Reforma da Previdência de Bolsonaro joga rurais na miséria

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A Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 06/2019, da reforma da Previdência do governo de Jair Bolsonaro (PSL) pode retardar ou até acabar com o direito à aposentadoria dos trabalhadores e trabalhadoras rurais, em especial dos agricultores e das agricultoras familiares, que nem sempre têm renda para contribuir com o INSS, e por isso estão na categoria de “segurados especiais”.

Se o Congresso Nacional aprovar a PEC, a idade mínima para os rurais requererem o benefício será de 60 anos tanto para os homens quanto para as mulheres. Além disso, os rurais terão de contribuir por 20 anos e as famílias (grupo familiar) terão de contribuir com, no mínimo, R$ 600,00 ao ano, mesmo se não produzirem e, portanto, não venderem nada, no período.

Atualmente, a idade mínima de acesso à aposentadoria dos trabalhadores da agricultura familiar é de 55 anos para as mulheres e 60 para os homens, com obrigatoriedade de comprovar 15 anos de atividade rural.  Pela Lei atual, os rurais só precisam comprovar esse período por meio de documentos especiais como o Imposto sobre a Propriedade Territorial Rural (ITR) e a Cédula Territorial Rural (CIR). É possível ainda comprovar a atividade com declarações de testemunhas e atestados complementares de sindicatos da categoria.

Com sua reforma, Bolsonaro tira o direito constitucional dos rurais que não têm como pagar o INSS de se aposentar. Pela proposta do governo, os 20 anos exigidos para contribuição teriam de ser comprovados por meio das notas de comercialização.

Já no caso dos rurais que têm bloco de notas comprovando a comercialização dos produtos, a contribuição é hoje de cerca de 1,2% sobre o valor das notas.

Se as contribuições não atingirem os R$ 600,00 previstos na PEC, os trabalhadores serão obrigados a complementar de outra maneira, como carnês, por  exemplo.

Para Marcos Rochinski, presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores e Trabalhadoras na Agricultura Familiar (Contraf-Brasil), Bolsonaro vai criar um grande problema, em especial, para as famílias mais pobres.

“No Nordeste, por exemplo, boa parte dos estados ainda não implantou o bloco de produtor. Por isso, a maioria dos trabalhadores é obrigada a comercializar sem a nota e não terá como comprovar”.

O dirigente alerta também que, por ter baixa renda, cerca de 60% das famílias não terão condições de recolher os R$ 600,00 ao ano e estarão automaticamente excluídas da Previdência.

“Isso penaliza de forma cruel a população mais pobre, mais excluída, que tem dificuldades de acessar um processo mais estruturado de produção, comercialização e contribuição”, diz o dirigente.

O presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores e Trabalhadoras na Agricultura (Contag), Aristides dos Santos, diz que Bolsonaro desconsidera uma categoria importante para a economia brasileira e a até a proteção o que os constituintes determinaram para os rurais.

A Constituição Cidadã de 1988 entendeu que era necessário tratar os agricultores familiares como uma categoria especial. Esse governo [Bolsonaro] argumenta que não contribuímos, mas não é verdade. Contribuímos com o que compramos, com o que vendemos e com a sociedade, quando cuidamos do meio ambiente

– Aristides dos Santos

Aristides lembra ainda que os trabalhadores da categoria produzem mais de 70% dos alimentos que chegam à mesa dos brasileiros e podem contribuir ainda mais para o desenvolvimento sustentável do Brasil, porém o estado não organiza a forma de arrecadação de modo que o sistema funciona de forma justa e efetiva.

Marcos Rochinski reforça a avaliação de Aristides sobre a questão econômica lembrando que a dificuldade de acesso à renda é estrutural e o reconhecimento à categoria significa promover políticas públicas e proteção social que resultam em um processo de distribuição de renda, importante para a economia do país. Ele cita como exemplo os milhares de pequenos municípios que sobrevivem e se desenvolvem por causa dos benefícios pagos pelo INSS.

Além disso, explica, que se a renda diminui, as famílias se desestruturam, o que compromete a produção de alimentos e, a longo e médio prazo, causa um impacto na população com aumento de preços e acesso aos alimentos produzidos.

Esse governo tem uma visão antissocial e desvaloriza o campo

– Marcos Rochinski

“Vão nos empurrar para a indigência, para a pobreza e não podemos deixar isso acontecer. A sociedade e o Congresso têm o dever de ajudar a derrubar essa proposta”, complementa Aristides Veras.

Mais uma reforma que penalizará a mulher

Para a vice-presidenta da CUT, Carmen Foro, igualar a idade mínima de aposentadoria é uma injustiça com as mulheres do campo que “começam muito cedo na luta, grande parte aos 13, 14 anos de idade e ainda têm outras responsabilidades, como casa, filhos e até mesmo o papel reprodutivo”.

Carmen, que também é trabalhadora rural, considera extremamente grave a incapacidade do governo ao formular a proposta. “Ele [Bolsonaro] reconhece que em outros setores a mulher deve trabalhar menos tempo, mas no nosso caso temos que trabalhar a mesma coisa?”, questiona a dirigente.

Bolsonaro acha que temos qualidade de vida? Que temos uma vida melhor que as outras mulheres e por isso não precisamos desses três ou cinco anos a menos?

– Carmen Foro

Entenda como a reforma prejudica os rurais

Transição

Se a PEC for aprovada, o período de transição para o tempo mínimo de contribuição de 15 para 20 anos começa em 2020, aumentando para 15 anos e meio e chegando aos 20 anos em 2029.

Já o período de transição para a regra que aumenta a idade mínima para as mulheres se aposentarem, começa em 1° de janeiro de 2020. A partir daí, a idade mínima para a aposentadoria será acrescida em seis meses a cada ano, até atingir os 60 anos.

Assim, em 2020, a trabalhadora rural só poderia se aposentar com 55 anos e seis meses de idade. E em 2029, com os 60 anos, como quer Bolsonaro.

Assalariados rurais

O texto da PEC da reforma da Previdência determina regras também para os assalariados rurais, que teriam de contribuir com uma alíquota progressiva sobre o salário de contribuição.

Dessa forma, quem recebe até um salário mínimo por mês (R$ 998,00), pagaria 7,65% à previdência, chegando a 14% para quem ganha o teto, de R$ 5.839,00

Pensão por morte:

A proposta de reforma da Previdência prevê a possiblidade de os trabalhadores rurais acumularem aposentadoria e pensão por morte, mas com um dos valores sofrendo redução. Um dos benefícios seria de 80% do valor do salário mínimo, ou seja, R$ 798,40, em valores atuais.

O valor da pensão por morte dos viúvos e órfãos também será reduzido para metade do valor do benefício recebido pelo aposentado. A PEC prevê aumentar a pensão em 10% para cada dependente, até atingir 100% do valor.

BPC

A proposta de Bolsonaro eleva também a idade mínima de 65 para 70 anos para que idosos em situação de miserabilidade, que não conseguem se aposentar, tenham acesso ao Benefício de Prestação Continuada (BPC) e reduz o valor mensal pago aos beneficiários.

Hoje, as pessoas em condição de miserabilidade, caso de alguns rurais, recebem um salário mínimo (R$ 998,00) a partir dos 60 anos. Se a proposta de Bolsonaro for aprovada, receberá R$ 400,00 a partir dos 60 e só conseguirá receber um salário mínimo quando, e se, completar 70 anos.

Mobilização

A CUT, a Contag e a Contraf-Brasil apostam na pressão a parlamentares e mobilização não somente da categoria, mas de toda a classe trabalhadora e da sociedade para barrar a reforma da Previdência.

A vice-presidenta da CUT, Carmen Foro, alerta que será “uma devastação geral e que todos precisam entender o que está acontecendo”.

Com informações da CUT

Previdência: por que é possível resistir

Governo Bolsonaro inicia ataque às aposentadorias enfraquecido, e apoiado basicamente pelo baronato financeiro. Apontar esta associação será essencial para derrotar proposta apresentada hoje

O governo do capitão acaba de apresentar ao Congresso Nacional a grande maldade que pretende cometer contra a maioria da população brasileira. Refiro-me ao tão propalado pacote da Reforma Previdenciária. Aliás, melhor seria se chamasse o bicho logo por seu verdadeiro nome: deforma.

A equipe do Palácio do Planalto já deve ter sido avisada de que o tema conta com um grande “pé atrás” da maior parte dos eleitores. E isso serve para deixar até mesmo os congressistas da base governista um pouco indecisos, por mais comprometidos que estejam com as orientações do governo Bolsonaro. Conta a lenda que o primeiro ano de qualquer legislatura é o período ideal para aprovar medidas carregadas de impopularidade como essa. Afinal, sempre restaria um bom tempo pela frente para que deputados e senadores tentem livrar a própria cara e contem com o conhecido esquecimento por parte de quem depositou neles o voto em outubro passado.

Mexer na aposentadoria é uma operação muito sensível. Tanto que o governo está preparando uma campanha de marketing e publicidade bilionária. Os “grandes” meios de comunicação sinceramente agradecem, bastante comovidos com o gesto. A intenção declarada é criar uma espécie de “contra clima” favorável às suas intenções privatizantes e demolidoras, por meio da tal “opinião pública”. Na sequência da tentativa de tal lavagem cerebral coletiva, virão as conhecidas pesquisas refletindo um suposto apoio da população às maldades em ebulição na cozinha do financismo. Como a preparação das mentiras a serem divulgadas estão a cargo de profissionais competentes e muito bem remunerados para essa inglória tarefa, caberá às forças progressistas e ao amplo movimento social que se articula a cada dia que passa o trabalho de desmontar mais uma vez essa farsa e denunciar as verdadeiras intenções liberaloides por trás do discurso catastrofista.

O principal argumento para defender as mudanças articuladas no interior do quartel general de Paulo Guedes & Cia Ltda será um misto de mentiras. De um lado, o eterno blá-blá-blá associado à falta de recursos orçamentários e a uma suposta inviabilidade estrutural do Regime Geral da Previdência Social (RGPS) – esse é o universo de benefícios do INSS. De outro lado, a também velha e conhecida lenga-lenga a respeito de supostos privilégios existentes no interior do regime das aposentadorias dos servidores públicos – os chamados Regimes Próprios de Previdência (RPPs).

Ora o primeiro aspecto a se debater relaciona-se ao problema fiscal. Não é verdade que o governo não tenha recursos disponíveis e que o desequilíbrio das contas previdenciárias é o grande obstáculo para retomada do crescimento da economia. Essa é uma informação veiculada cotidianamente pelos grandes meios de comunicação, por conta dessa encomenda patrocinada pelo sistema financeiro. Como a intenção explícita é a privatização da previdência, o modelo das “fake news” cabe aqui como uma luva. Os “grandes” jornais e as principais redes de televisão não cansam de justificar o desempenho medíocre das atividades econômicas por conta das expectativas negativas dos agentes que operam no mercado financeiro.

Com isso, passam imediatamente ao mantra da necessidade urgente de aprovação daquela que vem sendo chamada de “mãe de todas as reformas”. Assim, no entender desse pessoal, a economia brasileira vai continuar patinando enquanto o Congresso Nacional não aprovar o pacote das atrocidades sugeridas por Bolsonaro, por meio das mãos de Paulo Guedes. Uma verdadeira chantagem, tentando usar a maioria da população para seus propósitos de desmontar o sistema da previdência social pública. Mas o ponto relevante é que, ao contrário do discurso governista, a Previdência Social não é a maior conta gastadora do governo federal. Se o maior empecilho para retomada do crescimento do PIB e do emprego fosse, de forma sincera e honesta, a solução de arranjos orçamentários estruturalmente deficitários, aí então tudo estaria mais fácil.

A rubrica orçamentária que mais gasta recursos públicos nunca foi objeto de reforma alguma. E aqui estou me referindo às despesas contidas na contabilidade de pagamento de juros e demais serviços da dívida pública. É aqui que mora o fator que mais pesa negativamente para o atual regime fiscal. Apenas em 2018 foram destinados R$ 380 bilhões de valores do Orçamento da União para cumprir esse tipo de compromisso. E, ao contrário do que ocorre com as contas do RGPS, na organização do Regime dos Serviços Financeiros da Dívida Pública não existem recursos de receitas tributárias. A conta é eminentemente gastadora. Além de ser a conta que mais impacta o déficit das contas públicas federais, ela é uma unidade orçamentária estruturalmente deficitária. Assim, ela está – desde as suas origens – em um desequilíbrio sistêmico e estrutural.

Mas o interessante é que ninguém vinculado à defesa dos interesses do financismo sequer menciona esses valores bilionários como a fonte para que seja promovido algum tipo de estratégia para resolver a solvência fiscal. Para tanto, lançam mão do discurso do “superávit primário”, pois essa metodologia matreiramente retira as despesas financeiras do tão exigido esforço fiscal. Com isso, os jornalões passam a exigir “responsabilidade fiscal” em letras garrafais. Como assim? Ah, não, mas o sacrifício deve ser obtido do estrangulamento apenas das contas de saúde, educação, previdência, gastos com pessoal, assistência social, investimento público e outros itens. As despesas financeiras correm livres e soltas, sem controles nem amarras. Para o pagamento de juros da dívida pública, o céu é o limite.

Mas felizmente parece que o movimento social está despertando mais uma vez para a gravidade e os riscos envolvidos nesse triste quadro. As entidades do movimento sindical, as associações de pesquisa relacionada ao tema, as organizações de defesa dos aposentados e um conjunto amplo de professores/especialistas estão se mobilizando para denunciar esse verdadeiro crime que se pretende cometer de novo contra os mais pobres. O calendário de manifestações deve acompanhar o tempo da tramitação da matéria no Congresso Nacional. E esse deve ser o caminho para evitar que outra tentativa, como ocorreu com a proposta de Temer, consiga progredir no interior do próprio Legislativo.

O governo tenta sofisticar suas mentiras e afirma que sua proposta vai acabar com privilégios. Mentira! Como se pode dizer que haja privilégios no RGPS, quando mais de 99% dos benefícios do setor rural são de, no máximo, um salário mínimo? Como afirmar que os “ricos” do sub setor dos urbanos, onde mais de 70% recebem no máximo dois salários mínimos de aposentadoria? A proposta de Bolsonaro não vai mexer com os verdadeiros privilegiados, pois eles são generosamente contemplados com um sistema de tributos que oferece isenção de impostos para lucros e dividendos, que não implementou o Imposto sobre Grandes Fortunas, que fecha os olhos para os grandes sonegadores e por aí vai. Esses privilégios permanecem intocáveis.

Finalmente, quanto às aposentadorias dos servidores públicos, é preciso dizer que essa equalização com as regras dos trabalhadores do setor privado já foi realizada em 2013. Assim, os funcionários que ingressaram no serviço público a partir daquela data só receberão do Tesouro o mesmo teto do INSS. O restante será complementado por meio de um fundo de pensão, como ocorre com os demais trabalhadores. Quanto ao estoque de atuais e futuros aposentados pelas regras antigas, o que cabe é fiscalizar o cumprimento da regra do teto, para que ninguém receba mais do que o vencimento do Ministro do STF. E para isso não é necessário reformar Constituição alguma.

Por Paulo Kliass| Imagem: Mor
Fonte: Outras Palavras

Para votar reforma, centrão quer acerto de até R$ 10 milhões por deputado

A reforma da Previdência já tem preço: R$ 10 milhões por deputado; é o dinheiro que cada um terá à sua disposição para despejar em obras e repasses federais de seu interesse; a revelação é do colunista Bernardo Mello Franco em seu blog; mas o preço será ainda maior para o governo tentar aprovar sua reforma: haverá distribuição de cargos de segundo e terceiro escalão; a porteira está aberta.

A reforma da Previdência já tem preço: R$ 10 milhões por deputado. É o dinheiro que cada um terá à sua disposição para despejar em obras e repasses federais de seu interesse. A revelação é do colunista Bernardo Mello Franco em seu blog. Mas o preço será ainda maior para o governo tentar aprovar sua reforma. Haverá distribuição de cargos de segundo e terceiro escalão. “Apesar do discurso oficial contra o ‘toma lá, dá cá’, a Casa Civil tem indicado disposição de negociar”, informou Franco. A porteira está aberta.

A quota de R$ 10 milhões é para parlamentares reeleitos. Os iniciantes terão que se contentar com R$ 7,5 milhões. A conta, no total, poderá superar os R$ 500 milhões, sem contar as nomeações. A interrogação sobre as nomeações é se elas obedecerão a praxe estabelecida pelo esquema do clã Bolsonaro na Assembleia Legislativa do Rio, coordenado por Fabrício Queiroz, de arrecadação de parte das remunerações dos nomeados para compor o caixa da família de Jair, Flávio, Eduardo e Carlos.

O cenário na cúpula do governo ontem, era quase de desolação: “Depois da eleição, o ministro Paulo Guedes disse que bastaria dar uma “prensa” no Congresso para aprovar a reforma da Previdência. Se alguém no governo ainda acreditava nisso, ontem foi o dia de cair na real”, escreveu Franco.

“O projeto entregue por Jair Bolsonaro foi recebido com frieza”, acrescentou o jornalista, indicando que o centrão está afiando as facas: “Parlamentares da bancada governista deixaram claro que vão aproveitar o momento para forçar um acerto de contas com o Planalto”.

“Nas palavras de um senador tucano, o presidente pensou que conseguiria tratar o Congresso como um quartel. Agora será pressionado a dividir poder, fazer concessões e reabrir o balcão de negócios”. Assim caminhará a reforma e o governo na selva parlamentar.

Fonte: Brasil 247

Reforma da Previdência apresentada por Bolsonaro, nesta quarta (20), reduz salário dos professores e orientadores educacionais

A Proposta de Emenda à Constituição (PEC) nº 6/2019 (reforma da Previdência) apresentada, nesta quarta-feira (20), pelo presidente Jair Bolsonaro, na Câmara dos Deputados, desmonta a Seguridade Social pública e solidária em vigor e institui novo regime de aposentadoria no Brasil, com mudanças profundas para os mais de 60 milhões de contribuintes do Regime Geral de Previdência Social (RGPS) e do Regime Próprio de Previdência Social (RPPS).

Também traz mudanças significativas nas alíquotas previdenciárias e dificulta o acesso ao direito à aposentadoria, além de prever período de contribuição de 40 anos e aumento da idade para aposentadoria. Para os(as) servidores(as) públicos(as), estabelece cinco critérios cumulativos que terão de ser cumpridos para a pessoa acessar o direito de se aposentar com 100% do benefício.

No conjunto da reforma da Previdência de Bolsonaro, a mulher é a que mais será atingida. A orientadora educacional, que apresenta as mesmas condições de aposentadoria dos(as) servidores(as) públicos(as) que não têm aposentadoria especial, terão maior aumento na idade para poder se aposentar. Quando se leva em consideração os(as) novos(as) servidores(as), hoje, para se aposentar esses(as) trabalhadores(as) precisam de ter 55 anos de idade. Com a reforma, só poderá se aposentar com 62 anos.

Os orientadores, por sua vez, que hoje se aposentam com 60 anos de idade, com a reforma, só poderão se aposentar com 65 anos de idade. Ou seja, para o homem, a PEC aumenta mais 5 anos de trabalho. Para a mulher (orientadora e servidora), aumenta 7 anos.

Quando se analisa as regras de idade das professoras que ingressarem no serviço público após a promulgação da reforma, o mesmo comportamento se repete: as mulheres terão de trabalhar mais para poder se aposentar. Com as regras de hoje, as professoras precisariam de ter 50 anos para se aposentar. Com a reforma, terão de ter 60 anos de idade. Ou seja, essa regra da idade deixa as professoras numa situação pior do que as orientadoras e servidoras porque terão um aumento de 10 anos no critério da idade.

Os professores, que hoje precisam de ter 55 anos de idade, com a reforma, aumenta 5 anos. Ou seja, a reforma da Previdência de Bolsonaro aumenta 10 anos na idade para a mulher e, 5 anos, para os homens.

As professoras também perdem a diferenciação de gênero, mantida para as orientadoras. A análise do critério relacionado à idade, sem mensurar os demais critérios, mostra que a reforma aumentará significativamente a idade para aposentadoria.

Paridade
A paridade é o que liga os(as) servidores(as) aposentados(as) à sua carreira da ativa, tendo um efeito financeiro na qualidade de sua aposentadoria de forma que tudo que o(a) profissional da ativa recebe, o(a) aposentado(a) tem direito a receber.

Fazem jus à aposentadoria com paridade, dentre os vários critérios, os(as) servidores(as) contratados(as) até 31 de dezembro de 2003. E para eles e elas a grande mudança em relação à qualidade financeira de sua aposentadoria está na obrigatoriedade de se cumprir, no caso de professoras e professores, a idade de 60 anos. Orientadora, 62 anos;  e, orientador, 65 anos.

Ou seja, por mais que esse grupo de servidores(as) faça cálculos em relação a quando poderão se aposentar, um elemento central que eles e elas devem levar em consideração é a manutenção da paridade que, agora, com a reforma da Previdência de Bolsonaro, está condicionada a cumprir as idades mencionadas anteriormente.

Escalonamento de pontinhos
Enquanto hoje os critérios básicos para se obter a aposentadoria estão relacionados à idade e ao tempo de contribuição, a partir da reforma, os(as) atuais servidores(as) terão de cumprir também uma tabela de pontos para poderem ter acesso à aposentadoria.

Esses pontos são obtidos por meio da soma idade mais tempo de contribuição. Se não atingir, nessa soma, o número de pontos para o ano correspondente, definido pela reforma, ele e ela não poderão se aposentar nem mesmo abrindo mão da paridade.

Os(as) servidores(as) que ingressaram a partir de 2004, a PEC da reforma da Previdência impõe um grande dificultador para a pessoa conseguir se aposentar: o tempo de contribuição. Para a pessoa ter 100% da média a que faz jus, ela terá de ter 40 anos de contribuição, o que deve gerar, na maioria dos casos, uma necessidade de trabalhar mais tempo acima da idade máxima que está sendo exigida.

Aumento alíquotas
No caso das alíquotas previdenciárias, prevê o aumento de 11%, como é hoje para servidores(as) públicos(as), para até 14% e, com isso, impõe, a redução salarial porque o salário líquido do funcionalismo será reduzido em razão do aumento da alíquota.  O Sinpro-DF iniciou a análise da PEC . A seguir, confira as regras de transição para professores(as) e orientadores(as) educacionais.

Regras de transição
A transição será para todos. Contudo, ela não poderá ser vista como algo confortável e benigno porque, assim como toda a PEC, porque ela prejudica a categoria docente e toda a classe trabalhadora. É importante lembrar que essa PEC é um instrumento do sistema financeiro para transformar o direito à aposentadoria em mercadoria a ser vendida pelos bancos. A transição, portanto, não é algo bom.

Em relação à minuta da PEC 6/2019, que vazou na imprensa na semana passada, continua colocando cinco requisitos cumulativos para a pessoa se aposentar: a idade, o tempo de contribuição, o tempo no serviço público, o tempo no cargo e os pontos (somatório da idade e do tempo de contribuição).

Para orientadores(as) educacionais e servidores(as) públicos(as) em geral, a idade para aposentadoria das mulheres será 56 anos e, os homens, 61 anos. O tempo de contribuição das mulheres deverá ser 30 anos e, dos homens, 35 anos; o tempo no serviço público deverá ser 20 anos; o tempo no cargo, 5 anos; e o somatório da idade com o tempo de contribuição, começa, em 2019, para as mulheres com 86 pontos e, os homens, com 96 pontos.

Em 2020/2021, haverá alteração no item “Pontos” (somatório da idade com o tempo de contribuição). Essa regra irá aumentar, a cada ano, um ponto. Assim, em 2020, continua a mesma idade de 2019, o mesmo tempo de contribuição, bem como os mesmos tempos no serviço público e no cargo, mas os pontos passam a ser aumentados.

Em 2022, dois critérios para aposentadoria serão alterados. Além dos pontos, que aumenta para 89 para as mulheres e, 99, para os homens, a idade muda em um ano. As mulheres só se aposentarão com 57 anos e, os homens, com 62 anos.

Os pontos vão atingir seu ápice, nessa chamada “transição”, em 2033. Após esse período de 12 anos, lei complementar estabelecerá a forma como a pontuação será ajustada e ocorrerá quando aumentar a taxa de sobrevida da população.

Confira no quadro, a seguir, como ficará a situação de professores(as) e orientadores(as) educacionais.

Quadro Reforma da Previdência do Bolsonaro – PEC 6/2019

 

PEC 06/2019 | Reforma da Previdência de Bolsonaro reduz salário líquido e dificulta acesso à aposentadoria

O presidente Jair Bolsonaro entregou, nesta terça-feira (20), ao Congresso Nacional, a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 06/2010, que institui a reforma da Previdência.

O Sinpro-DF apresentará pelo Facebook, às 20h30 desta terça (20), os pontos mais importantes da PEC. Assista! E participe.

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PEC 06/2019, de Bolsonaro, impede aposentadoria e cria esquema fraudulento de desvio de dinheiro público

O governo Jairo Bolsonaro irá apresentar, nesta quarta-feira (20), a proposta de reforma da Previdência de sua equipe econômica. A proposta é tão grave e prejudicial  aos 60 milhões de trabalhadores contribuintes,  que todas as entidades de classe e outras organizações têm se reunido para estudar o projeto. Assim que estiver com o documento, o Sinpro-DF irá analisá-lo e irá mostrar como ficará a situação dos(as) professores(as) e orientadores(as) educacionais.

O que já se sabe é que, na proposta a ser apresentada, além da capitalização, que é um conceito contrário ao de previdência, Paulo Guedes, ministro da Fazenda, inclui a securitização, um esquema fraudulento de desvio, para o mercado financeiro, das arrecadações tributárias do Brasil coletadas pelo Estado.

“Esse esquema fraudulento de drenagem de dinheiro público para os bancos está prestes a ser votado na Câmara dos Deputados, nesta terça-feira (20), pelo PLP 459/2017, e também está na reforma da Previdência de Bolsonaro”, alerta Maria Lúcia Fattorelli, auditora fiscal e coordenadora da Auditoria Cidadã da Dívida – uma associação criada para realizar, de forma cidadã, a auditoria da dívida pública brasileira.

Em resumo, o que a reforma da Previdência do governo Bolsonaro traz é uma proposta para dificultar ainda mais o direito à aposentadoria aumentando a idade, exigindo mais tempo de contribuição, criando gatilhos que podem aumentar ainda mais o percentual de contribuição e, o mais grave dela é que ela traz o que a equipe de Bolsonaro está chamando de “nova previdência”, que é a tal da capitalização, que nem poderia ser chamada de previdência.

Maria Lúcia Fattorelli esclarece que a capitalização é um modelo de aplicação financeira de alto risco sem a participação do Estado. Nesse modelo, o trabalhador terá uma conta no banco na qual ele irá fazer aplicações. Vai pagar altas taxas de administração e a instituição vai aplicar em aplicações de risco no mercado financeiro sem nenhuma garantia de que irá haver um benefício futuro. E poderá vir exatamente o contrário, como já aconteceu em vários países, poderá vir uma conta para pagar.

“Isso pode acontecer porque a aplicação pode dar errado, uma vez que o mercado financeiro sempre tem as suas crises e, quando dá errado, o trabalhador tem de cobrir o rombo daquele fundo que é criado para pagar os benefícios. É uma coisa de alto risco. Não tem benefício definido. Trata-se de um programa de contribuição definida”, alerta a auditora.

Ela explica que a expressão “nova previdência”, usada pela equipe de Bolsonaro para convencer o povo a aceitar a reforma da Previdência por capitalização, é um grande eufemismo porque isso não é previdência. “Previdência é sinônimo de segurança. Não tem nada que ver com capitalização porque capitalização é uma coisa de risco. Isso é gravíssimo”.

SECURITIZAÇÃO – ESQUEMA PARA DESVIAR O DINHEIRO PÚBLICO 
A auditora alerta para outro problema da reforma da Previdência de Bolsonaro ainda mais grave: a questão da securitização. É que no Brasil está entrando esse esquema, ainda ilegal porque o PLP 459 não foi aprovado, e está na pauta da Câmara dos Deputados para esta terça-feira (20), portanto, não tem autorização nem legislação federal no Brasil que autorize ceder fluxo de arrecadação tributária.

“O que está por trás do trecho de um inciso do artigo 249 da proposta de reforma da Previdência de Bolsonaro é a cessão do fluxo da arrecadação tributária. No texto que o presidente Jair Bolsonaro apresentará nesta terça e fará discurso à noite para convencer os brasileiros a aceitarem a reforma da Previdência proposta por ele está escrito de forma mascarada de ‘cessão de direitos sobre créditos’”, explica.

Que direitos sobre créditos são esses? É o dinheiro que entra no banco. Dinheiro arrecadado de nossos impostos que vão ser desviados durante o seu percurso pela rede bancária e, antes de chegarem aos cofres públicos. Isso é gravíssimo. É coisa mais grave que já vi nos meus quase 40 anos de auditora fiscal porque isso cria um ralo na arrecadação tributária no meio do caminho e esse ralo só tende a crescer porque esse tipo de operação é altamente insustentável.

Além disso, o ente federado – estados, distrito federal, municípios – vão ser obrigados a ceder um volume cada vez maior de fluxo de arrecadação, comprometendo totalmente o funcionamento do Estado brasileiro. É um problema gravíssimo. Isso está mais bem explicado nos seguintes textos do link: https://auditoriacidada.org.br/?s=PLP+459

Clique no link do podcast a seguir e confira o primeiro capítulo de um programa de rádio dedicado a explicar a Previdência Social e a reforma da Previdência. Nesse primeiro programa, serão entrevistados os especialistas em Previdência Guilherme Delgado e Luciano Fazio.  Confira em https://outrohorizonte.wordpress.com/

 

Confira as séries de matérias sobre reforma da Previdência produzidas pelo Sinpro-DF

Matérias sobre reforma da Previdência 2019:
Sinpro-DF alerta: previdência por capitalização não deu certo no Chile

PEC da Previdência de Bolsonaro atende ao mercado financeiro e acaba com aposentadoria do trabalhador

Matérias sobre reforma da Previdência 2018:

Editorial | A política contra os trabalhadores

Brasil poderá ter previdência privada por capitalização

Governo federal gasta milhões com publicidade para aprovar reforma da previdência

Temer anuncia reforma da Previdência para outubro de 2018, mas isso depende do seu voto

Pressão popular obriga governo a recuar mais uma vez e a não votar reforma da Previdência. Mídia entra em cena para convencer a população

O impacto da PEC 287-A na vida dos orientadores educacionais

Confira aqui outras matérias sobre a reforma da Previdência 2017:

Folha do Professor Especial explica como será a aposentadoria do magistério público após reforma

Por que os professores têm aposentadoria especial?

Impactos da reforma da Previdência na educação básica

CPI da Previdência: Brasil tem um dos menores gastos com Previdência do mundo

Reforma da Previdência aprofundará doenças ocupacionais do magistério

Ministro da Fazenda vai a evento do Itaú, em Londres, anunciar reforma da Previdência em novembro

O impacto da PEC 287-A na vida dos orientadores educacionais

Governo gasta milhões para dar presente de grego a brasileiros: a reforma da Previdência

Após governo anunciar votação para 18/12, Sinpro lança nova campanha contra a reforma da Previdência

Governo federal gasta milhões com publicidade para aprovar reforma da Previdência

Em 2016, Sinpro-DF produziu primeira série de reportagens sobre a reforma da Previdência
Entre maio e novembro de 2016, o Sinpro-DF apresentou à categoria a primeira série de reportagens sobre a primeira versão do texto da reforma da Previdência, a PEC 287, esmiuçando os cálculos propostos pelo governo ilegítimo, explicando os prejuízos nefastos que iria causar na população e na categoria docente, desmascarando os interesses do empresariado e do sistema financeiro, contando a história e os motivos da criação, no Brasil, de um Sistema de Seguridade Social independente e sem nenhum tipo de rombo.

Confira aqui algumas das matérias da primeira série, todas as demais matérias que, embora o texto que irá ao Plenário seja o substitutivo, intitulado de PEC 287-A, os efeitos são os mesmo da PEC 287.

Reforma da Previdência e PEC 241/16 são imposições do FMI

Estudos demonstram que há superávit na Previdência e reforma é para retirar direitos

Reforma da Previdência do presidente não eleito põe fim à paridade no funcionalismo

Governo manipula e chama as renúncias de rombo na Previdência

Confira aqui depoimentos das vítimas do golpe da previdência dado nos países de terceiro mundo pelo sistema financeiro. O vídeo está em espanhol, mas tem legenda em português:

Crisis de las pensiones en Chile – El negocio de las AFP

Área de anexos

Visualizar o vídeo Crisis de las pensiones en Chile – El negocio de las AFPs do YouTube

Reforma da Previdência: modelo chileno é alerta aos brasileiros

O fracasso do modelo de capitalização tem vários motivos. Um deles é a dificuldade de os trabalhadores permanecerem por longo tempo no mercado de trabalho sem interrupções. Em 2018, havia 10,7 milhões de trabalhadores filiados ao sistema das AFP, mas apenas 5,4 contribuíam de forma contínua.

Em 12 de novembro de 2018, mais de 300 pessoas se reuniram no auditório do Dieese, na região central de São Paulo, para ouvir o chileno Mário Reinaldo Villanueva Olmedo, dirigente da Confederación de Profesionales Universitarios de la Salud (Fenpruss). O evento promovido por 8 centrais sindicais também serviu para lançar a Campanha Permanente em Defesa da Previdência e Seguridade.

Mario Villanueva tinha sido convidado a falar sobre o modelo de Previdência Social chileno, cujo sistema — capitalização individual — faz parte da proposta de reforma previdenciária do governo Bolsonaro.

Na capitalização individual, cada trabalhador contribui mensalmente para sua aposentadoria numa conta separada dos outros trabalhadores, como se fosse uma poupança. É diferente do sistema atual — de repartição — em que todos contribuem para um fundo que mantém as aposentadorias e demais benefícios previdenciários e assistenciais.

Para trabalhadores da chamada “classe média”, a capitalização individual pode parecer tentadora. Afinal, esse estrato social contribui por mais tempo, já que está menos vulnerável à informalidade ou dispõe de recursos para manter a contribuição ao longo dos anos.

Não é tão simples assim. Em primeiro lugar, a capitalização individual elimina o caráter de solidariedade presente no sistema de repartição. Além disso, o fato de um trabalhador contribuir para sua própria aposentadoria não é garantia de que estará assegurada mais tarde.

É o que está acontecendo no Chile, segundo Olviedo. Passados 38 anos da adoção do regime de capitalização individual, a experiência chilena revelou-se um enorme fracasso, como se verá a seguir.

A experiência chilena
O Chile foi o primeiro país a privatizar a Previdência. A reforma aconteceu em 1981, durante a ditadura de Pinochet (1973-1990). No modelo chileno, cada trabalhador tem que contribuir com 10% do salário. Os recursos são aplicados no mercado financeiro por empresas privadas, as administradoras de Fundos de Pensão (AFP), que ainda ficam com 1,5% do que é poupado pelos trabalhadores.

Não existe contribuição patronal. Segundo Olviedo, o sistema remunera muito mal os trabalhadores, mas enriquece os bancos. O dirigente chileno afirmou que 78% das aposentadorias pagas pelas AFP são inferiores a 1 salário mínimo e 44% estão abaixo da linha de pobreza, o que levou o governo a criar, em 2008, fundo para complementar a renda desse grupo mais pobre.

Quando o modelo foi implantado, havia a promessa de que os aposentados receberiam perto de 70% de seu último salário. Hoje, a situação é muito diferente. O valor do benefício de um trabalhador é, em média, 33% do salário que ele recebia às vésperas da aposentadoria.

Para as trabalhadoras, a situação é ainda pior: em média, essas recebem apenas 25% do salário que tinham antes de se aposentar. Essa diferença existe, em parte, porque se aposentam mais cedo e usam parte dos recursos para outros fins”, como a licença maternidade.

O grau de penúria levou o governo a criar, em 2008, fundo para complementar a renda dos grupos mais pobres, com aportes de US$ 98 e de US$ 158.

Por que não deu certo
O fracasso do modelo de capitalização tem vários motivos. Um deles é a dificuldade de os trabalhadores permanecerem por longo tempo no mercado de trabalho sem interrupções. Em 2018, havia 10,7 milhões de trabalhadores filiados ao sistema das AFP, mas apenas 5,4 milhões contribuíam de forma contínua.

O outro motivo é o risco inerente às aplicações financeiras. Em 1981, a rentabilidade era de 12% e hoje é de apenas 4%. A crise de 2008 provocou perdas gigantescas que nunca mais foram recuperadas. Perdas, diga-se de passagem, para os trabalhadores, e não para as empresas gestoras, as AFP.

Esse quadro dramático levou ao surgimento do NO+AFP, movimento vigoroso contra o modelo adotado no Chile e que defende uma Previdência universal e solidária, com financiamento tripartite — trabalhadores, empresários e governo — e administrada pelo Estado.

Por este motivo, o NO+AFP está coletando assinaturas para apresentar projeto de lei de iniciativa popular que propõe mudança radical no sistema de pensões e defende a volta do modelo de repartição.

Em novembro de 2018, o governo acabou apresentando projeto de lei para aumentar gradualmente o valor das aposentadorias e tentar frear o movimento do NO+AFP.

A experiência chilena deve servir de alerta aos trabalhadores brasileiros. Paulo Guedes, o banqueiro que hoje atua como ministro da Economia, trabalhou na Universidade do Chile no início dos anos 80, quando a Previdência chilena foi privatizada. Em entrevista ao jornal britânico Financial Times, em 11 de fevereiro, Guedes chegou ao delírio de dizer que o “Chile é agora como a Suíça” [1] ao defender as reformas ultraliberais executadas pela ditadura militar chilena. É isso que ele agora promete para o Brasil.

(*) Professora de Geografia, diretora do Sinpro-SP e colaboradora do Diap

____________________________
NOTA
[1] Financial Times. Bolsonaro’s financial guru plans free-market perestroika, https://www.ft.com/content/fd0b68d0-2b25-11e9-a5ab-ff8ef2b976c7, acessado em 13/02/2019.

Por que os chilenos lutam contra o modelo de previdência que Bolsonaro quer copiar

Implementado na década de 1980, sistema de capitalização entrega aposentadorias menores que salário mínimo no Chile

Desde 2015, chilenos tomam as ruas contra modelo privado de aposentadoria; na foto, manifestação em Santiago em março de 2017 / Martin Bernetti / AFP

 

Há três anos, o Chile vive um ciclo contínuo de manifestações que coloca milhões de pessoas nas ruas em torno de um tema: o modelo da previdência vigente no país. Quase 40 anos depois de implementado, a previdência chilena, que inspira o presidente de extrema direita Jair Bolsonaro (PSL) a propor um sistema semelhante no Brasil, enfrenta uma crise profunda.

Na década de 1980, período em que o país era conhecido como “laboratório neoliberal” por conta da implementação de uma série de políticas privatizantes em áreas como saúde e educação, o Chile instaurou um modelo de previdência baseado em contas individuais, com contribuição obrigatória. A mudança, nunca implementada em nenhum outro lugar do mundo, foi feita por meio de um decreto de lei imposto pelo ditador Augusto Pinochet em 1981.

Ato em Santiago, capital do Chile, reuniu milhares contra o modelo privado de previdência em março de 2017. Foto: Martin Bernetti / AFP

Os fundos são administrados pelas AFPs [Administradoras da Fundos de Pensão] e investidos em aplicações financeiras. As primeiras gerações chilenas a se aposentar pelo sistema se depararam com o valor de aposentadoria abaixo do salário mínimo.

O cientista político Recaredo Gálvez, pesquisador da Fundación Sol, lembra que o sistema imposto em um ambiente antidemocrático não possibilitou a disseminação de informações corretas sobre o sistema e impediu o debate sobre as consequências que sua implementação traria para o país.

“Não havia real participação para discutir sobre essa transformação de política no Chile. E isso significou que muito do que a ditadura informou a respeito da mudança de sistema foi algo que não estava baseado em nenhum fato”, pontua.

No Chile, apesar de o modelo ter sido implementado pelos militares, as forças armadas não têm o mesmo sistema de aposentadoria porque se opuseram às contas individuais.

Quatro décadas depois, efeitos nefastos

Nos modelos solidários de repartição, como o brasileiro, os trabalhadores que estão no mercado de trabalho financiam, com aporte dos empregadores e do Estado, quem está se aposentado. No sistema de capitalização, lançado pelo Chile, cada pessoa é responsável por sua aposentadoria por meio de uma conta individual.

Para o advogado da Defensoria Popular dos Trabalhadores, Javier Piñeda, o modelo privatizado representa um risco para os trabalhadores. “Esta lógica de capitalização individual significa que cada pessoa tem que se salvar sozinha. E com as altas taxas de desemprego e de informalidade, isso significa que as pessoas estão condenadas a receber uma aposentadoria de miséria”, argumenta.

“O risco que existe é que esses fundos vão parar nas grandes empresas que negociam no mercado de valores. Portanto, a crise impacta nos trabalhadores. A crise do subprime de 2008 [nos EUA], por exemplo, provocou perdas milionárias para os trabalhadores e levou, pelo menos, cinco anos para recuperar o fundo perdido neste período.”

Trabalhadores em ato em outubro de 2018. Foto: Martin Bernetti / AFP

A promessa da ditadura de Pinochet era que os aposentados receberiam um valor que poderia chegar a 80% do seu último salário antes de se aposentar. Mas o que acontece hoje é que os chilenos recebem apenas 30% disso, explica o advogado.

“Ou seja, se um trabalhador tinha um salário de US$ 500, ele deveria receber uma aposentadoria de US$ 400. No entanto, a taxa de retorno está aproximadamente em 30%. Isso significa que esse trabalhador só está recebendo US$ 150”.

Cerca de 90% dos aposentados chilenos recebem menos de 147 mil pesos (R$ 833), aproximadamente US$ 225. Esse valor equivale a quase metade do salário mínimo do país que, a partir de março, será fixado em 301 mil pesos chilenos (R$ 1,7 mil), cerca de US$ 450 dólares.

Recaredo Gálvez destaca que outro efeito da privatização foi o aumento da desigualdade e uma maior concentração de mercado controlado. Hoje as AFPs são compostas, basicamente, por seis empresas — cinco delas estrangeiras.

Destas cinco empresas com capital internacional, três são controladas por empresas estadunidenses: Principal Financial GroupPrudential Financial e MetLife. Outra é controlada pela seguradora brasileira BTG Pactual.

“É um tipo de política que tem como motivação principal poder gerar uma fonte de absorção de capital através do esquema financeiro. E que acaba com o direito social aos trabalhadores e trabalhadoras”, diz o pesquisador.

Movimento “No + AFP”

Os movimentos populares do Chile estão preparando uma marcha em defesa da Seguridade Social no país para o dia 31 de março de 2019. “Esperamos que essa marcha também consiga colocar essa problemática em nível regional. Por isso é necessário falar da experiência chilena e o avanço que representa esse modelo no Brasil e em outros países da região”, explica Gálvez.

Polícia reprime ato contra as Administradoras de Fundos de Pensão no Chile em outubro de 2018. Foto: Claudio Reyes / AFP

Desde 2015, a população chilena ocupa as ruas para lutar pela Previdência. A ex-presidente Michelle Bachelet implementou, em 2008, o Pilar Solidário para auxiliar pessoas que não contribuíram com o sistema, mas não mudou a estrutura do sistema atual. Em resposta às mobilizações, o atual presidente, Sebastián Piñera, apresentou há dois meses, em dezembro de 2018, uma medida para injetar ainda mais recursos no setor privado.

A proposta de Piñera, consiste, em resumo, em aumentar progressivamente a taxa de contribuição de 10% para 14% para as administradoras.

O irmão do atual presidente, José Piñera, é o economista por trás da proposta do sistema de previdência privada do Chile que vigora hoje.

Ele era ministro do Trabalho e Segurança Social, e da Mineração, no regime ditatorial de Pinochet. O economista é um dos famosos “Chicago boys”, como ficaram conhecidos os economistas que adotaram a linha de pensamento neoliberal disseminada pela Universidade de Chicago — da qual o ministro da Economia do Brasil, Paulo Guedes, também faz parte.

Em 2016, no contexto das manifestações, foi formado o movimento No + AFP (Chega de AFP, em português). A entidade esboçou sua própria proposta de sistema de aposentadoria. “A tática do movimento é colocar esse projeto de lei como uma alternativa viável de construção de um novo sistema de previdência”, explica Javier Piñeda. O advogado participou da comissão que criou a iniciativa.

A principal reivindicação dos movimentos populares no Chile hoje é um sistema de repartição solidária entre trabalhadores, empresa e Estado — o mesmo que vigora no Brasil hoje.

Olhando para as discussões no país vizinho, que quer copiar o modelo tão questionado em seu país, o advogado chileno aconselha os brasileiros: “Nesse contexto de privatizações, vocês têm que se opor de maneira contundente porque, uma vez implementado esse sistema, vai ser difícil voltar atrás. Não só pelo governo, mas pelas empresas do grande capital nacional e internacional que serão beneficiados com esses recursos.”

Minuta da PEC da reforma da Previdência de Bolsonaro impede professor de se aposentar

As análises da versão preliminar da minuta da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) da Previdência, que o governo Jair Bolsonaro “deixou vazar” no início desta semana, indicaram como irá ficar a aposentadoria dos(as) trabalhadores(as) e da carreira do magistério público.

Para decifrar o texto, o Sinpro-DF realizou uma análise técnica e se deparou com mais um documento produzido pelo governo federal para dificultar o acesso e até mesmo retirar o direito do(a) trabalhador(a) à aposentadoria.

Na reforma do Bolsonaro (reforma da Previdência) há diferenças gritantes com as atuais regras. A aposentadoria especial para o magistério é mantida, porém, sobre profundas alterações provocando um impacto sem precedentes na vida da mulher.

Isso sinaliza para uma característica forte no governo do novo Presidente do Brasil: ele não tem projeto de valorização da carreira do magistério público e não respeita as diferenças, sobretudo relacionadas às jornadas de trabalho, das mulheres.

A atual previdência institui como condições para o(a) trabalhador(a) requerer o direito à aposentadoria, a idade e o tempo de contribuição. Na proposta de Bolsonaro, a condição será formada por uma tríade composta pela Idade (I), Tempo de Contribuição (TC) e Pontos (P). Os pontos são o resultado da soma da idade com o tempo de contribuição.

É com essa tríade que os(as) servidores(as) públicos(as) terão condições de requerer a aposentadoria. O governo federal chama de transição as regras que serão aplicadas de imediato aos(às) atuais servidores(as) públicos(as). Os(as) novos(as) servidores(as) terão outro regramento.

No entendimento da diretoria, a transição muda de conceito no projeto do governo federal. Trata-se de uma ilusão criada para confundir os e as atuais servidores e servidoras. A palavra “transição” foi colocada como uma expressão de conforto para uma mudança drástica que retira o direito do(a) trabalhador(a) de se aposentar e ter uma velhice saudável”.

A transição, portanto, existe e será aplicada a todos(as) os(as) atuais servidores(as) públicos(as) exceto aos(às) que, pela regra atual, já podem se aposentar, mas, por opção, preferem continuar trabalhando.

A diretoria do Sinpro-DF tem acompanhado todas as tentativas de reforma da Previdência e mobilizado a categoria em todos os momentos que governos tentaram retirar o direito sagrado à aposentadoria. Esteve presente e mobilizou a categoria para discussões e produziu vários periódicos e matérias no site para explicar as várias propostas de reforma da Previdência e o impacto de cada uma delas na vida dos(as) trabalhadores(as) da educação pública.

Em março de 2017, participou ativamente da greve geral nacional, convocada pela Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE), com todos os sindicatos da categoria em todo o país, contra a PEC 287 e PEC 287-A. Confira aqui a minuta da PEC da Previdência de Bolsonaro “vazada” para a imprensa.

Confira a seguir a explicação, por meio de gráficos e tabelas, da PEC de Bolsonaro (reforma da Previdência).

Confira, a seguir, matérias produzidas pelo Sinpro-DF sobre a reforma da Previdência desde a publicação da PEC 287.

Matérias sobre reforma da Previdência 2019
PEC da Previdência de Bolsonaro atende ao mercado financeiro e acaba com aposentadoria do trabalhador

Sinpro-DF alerta: previdência por capitalização não deu certo no Chile

Matérias sobre reforma da Previdência 2018:

Editorial | A política contra os trabalhadores

Brasil poderá ter previdência privada por capitalização

Governo federal gasta milhões com publicidade para aprovar reforma da previdência

Temer anuncia reforma da Previdência para outubro de 2018, mas isso depende do seu voto

Pressão popular obriga governo a recuar mais uma vez e a não votar reforma da Previdência. Mídia entra em cena para convencer a população

O impacto da PEC 287-A na vida dos orientadores educacionais

Confira aqui outras matérias sobre a reforma da Previdência 2017:

Folha do Professor Especial explica como será a aposentadoria do magistério público após reforma

Por que os professores têm aposentadoria especial?

Impactos da reforma da Previdência na educação básica

CPI da Previdência: Brasil tem um dos menores gastos com Previdência do mundo

Reforma da Previdência aprofundará doenças ocupacionais do magistério

Ministro da Fazenda vai a evento do Itaú, em Londres, anunciar reforma da Previdência em novembro

O impacto da PEC 287-A na vida dos orientadores educacionais

Governo gasta milhões para dar presente de grego a brasileiros: a reforma da Previdência

Após governo anunciar votação para 18/12, Sinpro lança nova campanha contra a reforma da Previdência

Governo federal gasta milhões com publicidade para aprovar reforma da Previdência

Em 2016, Sinpro-DF produziu primeira série de reportagens sobre a reforma da Previdência
Entre maio e novembro de 2016, o Sinpro-DF apresentou à categoria a primeira série de reportagens sobre a primeira versão do texto da reforma da Previdência, a PEC 287, esmiuçando os cálculos propostos pelo governo ilegítimo, explicando os prejuízos nefastos que iria causar na população e na categoria docente, desmascarando os interesses do empresariado e do sistema financeiro, contando a história e os motivos da criação, no Brasil, de um Sistema de Seguridade Social independente e sem nenhum tipo de rombo.

Confira aqui algumas das matérias da primeira série, todas as demais matérias que, embora o texto que irá ao Plenário seja o substitutivo, intitulado de PEC 287-A, os efeitos são os mesmo da PEC 287.

Reforma da Previdência e PEC 241/16 são imposições do FMI

Estudos demonstram que há superávit na Previdência e reforma é para retirar direitos

Reforma da Previdência do presidente não eleito põe fim à paridade no funcionalismo

Governo manipula e chama as renúncias de rombo na Previdência

Confira aqui depoimentos das vítimas do golpe da previdência dado nos países de terceiro mundo pelo sistema financeiro. O vídeo está em espanhol, mas tem legenda em português:

Crisis de las pensiones en Chile – El negocio de las AFP

Área de anexos

Visualizar o vídeo Crisis de las pensiones en Chile – El negocio de las AFPs do YouTube

PEC da Previdência de Bolsonaro atende ao mercado financeiro e acaba com aposentadoria do trabalhador

A minuta da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) do governo Jair Bolsonaro para a reforma da Previdência revelada, nessa segunda-feira (4), propõe o fim do Sistema de Seguridade Social em vigor, ao separar o conjunto das três políticas públicas que formam o sistema: saúde, assistência e previdência social.

Também aumenta para 65 anos a idade mínima para homens e mulheres se aposentarem e estende para 40 anos o tempo de contribuição para quem quiser ter 100% da aposentadoria. Para piorar, adota o sistema de capitalização de caráter obrigatório, copiado do modelo chileno.

O Sinpro-DF ainda analisa o documento.  A partir desta matéria publicaremos uma série mostrando os impactos da PEC da Previdência de Bolsonaro na vida dos trabalhadores da educação. As análises preliminares indicam que, assim como a PEC 287-A, a PEC de Bolsonaro é profundamente prejudicial à classe trabalhadora e ao magistério público.

Ambas eliminam o Sistema de Seguridade Social solidário e retiram o direito do trabalhador e da trabalhadora de se aposentarem. E fazem isso apenas para atender ao mercado financeiro. Acompanhe no site do Sinpro-DF o detalhamento da proposta a partir desta semana.

A novidade da minuta do governo Bolsonaro é que a proposta traz o sistema de capitalização implantado no Chile e que não deu certo como obrigação. É uma espécie de poupança, uma conta individual, que os trabalhadores serão obrigados a abrir para depositar um percentual do salário todos os meses para bancar seus benefícios no futuro. No Chile, esse modelo levou os aposentados à miséria.

Confira aqui matéria do Sinpro-DF sobre previdência por capitalização: “Sinpro-DF alerta que previdência por capitalização não deu certo no Chile”

Confira pontos principais da proposta de reforma da Previdência proposta pelo governo Jair Bolsonaro:

1 – Todos os trabalhadores (homens e mulheres) só poderão retirar o benefício a partir de 65 anos.
2 – O tempo mínimo de contribuição deve subir de 15 para 20 anos, após esse período o trabalhador poderá contar com apenas 60% do benefício.

3 – A cada ano a mais, 2 pontos percentuais serão acrescentados. Ou seja, a totalidade será obtida apenas depois de 40 anos de recolhimento.

4 – Aos servidores, o tempo mínimo de contribuição será de 25 anos.

5 – A idade mínima será elevada a cada 4 anos.

7 – Os professores e os trabalhadores rurais poderão se aposentar com 60 anos.

8 – Pessoas que trabalham em condições prejudiciais à saúde terão especifidades.

9 – Os políticos terão de se aposentar com a mesma faixa etária que o restante da população, mas os que estiverem em mandato terão que pagar um pedágio de 30% sobre o tempo restante de contribuição para ter acesso ao benefício.

10 – Haverá um período de transição que obedecerá a regras de pontuação, sendo de 9 anos para homens e de 19 anos para as mulheres (a pontuação equivale à soma da idade da pessoa com o tempo de contribuição).

11 – Os trabalhadores e os servidores precisam completar, inicialmente, 86 pontos (mulheres), e 96 pontos (homens). A pontuação subirá a cada ano e terá o limite em 105 anos.

12 – O trabalhador poderá pedir a aposentadoria por tempo de contribuição nos 5 anos seguintes após a promulgação da PEC, se atingir essas pontuações (haverá um abatimento no valor da aposentadoria com um fator previdenciário).

13 – Limite para o acúmulo de benefícios com desconto progressivo (no caso dos servidores, haverá um tempo de transição com idade mínimo de 57 anos entre mulheres, e 62 para homens, em 2022).

14 –A integralidade e paridade de servidor valerão para a aposentadoria aos 65 anos.

15 – O texto prevê o pagamento de R$ 500,00 às pessoas de baixa renda com 55 anos pu mais. Aos mais vulneráveis acima de 65 anos, a proposta será de pagamento de R$ 750,00. Também haverá restrição para o pagamento do abono salarial a quem recebe até um salário mínimo.

16 – O sistema de capitalização será implantado e regularizado por lei complementar, estabelecendo uma espécie de poupança. Entidades públicas e privadas serão as gestoras dos recursos. Os acionistas e os administradores responderão por eventuais dívidas. O trabalhador poderá utilizar parte do FGTS para capitalizar o fundo.

PRESSÃO DA MÍDIA E DO MERCADO FINANCEIRO
Desde o dia em que a PEC 287/2016 foi apresentada, a imprensa aterroriza os brasileiros sobre a necessidade de se aprovar uma reforma na Previdência por causa de um suposto rombo nas contas.

Mas quando a conta é feita e se computa todas as fontes de receitas e despesas com a Seguridade Social, verifica-se que o discurso do governo e da mídia é falso, o déficit é “fake” e por traz das mentiras estão, em primeiro plano, os interesses dos banqueiros e rentistas e dos  empresários que operam empresas de previdência privada.

Se fosse deficitária, os banqueiros não fariam de tudo para privatizar a previdência. Desde a aprovação da Constituição, em 1988, até o ano de 2015, o superávit de recursos da Seguridade Social tem sido impressionante. Dados oficiais segregados anualmente pela Anfip mostram que a sobra de recursos foi, por exemplo, de R$ 72,7 bilhões, em 2005; R$ 53,9 bilhões, em 2010; R$ 76,1 bilhões, em 2011; R$ 82,8 bilhões, 2012; R$ 76,4 bilhões, em 2013; R$ 55,7 bilhões, em 2014; e R$ 11,7 bilhões, em 2015.

Além dos estudos que comprovam que a Previdência é superavitária, outra prova de que não há nenhum rombo é que a primeira proposta de Bolsonaro, que institui a capitalização, foi bem recebida pelo mercado financeiro e classificada de “hardcore”. Ou seja, dura e comprometida com o ajuste das contas públicas.

A PEC do Mal, como vem sendo denominada, também embute vários aspectos graves retirados da PEC de Michel Temer. Ela engloba o esquema fraudulento da chamada “securitização de créditos públicos”, que não conseguiram aprovar em 2018 por meio do PLP 459/2017.

O parágrafo 4º do PLP 459/2017 diz que “a entidade gestora poderá ceder onerosamente os direitos originários de créditos tributários e não tributários inadimplidos, inscritos ou não em dívida ativa, bem como as receitas próprias geradas pelos impostos e os recursos provenientes de transferências constitucionais que forem aportados aos fundos previdenciários, não configurando dívida ou garantia para o ente federativo”.

O mercado financeiro pressiona o Brasil há décadas para acabar com o Sistema de Seguridade Social e entregar os recursos financeiros da Previdência para ele. No ano passado, a Previdência representou 24,48% do Orçamento Federal Executado (pago em 2018 = 2,621 trilhões). Quem não quer esse dinheiro?

Os poucos direitos que a classe trabalhadora brasileira tem hoje não têm nenhuma relação com rombo das contas públicas. Esse rombo decorre dos elevadíssimos gastos financeiros sigilosos. São sigilosos porque não sabemos quem recebe os juros mais elevados do mundo da opaca dívida pública que nunca foi auditada.

Que bancos receberam quase meio trilhão de reais para remunerar diária e ilegalmente a sua sobra de caixa? Daí a comemoração do mercado financeiro ao ver a minuta do ministro da Fazenda de Bolsonaro, Paulo Guedes.

Confira as séries de matérias sobre reforma da Previdência produzidas pelo Sinpro-DF

Matérias sobre reforma da Previdência 2019:
Sinpro-DF alerta: previdência por capitalização não deu certo no Chile

Matérias sobre reforma da Previdência 2018:

Editorial | A política contra os trabalhadores

Brasil poderá ter previdência privada por capitalização

Governo federal gasta milhões com publicidade para aprovar reforma da previdência

Temer anuncia reforma da Previdência para outubro de 2018, mas isso depende do seu voto

Pressão popular obriga governo a recuar mais uma vez e a não votar reforma da Previdência. Mídia entra em cena para convencer a população

O impacto da PEC 287-A na vida dos orientadores educacionais

Confira aqui outras matérias sobre a reforma da Previdência 2017:

Folha do Professor Especial explica como será a aposentadoria do magistério público após reforma

Por que os professores têm aposentadoria especial?

Impactos da reforma da Previdência na educação básica

CPI da Previdência: Brasil tem um dos menores gastos com Previdência do mundo

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Ministro da Fazenda vai a evento do Itaú, em Londres, anunciar reforma da Previdência em novembro

O impacto da PEC 287-A na vida dos orientadores educacionais

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Após governo anunciar votação para 18/12, Sinpro lança nova campanha contra a reforma da Previdência

Governo federal gasta milhões com publicidade para aprovar reforma da Previdência

Em 2016, Sinpro-DF produziu primeira série de reportagens sobre a reforma da Previdência
Entre maio e novembro de 2016, o Sinpro-DF apresentou à categoria a primeira série de reportagens sobre a primeira versão do texto da reforma da Previdência, a PEC 287, esmiuçando os cálculos propostos pelo governo ilegítimo, explicando os prejuízos nefastos que iria causar na população e na categoria docente, desmascarando os interesses do empresariado e do sistema financeiro, contando a história e os motivos da criação, no Brasil, de um Sistema de Seguridade Social independente e sem nenhum tipo de rombo.

Confira aqui algumas das matérias da primeira série, todas as demais matérias que, embora o texto que irá ao Plenário seja o substitutivo, intitulado de PEC 287-A, os efeitos são os mesmo da PEC 287.

Reforma da Previdência e PEC 241/16 são imposições do FMI

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