional do Movimento Nacional pela Anulação do Impeachment.
(da Rede Brasil Atual)
Prêmios Gestão Escolar e Professores do Brasil estão com inscrições abertas
Jornalista: Leticia
Profissionais de escolas públicas de todo o País podem se inscrever para os prêmios Gestão Escolar 2017 e Professores do Brasil. Ambos integram a iniciativa Educadores do Brasil, que reconhece e premia boas práticas de gestão e projetos desenvolvidos por docentes.
A oportunidade proporciona visibilidade às experiências pedagógicas. O objetivo é fazer com que os trabalhos exitosos se tornem exemplos para demais profissionais da rede pública e sejam replicados.
As inscrições para o Gestão Escolar terminam em 14 de agosto, e as do Professores do Brasil, em 25 de agosto.
O subsecretário de Planejamento, Acompanhamento e Avaliação Educacional, da Secretaria de Educação, Fábio Pereira de Sousa, destaca que os resultados efetivos dos projetos premiados ficam bem claros com os indicadores das escolas.
“Se você observa a redução da taxa de evasão e a melhoria no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica [Ideb], isso quer dizer que há um retrato de uma boa gestão”, explica o subsecretário.
Sousa avalia ser necessário fomentar no ambiente escolar a elaboração de projetos diferenciados com bom rendimento. “Em muitos casos, o gestor ou professor apenas precisa sentar à frente do computador e ‘colocar no papel’ o que ele já desenvolve na escola”, completa.
Setor Leste vai do 17º ao 1º lugar no Enem
A coordenadora da Regional de Ensino do Plano Piloto/Cruzeiro, Ana Lúcia Moura, inscreveu no Gestão Escolar de 2012 o projeto pedagógico da escola onde era diretora na época, o Centro de Ensino Médio Setor Leste do Plano Piloto.
“Assumimos em 2008 e nos deparamos com um ambiente cheio de problemas. Com uma proposta de transparência e de gestão de responsabilidade de toda a comunidade escolar, revertemos o cenário”, conta Ana Lúcia.
Em menos de dois anos, a unidade passou de 17º lugar no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) do Distrito Federal para o 1º, à frente das escolas militares.
A posição de destaque no concurso rendeu uma premiação de R$ 6 mil, revertida na instalação e manutenção da parte elétrica da unidade.
Os gestores interessados em concorrer ao prêmio devem se inscrever pelo portal do concurso.
Para participar, o profissional precisa preencher uma autoavaliação e elaborar um plano de ação, construído com a participação da comunidade escolar. Os melhores projetos por unidade da Federação seguem para a fase regional e são premiados.
Essa é a 16ª edição do prêmio, que, desde 2011, ocorre a cada dois anos. As categorias serão Escola Destaque Local, Destaque Estadual/Distrital, Destaque Regional e Referência Brasil, e todos os vencedores ganharão diplomas.
Para as categorias Destaque Estadual/Distrital e Destaque Regional, serão oferecidas, respectivamente, uma viagem de intercâmbio nacional e uma a um país da América Latina. A escola selecionada como Referência Brasil terá direito ainda a um prêmio de R$ 30 mil.
Princesas Negras venceu edição de 2014 do Professores do Brasil
O prêmio Professores do Brasil chega à 10ª edição. Para disputá-lo, qualquer professor de escola pública da educação básica pode inscrever um relato de prática pedagógica. Selecionado, segue para uma premiação estadual, regional e nacional. O Professores do Brasil está dividido em seis categorias, de creche a ensino médio.
As inscrições devem ser feitas pelo site. A divulgação oficial do resultado está prevista para 7 de dezembro.
Professora do Jardim de Infância 603, do Recanto das Emas, Mariana Soares Ferreira foi a vencedora da Região Centro-Oeste do Professores do Brasil 2014 com o trabalho Princesas Negras. A proposta pedagógica leva para a sala de aula contos e histórias com protagonistas afrodescendentes.
Com o êxito do Princesas Negras, a escola adotou um projeto étnico-racial, que trabalha a matriz africana em sentido mais amplo.
O Professores do Brasil está dividido em seis categorias, de creche a ensino médio.
Após polêmica, alunos de escola de BH publicam carta a favor do ensino de gêneros
Jornalista: Leticia
Alunos do 3º ano do ensino médio do Colégio Santo Agostinho, que tem unidades em Belo Horizonte, Contagem e Nova Lima, escreveram uma carta aberta se posicionando a favor do ensino de gêneros na escola. O texto é uma resposta aos questionamentos de inúmeros pais, que, na última semana, fizeram críticas ao ensino de conteúdos relacionados a gênero e sexualidade na instituição.
Na carta, os estudantes se dizem espantados ao ler o abaixo-assinado dos pais com críticas ao ensino de assuntos relativos à sexualidade, à ideologia de gênero e à igualdade de gênero. “Frente aos questionamentos feitos pelos pais, portanto, nós, alunos do Colégio Santo Agostinho de Belo Horizonte, concluímos que a discussão relacionada à sexualidade e à identidade de gênero é fundamental na desconstrução dos incontáveis tabus presentes na vida adolescente e, principalmente, na aceitação tanto própria quanto externa quando se tratando da homossexualidade, bissexualidade e transexualidade. A tentativa de impedimento das exposições acerca da realidade social baseada na discordância quanto à abordagem aproxima-se até mesmo da censura”, diz o texto publicado por um grupo de estudantes.
Na última semana, um grupo de pais redigiu um documento para se encaminhado ao colégio com críticas ao ensino. “Temos nos encontrado diante da situação paradoxal de termos colocado aos nossos filhos numa escola católica, para tê-la como parceira na educação moral dos nossos filhos, e constatarmos perplexos que alguns conteúdos ministrados confrontam os valores que deveriam promover, e que estes são propostos aos nossos filhos sem nosso conhecimento ou consentimento”, relataram.
Os pais questionaram principalmente alguns conteúdos ministrados dentro de sala de aula. “Estamos sinceramente preocupados com a inserção de certos conteúdos atinentes à sexualidade e às denominadas ‘questões de gênero’ em vários graus escolares e nas mais diversas matérias do currículo escolar, principalmente, no Ensino Religioso e Ciências. Acompanhando de perto aos nossos filhos percebemos que alguns conteúdos ministrados têm uma perspectiva ideológica que confronta os valores que lhes ensinamos nos nossos lares e é inadequada para uma escola que se apresenta como católica”, explicaram.
Na segunda-feira (10), a Sociedade Inteligência e Coração (SIC), mantenedora do Colégio Santo Agostinho, confirmou que tinha recebido uma notificação extrajudicial, com 128 nomes de pais, questionando a abordagem de alguns temas adotados pela escola. E reforçou a importância do respeito ao próximo. “A escola é um espaço coletivo construído pela relação entre as pessoas, no qual todos os indivíduos devem ser respeitados em sua singularidade. Essa pluralidade pode e deve coexistir em harmonia”, respondeu em nota.
Ainda conforme a instituição, o projeto pedagógico é fundamentado nos princípios cristãos, católicos e agostinianos, com respeito à liberdade e apreço à tolerância. “Repudiamos o uso de interpretações equivocadas por aqueles que têm como objetivo distorcer nosso projeto pedagógico”, esclareceu. Obras citadas
Na carta aberta, os estudantes contam que buscaram os textos citados para entender os questionamentos. “Ao contrário do que nos parecia ao lermos a carta, o conteúdo dos textos citados (principalmente com relação ao livro didático) nada apresentavam além daquilo inclusive defendido pela Unesco: o debate sobre educação de gênero e sexualidade é, evidentemente, essencial para uma educação mais inclusiva e de qualidade”, justificaram.
Uma obra citada foi “As mentiras que os homens contam”, de Luís Fernando Veríssimo, com destaque para o conto “O Dia da Amante”. “Fez-se parcialmente compreensível o sentimento de indignação apresentado por pais de alunos da Instituição, já que esse texto apresenta uma abordagem muito complexa e densa para pré-adolescentes”, diz a nota dos estudantes. Mas os alunos justificam que o conto não havia sido selecionado pela professora e que houve, por parte dos pais, exagero. “Até que ponto a escolha de um livro de contos, onde os textos que deveriam ser lidos foram selecionados, realmente torna-se uma afronta à autonomia parental na escolha dos ensinamentos fornecidos a seus filhos?”
E por último, quanto ao livro de ciências, eles destacaram que as críticas não têm fundamento. “Nesse livro didático, a orientação sexual, a sexualidade, a identidade de gênero e o sexo biológico são abordados de maneira inteiramente coerente com a mentalidade de um aluno do Ensino Fundamental II, a partir de textos que exaltam a tolerância e a diversidade”, concluíram. Confira o posicionamento dos pais: Leia a carta dos alunos na íntegra:
Belo Horizonte, 12 de julho de 2017.
Carta aberta dos alunos Agostinianos em resposta aos senhores pais redatores e signatários da carta crítica ao ensino do Colégio Santo Agostinho
Não somos capazes de mensurar nosso espanto ao ler, há algum tempo, a carta aberta extrajudicial – posteriormente transformada em um “abaixo assinado” – redigida com o objetivo de criticar os ensinamentos do Colégio Santo Agostinho.
Há alguns dias, tomamos conhecimento desse documento, que apresentava críticas ao ensino de assuntos relativos à sexualidade, à ideologia de gênero e à igualdade de gênero. Pouco depois, buscamos tomar conhecimento dos textos aludidos na carta, de forma que averiguamos o livro de Ciências do 6º ano e o livro de contos “As mentiras que os homens contam”, de Luís Fernando Veríssimo. Ao contrário do que nos parecia ao lermos a carta, o conteúdo dos textos citados (principalmente com relação ao livro didático) nada apresentavam além daquilo inclusive defendido pela Unesco: o debate sobre educação de gênero e sexualidade é, evidentemente, essencial para uma educação mais inclusiva e de qualidade.
No que tange ao conto “O Dia da Amante”, de Luís Fernando Veríssimo, fez-se parcialmente compreensível o sentimento de indignação apresentado por pais de alunos da Instituição, já que esse texto apresenta uma abordagem muito complexa e densa para pré-adolescentes. É importante, por outro lado, ressaltar que o conto em questão não havia sido selecionado para leitura pela professora que requisitou a aquisição do livro. Diante dessa perspectiva, surge a seguinte questão: até que ponto a escolha de um livro de contos, onde os textos que deveriam ser lidos foram selecionados, realmente torna-se uma afronta à autonomia parental na escolha dos ensinamentos fornecidos a seus filhos?
Em relação ao livro de Ciências, as críticas dos senhores pais são pueris e não merecem qualquer crédito. Nesse livro didático, a orientação sexual, a sexualidade, a identidade de gênero e o sexo biológico são abordados de maneira inteiramente coerente com a mentalidade de um aluno do Ensino Fundamental II, a partir de textos que exaltam a tolerância e a diversidade. O ensino ao respeito às diferenças é um dos principais pilares que regem a educação tanto Agostiniana quanto de inúmeros colégios que seguem a doutrina católica, tendo em vista a importância da família e da escola para a formação moral do aluno.
Frente aos questionamentos feitos pelos pais, portanto, nós, alunos do Colégio Santo Agostinho de Belo Horizonte concluímos que a discussão relacionada à sexualidade e à identidade de gênero é fundamental na desconstrução dos incontáveis tabus presentes na vida adolescente e, principalmente, na aceitação tanto própria quanto externa quando se tratando da homossexualidade, bissexualidade e transexualidade. A tentativa de impedimento das exposições acerca da realidade social baseada na discordância quanto à abordagem aproxima-se até mesmo da censura.
Além disso, fica nosso apoio e agradecimento a todos aqueles professores do Colégio Santo Agostinho que, preocupados com a formação de nosso caráter além de nosso intelecto, nos possibilitou cruciais reflexões responsáveis por nosso crescimento e amadurecimento como seres humanos altruístas.
Aos pais, fica a reflexão: com o que os senhores estão realmente preocupados? Com a vontade de manter seus filhos isolados de tudo aquilo que diverge do que lhes foi ensinado ou com o fornecimento de ensinamentos extremamente relacionados à convivência em comunidade e respeito ao diferente?
Com o tempo, vocês descobrirão, como nós, que o Colégio Santo Agostinho e seu corpo docente sempre estarão disponíveis para ajudar todos os que a eles recorrerem em busca de evolução pessoal.
Alunos da Terceira Série do Ensino Médio do Colégio Santo Agostinho- Unidade Belo Horizonte
Leia a nota do Colégio Santo Agostinho:
Carta aberta à comunidade agostiniana
A Sociedade Inteligência e Coração (SIC), mantenedora do Colégio Santo Agostinho (unidades Belo Horizonte, Contagem e Nova Lima), recebeu uma notificação extrajudicial no dia 10/07/17, contendo 128 nomes, questionando a abordagem de alguns temas adotados pela escola. Consideramos importante apresentar esclarecimentos.
O Colégio Santo Agostinho é responsável pela educação de cerca de 8 mil alunos de diferentes realidades e crenças. Nosso projeto pedagógico, fundamentado nos princípios cristãos, católicos e agostinianos, contempla a sociedade pluralista em que vivemos, abordando, de forma dialogal e respeitosa, os desafios do mundo contemporâneo. Primamos pelo respeito à liberdade e apreço à tolerância, orientações fundamentais estabelecidas na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (artigo 3º da Lei 9.394).
A escola é um espaço coletivo construído pela relação entre as pessoas, no qual todos os indivíduos devem ser respeitados em sua singularidade. Essa pluralidade pode e deve coexistir em harmonia.
Com uma trajetória de 83 anos em Minas Gerais, amparado pela tradição de sete séculos da Ordem de Santo Agostinho, o Colégio ressalta sua sintonia com o magistério do Papa Francisco, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), a Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano e Caribenho e as orientações pastorais da Arquidiocese de Belo Horizonte.
Sendo assim, continuaremos seguros em nossa missão de criar condições para que os alunos possam protagonizar sua própria formação integral (integrada, crítica e criativa), com autonomia e responsabilidade. Para tal, contamos com uma equipe de professores altamente qualificados.
Repudiamos o uso de interpretações equivocadas por aqueles que têm como objetivo distorcer nosso projeto pedagógico.
Reafirmamos o nosso compromisso educacional pautado nos valores agostinianos: solidariedade, fraternidade, amizade, subsidiariedade e justiça.
Agradecemos aos 11 mil pais e responsáveis que dividem a formação de seus filhos conosco.
Atenciosamente, Sociedade Inteligência e Coração – SIC, Mantenedora do Colégio Santo Agostinho
“Já não é necessário que os fins justifiquem os meios. Agora os meios, os meios massivos de comunicação, justificam os fins de um sistema de poder que impõe seus valores em escala planetária”. Eduardo Galeano
A divulgação da sentença do juiz Sérgio Moro condenando o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva não deve ter surpreendido muita gente. Com o passar do tempo, foi ficando cada vez mais escancarado que a Operação Lava Jato não foi criada para combater a corrupção no Brasil. Seu foco sempre foi político, sua missão: impor um fim aos governos progressistas e seu alvo principal, prender Lula.
Estruturada e desenvolvida à imagem e semelhança da operação “mani pulite” (mão limpas) – realizada pelo Judiciário italiano na década de 1990 – a Lava Jato, assim como sua inspiradora, tem no apoio intransigente dos meios de comunicação o seu principal instrumento.
Sérgio Moro – que em 2004 escreveu o artigo “Considerações sobre a Operação Mani Pulite”, elogiando o processo de caça aos “corruptos” na Itália – descreve bem essa relação entre o Judiciário e a mídia italiana para o alcance dos objetivos da operação. “Os responsáveis pela operação mani pulite ainda fizeram largo uso da imprensa”. Ele detalha como:
“Tão logo alguém era preso, detalhes de sua confissão eram veiculados no “L’Expresso”, no “La Republica” e outros jornais e revistas simpatizantes.”
Ele explica que “apesar de não existir nenhuma sugestão de que algum dos procuradores mais envolvidos com a investigação teria deliberadamente alimentado a imprensa com informações, os vazamentos serviram a um propósito útil. O constante fluxo de revelações manteve o interesse do público elevado e os líderes partidários na defensiva”.
Moro ainda destaca que o resultado mais importante desse engajamento da mídia com a Mãos Limpas foi garantir “o apoio da opinião pública às ações judiciais, impedindo que as figuras públicas investigadas obstruíssem o trabalho dos magistrados, o que, como visto, foi de fato tentado”. E conclui: “As prisões, confissões e a publicidade conferida às informações obtidas geraram um círculo virtuoso, consistindo na única explicação possível para a magnitude dos resultados obtidos pela operação mani pulite”.
Não há, portanto, qualquer improviso no modus operandi da Operação Lava Jato e de Sérgio Moro.
Nem, tampouco, poderíamos incluir ao final deste filme o alerta “qualquer semelhança é mera coincidência”. Muito pelo contrário. Como o próprio Moro constatou em 2004, sem a mídia a operação italiana não teria tido sucesso.
Em vários momentos, Moro se refere ao papel da opinião pública. Em um deles destaca: “Enquanto ela [operação judicial] contar com o apoio da opinião pública, tem condições de avançar e apresentar bons resultados. Se isso não ocorrer, dificilmente encontrará êxito”. Aí, entra em cena a Globo e Cia.
Sem o apoio da Rede Globo e da mídia oligopolizada, Sérgio Moro continuaria sendo mais um dentre centenas de juízes de primeira instância e a Lava Jato, possivelmente, jamais teria ido parar nas telas de cinema.
Isso apenas confirma a centralidade do papel dos meios de comunicação nos processos políticos, econômicos, sociais e culturais na atualidade: o de construir o senso-comum e moldar a tal da opinião pública.
Antonio Gramsci, pensador italiano, dedicou parte de sua obra para discutir a questão da disputa da hegemonia na sociedade. Ele alerta que: “A tarefa de toda concepção dominante (que, sendo dominante, torna-se portanto também fé, também ideologia para as grandes massas, não conscientemente vivida em todos os pressupostos e em todos os seus aspectos) consiste em conservar a unidade ideológica de todo o bloco social, que é cimentado e unificado precisamente por aquela determinada ideologia”.1
E, como já temos dito muitas e muitas vezes, os meios de comunicação hegemônicos no Brasil são formados por um grupo de empresas privadas, que constituem um oligopólio, e que são parte integrante de uma elite política e econômica que esteve à frente do país por mais de 500 anos. Essa elite, da qual o oligopólio de comunicação é parte e porta-voz, nunca aceitou que o Brasil passasse a ser presidido por líder metalúrgico de esquerda e depois por uma mulher, ex-guerrilheira. Não conderam Lula, conderam o povo e o Brasil
A condenação de Lula a nove anos e meio de prisão não tem nada haver com a propriedade ou não de um apartamento triplex no Guarujá (é até estranho explicar para colegas estrangeiros que o ex-presidente Lula está sendo condenado por causa de um apartamento de 2 milhões de reais). Sua condenação é para tentar aprisionar os sonhos do povo brasileiro.
Não condenaram Lula, condenaram a ousadia de um povo que achou que podia mais. Condenaram um país que acreditou que podia atuar com soberania, que poderia ser desenvolvido.
O resultado desta cruzada da mídia hegemônica em aliança com a Lava Jato é devastadora para o povo e para o país. Ela abreviou o ciclo de governos progressistas, e recolocou no centro da agenda política e econômica os corolários do neoliberalismo – redução de direitos trabalhistas e sociais, enxugamento do Estado, privatização e entrega de serviços públicos ao mercado.
A Lava Jato desmontou parte da indústria nacional e da economia brasileira, preparando o terreno para a completa desnacionalização industrial e tecnológica, fragilizando nossa soberania e abrindo as portas para o ingresso do predatório capital externo.
Ela fragilizou o processo de integração soberana da América Latina e a política externa brasileira centrada nas relações Sul-Sul, ferindo de morte o projeto dos BRIC’s e possibilitando uma postura subalterna do Brasil aos interesses dos EUA e do capitalismo europeu.
Ou seja, a condenação de Lula é o símbolo do fim de um período em que o Brasil tentou ser Brasil.
Os que buscavam um “grande acordo nacional com o Supremo, com tudo”, alcançaram o seu objetivo. Não, a lei não é igual para todos, como estão tentando fazer crer condenando um ex-presidente. A lei sempre foi e continuará sendo para proteger os interesses políticos e econômicos da elite nacional – no nosso caso, mais ainda da internacional.
Será que ainda tem alguém que se arrisque a defender tudo isso?
Não ouvimos o tilintar das panelas indignadas pela absolvição de Aécio Neves.
Não ouvimos o rufar dos tambores de guerra contra um esquadrão de parlamentares que, a serviço do mercado, rasgaram os direitos dos trabalhadores conquistados há 74 anos, um dia antes da condenação do maior líder sindical do país.
A indignação seletiva, construída pela mídia, nos legou uma nação povoada por zumbis. Os lobotomizados respondem única e exclusivamente aos estímulo da mídia – capitaneada pela Rede Globo. Não têm vontade, nem opinião própria.
É o controle remoto ao avesso. E como ele tem sido eficiente! Porque nos controla sem que percebamos.
Mas tudo tem limite e, aos poucos, as pessoas estão saindo da sua zona de conforto, da sua Matrix. A partir daí, tudo poderá acontecer.
(do Barão de Itararé)