Reforma da Previdência é nebulosa e tira R$ 17 bi da economia, diz professor

O economista e professor Pedro Rossi, da Universidade Estadual de Campinas, afirmou que o debate em torno da “reforma” da Previdência no país está “muito nebuloso” quando trata da relação entre gasto público e desigualdade. Em audiência da comissão especial da Câmara que trata da Proposta de Emenda à Constituição que dispõe sobre a reforma, a PEC 6, Rossi alertou que, ao contrário do que prega o governo – sobre o pretexto de combater privilégios e desigualdades – a reforma da Previdência atinge em cheio a renda dos mais pobres – retirando-lhes por ano R$ 17 bilhões do bolso e também da economia – e não mexe em nada com o 1% mais rico da população.

Segundo Rossi, há “equívocos ideológicos” no debate. Pela proposta, as mudanças no abono salarial vão reduzir, em média, 5,7% da renda anual de 24 milhões de trabalhadores que ganham entre um e dois salários mínimos. Isso aumentaria a desigualdade social medida pelo índice de Gini de 0,5475 para 0,5489, de acordo com a análise do Centro de Estudos de Conjuntura e Política Econômica (Cecon), do Instituto de Economia da Unicamp.

Segundo o estudo, as profissões que mais devem perder são cozinheiros, trabalhadores de serviços de manutenção, porteiros/vigias e recepcionistas, entre outros. Mais de 60% dos ajudantes de obras, por exemplo, perderão essa renda anual.

De acordo com o estudo exposto na comissão, com a reforma da Previdência seriam retirados até R$ 17 bilhões por ano da economia, com impactos muito negativos ao país, já que esse dinheiro sairia do bolso de uma parcela da população que, consequentemente, deixaria de consumir.

“Grande parte dos assalariados vai perder o abono salarial e isso tem impacto distributivo e impacto macroeconômico”, disse Rossi. “Estamos tirando recursos que fazem girar a economia. Não tem argumento que me convença que tirar recursos dessas pessoas vai fazer a economia crescer. Crescimento é (formado por) consumo e investimento. Se tirar renda, as pessoas não vão consumir. Não entendo esse argumento.”

Segundo o economista da Unicamp, o problema não está em quem ganha salário mínimo. “O problema está no teto de gastos, com as limitações fiscais da Emenda Constitucional 95, que reduz o gasto público em 20 anos. O problema da desigualdade está nos 2% ou 1% mais ricos.”

De acordo com a pesquisadora Luciana de Barros Jaccoud, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), a mudança proposta pelo governo de Jair Bolsonaro e seu ministro da Economia, Paulo Guedes, para o Benefício de Prestação Continuada (BPC), no texto original da reforma, vai ter grande impacto social. Hoje, o valor do benefício é de um salário mínimo (R$ 998), mas passaria a R$ 400 para quem tem 60 anos e só chegaria ao valor do salário mínimo para quem completar 70 anos.

A pesquisadora do Ipea ressaltou que os problemas econômicos vividos por quem tem pessoas fisicamente vulneráveis ou com deficiência “não são apenas individuais, são problemas familiares”. Os gastos dessas famílias com saúde, alimentos especiais e outros são maiores. Além disso, pessoas que têm dependentes nessas condições na família têm mais dificuldade de conseguir emprego. “Mães de crianças de portadores de doença ou dependente não conseguem trabalho”, exemplificou Luciana.

O deputado Darci de Matos (PSD-SC) afirmou ao relator da PEC da Previdência, Samuel Moreira (PSDB-SP), que “é consenso a manutenção do BPC para idosos”. Ou seja, não haveria mudanças nesse ponto. “O Parlamento jamais votaria contra os idosos e os especiais”, disse Matos.

Em sua intervenção, a deputada Perpétua Almeida (PCdoB-AC) afirmou que o argumento do governo de que a reforma objetiva acabar com privilégios “é uma farsa”. “Só aos 70 anos os mais pobres passam a receber um salário mínimo. Quem ganha com isso? Talvez os banqueiros. Não podemos votar essa reforma. O que vamos dizer em nossos estados?.”

De acordo com o relator, a intenção é apresentar o parecer até o próximo dia 15 de junho. “Estamos trabalhando em cima do projeto que o governo enviou e vamos continuar assim. Se houver alterações, será apresentado um substitutivo, como sempre ocorreu na Casa, sem nenhum problema”, disse Moreira na segunda-feira (20), após reunião Paulo Guedes.

Com informações da CUT

Câmara discute esta semana BPC, aposentadoria de rurais, professores e policiais

Comissão especial da Câmara dos Deputados que analisa a reforma da Previdência retoma nesta semana audiências temáticas sobre alguns dos pontos mais polêmicos da proposta de Bolsonaro

A Câmara dos Deputados retoma nesta semana as audiências temáticas da comissão especial que analisa a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) nº 06/2019 da reforma da Previdência do governo de Jair Bolsonaro (PSL).

Entre os temas estão as alterações nas regras do Benefício de Prestação Continuada (BPC), que pode aumentar a idade mínima para pagamento e reduzir o valor do benefício, o corte no número de trabalhadores que recebem abono salarial PIS/PASEP, o endurecimento nas regras da aposentadoria do trabalhador rural e de categorias com critérios diferenciados como professores, policiais e magistrados.

BPC será discutido nesta terça

Nesta terça-feira (21), vão debater o BPC o assessor-chefe-adjunto da Presidência da República, Arthur Bragança Weintraub, o professor do Instituto de Economia da Universidade de Campinas (Unicamp), Pedro Rossi, a pesquisadora do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), Luciana Jaccoud, e o diretor de programa na Secretaria Especial de Previdência e Trabalho, Leonardo Rangel.

A proposta do governo é a de diminuir de um salário mínimo (R$ 998,00) para apenas R$ 400,00 o valor do BPC pago aos idosos que vivem em situação de extrema pobreza. O texto da PEC prevê que somente a partir dos 70 anos os idosos em condição de miserabilidade terão direito ao benefício de um salário mínimo integral. Para ter acesso ao benefício parcial (R$ 400,00), a idade mínima exigida pelo governo de Bolsonaro é de 60 anos. A medida não atinge pessoas com deficiência, que continuarão a receber o valor correspondente a um salário mínimo.

Hoje, para ter acesso ao benefício integral – R$ 998,00 -, é necessário que o idoso tenha 65 anos e comprove uma renda familiar per capita de 1/4 do salário mínimo.

Aposentadoria rural será discutida na quarta

As alterações nas regras de concessão da aposentaria do trabalhador rural serão discutidas na quarta-feira (22) com o secretário especial adjunto de Previdência e Trabalho, Bruno Bianco, com a advogada Jane Lúcia Berwanger, representante Instituto Brasileiro de Direito Previdenciário (IBPD) e com representante da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag).

A reforma de Bolsonaro pode retardar ou até mesmo acabar com o direito à aposentadoria dos trabalhadores rurais e também dos agricultores e das agricultoras familiares, que nem sempre têm renda para contribuir com o INSS e, por isso, estão na categoria de “segurados especiais”.

Pelas regras atuais, a idade mínima de acesso à aposentadoria dos trabalhadores rurais é de 55 anos para as mulheres e 60 para os homens, com obrigatoriedade de comprovar 15 anos de atividade rural. A alíquota de contribuição segue as mesmas regras dos trabalhadores da iniciativa privada. Já no caso dos agricultores familiares, é feita uma contribuição de 2,1% somente quando é vendido o excedente da produção.

A proposta de Bolsonaro prevê que tanto os homens quanto as mulheres rurais se aposentem apenas com a idade mínima de 60 anos. Além disso, os rurais terão de contribuir por 20 anos – e não mais 15 anos – para receber 60% da média de todas as suas contribuições. As famílias (grupo familiar) serão obrigadas a contribuir com R$ 600,00 ao ano, no mínimo, mesmo se não conseguirem produzir devido a dificuldades climáticas, financeiras ou de qualquer ordem. Portanto, mesmo que as famílias não consigam comercializar no período, terão de contribuir se quiserem ter acesso à aposentadoria. Os 20 anos exigidos para contribuição terão de ser comprovados por meio das notas de comercialização.

No caso dos rurais que têm bloco de notas comprovando a comercialização dos produtos, a contribuição é hoje de cerca de 1,2% sobre o valor das notas. Se as contribuições não atingirem os R$ 600,00 previstos na PEC, os trabalhadores serão obrigados a complementar de outra maneira, como carnês, por exemplo.

Aposentadorias especiais – professores etc 

Já as novas regras de aposentadorias com critérios diferenciados, como professores, policiais e magistrados serão debatidas na quinta-feira (23) com o secretário adjunto de Previdência no Ministério da Economia, Narlon Gutierre Nogueira, e com o presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Estabelecimento de Ensino (Contee), Gilson Reis.

Se a proposta de reforma da Previdência de Bolsonaro for aprovada, as professoras terão de trabalhar pelo menos mais 10 anos e os professoresmais 5 anos para alcançar a idade mínima de 60 anos para requerer a aposentadoria, além de 30 anos, no mínimo, de contribuição. E mesmo trabalhando e contribuindo durante 30 anos, receberiam apenas 80% do salário-benefício. Para receber o valor integral do benefício (100%), eles teriam de contribuir por 40 anos.

Pelas regras atuais, as mulheres se aposentam com 50 anos de idade e 25 anos de contribuição e os homens com 55 anos de idade e 30 anos de contribuição.

No caso dos professores da rede particular de ensino, não há a exigência de idade mínima, apenas a comprovação de 25 anos (mulheres) e 30 anos (homens) de contribuição.

Com informações da Agência Brasil e do Reaja Agora

Fonte: CUT Brasil

CNTE lança campanha: “Semana de calcular sua aposentadoria”

A Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE) convoca todas as entidades filiadas a participarem da “Semana de Calcular Sua Aposentadoria”, de 20 a 24 de maio, em todo país. Neste período a CNTE vai incentivar trabalhadores em educação e toda a comunidade a calcularem suas aposentadorias de acordo com as regras da Proposta de Emenda Consitucional (PEC) 06/2019, elaborada pelo governo federal.

Todos podem acessar a calculadora no portal do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), no endereço: https://www.dieese.org.br/calculadoraReformaPrevidencia.html, e fazerem simulações. Por essa ferramenta é possível descobrir em quanto tempo você poderá se aposentar, além de obter uma estimativa de valor a receber e uma comparação com o regime de previdência atual.

Ao contrário do que diz o governo Bolsonaro, a Reforma da Previdência não irá acabar com privilégios e estabelecer justiça social nas aposentadorias. Pelo contrário, ela reduz brutalmente direitos da maioria da população e mantém privilégios de militares, políticos e do alto escalão do funcionalismo público. Acesse o Jornal Mural da CNTE sobre a Reforma da Previdência e saiba mais sobre este tema.

CUT mostra a relator que reforma da Previdência pune os mais pobres

A CUT e mais cinco centrais sindicais estiveram reunidas nesta tarde de terça-feira (21), com o relator da reforma da Previdência, Samuel Moreira (PSDB), em Brasília, para levar as reivindicações dos trabalhadores e trabalhadoras, contrários à Proposta de Emenda à Constituição (PEC nº006), apresentada pelo governo de Jair Bolsonaro (PSL).

As centrais apontaram diversos problemas na reforma, que acaba tirando direitos dos mais pobres, como o fim do pagamento do PIS para quem ganha mais de um salário mínimo (se for aprovada pelo Congresso Nacional, mais de 21 milhões de pessoas deixarão de receber o PIS); as mudanças na aposentadoria rural, no Benefício de Prestação Continuada (BPC) , na mudança para o regime de capitalização e na imposição de idade mínima para a aposentadoria, de 65 anos para os homens e 62 para as mulheres, entre outros itens.

Segundo o secretário Nacional de Assuntos Jurídicos da CUT, Valeir Ertle, o deputado Samuel Moreira, disse que seu relatório trará mudanças na proposta do governo, pois como está, a reforma da Previdência não passa. Moreira, no entanto, não especificou quais as mudanças que fará em seu relatório.

“O deputado disse apenas que pretende proteger os que ganham menos e mudar o regime de transição, mas não falou como. Por enquanto, o relatório ainda é uma incógnita”, conta.

O secretário da CUT lembrou ao relator da PEC 006, que as centrais são contrárias à reforma da Previdência, e que os sindicatos estão lutando nas ruas com campanhas, coletando assinaturas e que farão uma greve geral no próximo dia 14 de junho

“Nós também mostramos ao deputado que há outras formas de arrecadação mais justa que pode ser conseguida com uma reforma Tributária e,que não é possível penalizar os mais pobres”, contou Valeir.

Segundo o dirigente da CUT, embora o relator da reforma da Previdência não tenha especificado quais os pontos de seu relatório que pretende alterar, a  reunião revelou,  que “se aumentarmos a pressão temos condições impedir esta atrocidade contra o povo brasileiro”.

Com informações da CUT

Reforma da Previdência pode jogar mais idosos na linha da miséria

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O modelo de Previdência Social do Brasil, solidário e de repartição, é o oposto da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) nº 06/2019 da reforma da Previdência do governo de Jair Bolsonaro (PSL). A proposta do governo reduz o valor e dificulta a concessão dos benefícios, não garante uma aposentadoria digna, não combate os privilégios e pode aumentar a pobreza e a vulnerabilidade social na terceira idade.

As conclusões estão no “Pequeno Atlas da Tragédia Previdenciária Brasileira”, divulgado nessa segunda-feira (20). Os pesquisadores Tadeu Alencar Arrais e Juheina Lacerda Viana, da Universidade Federal de Goiás, usaram como base dados oficiais do governo sobre as despesas e receitas da Previdência Social em dezembro de 2018 e atestaram a influência do modelo de repartição solidária na redução da desigualdade no Brasil, como mostra reportagem de Juca Guimarães, do Brasil de Fato.

Atualmente, a Seguridade Social, que abrange a previdência, a assistência social e as ações na área da saúde, é financiada pelas contribuições diretas de trabalhadores e empresários e indiretas por meio de parcela dos tributos destinados à seguridade social e recursos da União, Estados, Distrito Federal e municípios.

A proposta do governo prevê a criação de um modelo de capitalização da Previdência, no qual o trabalhador abre uma espécie de poupança para bancar sozinhos os possíveis auxílios e sua aposentadoria, pagando taxas as administradoras, fundos de pensão ou bancos. O texto da PEC propõe o fim da aposentadoria por tempo de contribuição, estabelece uma idade mínima de 65 anos (homens) e 62 (mulher) para concessão da aposentadoria, aumenta o tempo mínimo de contribuição de 15 anos para 20 anos, muda os cálculos do valor dos benefícios que serão de cerca de 60% do valor e praticamente acaba com as chances de aposentadoria dos mais pobres e dos rurais.

Acesse o ReajaAgora e entenda como a reforma afeta a sua vida no futuro.

Combate aos privilégios?

Ao destacar o perfil de renda dos beneficiários do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), o estudo dos pesquisadores da federal de Goiás desmente o argumento central da equipe econômica de Jair Bolsonaro: o combate aos privilégios.

Segundo o Atlas, o atual modelo é fundamental para a redução da pobreza e da vulnerabilidade social na terceira idade. “Difícil pensar que tais recursos são utilizados para acumulação de capital, tornando os aposentados do INSS uma classe privilegiada, especialmente quando constatamos que 43% do total de aposentados urbanos recebem até dois salários mínimos e outros 41% dos aposentados urbanos recebem entre dois e quatro salários mínimos”, explica trecho do estudo.

A pesquisa conclui que mudanças nas regras de proteção social, como a redução dos valores ou limites de acesso aos benefícios podem gerar um aumento significativo da pobreza na terceira idade.

Eles não sabem o que lhes foi tirado, apenas o que lhes foi dado.

– Thanos, Vingadores: ultimato.

É essa frase que os pesquisadores usam na abertura do texto. Trata-se de uma citação cinematográfica para exemplificar o risco que a atual geração corre sem perceber: “Como disse o vilão Thanos, na ocasião do confronto com o Capitão América, no recém-lançado Vingadores: ultimato, que atraiu milhões de jovens para o cinema, é fácil tirar das pessoas aquilo que elas não sabiam que tinham. Quando esses milhões de jovens, fascinados pela ficção, descobrirem o que perderam, talvez seja tarde demais e terão, com consternação, que aceitar as migalhas que lhes serão ofertadas sob o rótulo de Nova Previdência”, dizem na abertura do estudo.

Com informações da CUT

Bancos vão ficar com 62% da renda do trabalhador se capitalização for aprovada

Simulação apresentada no Senado pela Unafisco prevê que taxa dos bancos aumenta a cada ano, podendo chegar a mais de 77%

Simulação apresentada hoje (20) em audiência pública na Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa (CDH) no Senado, sobre a reforma da Previdência proposta pelo projeto do governo Jair Bolsonaro (PSL), demonstra o fracasso que ocorreria com o sistema de capitalização que consta da proposta, levando o trabalhador aposentado à miséria.

Segundo dados do diretor de Defesa Profissional e Assuntos Técnicos da Associação Nacional dos Auditores Fiscais da Receita Federal do Brasil (Unafisco), Mauro José Silva, o valor das contribuições previdenciárias arrecadadas de empregados e empregadores foi de R$ 423,06 bilhões em 2018. Já a previsão de acréscimo no faturamento médio anual para as instituições financeiras, num sistema de capitalização, pode ser estimado em até R$ 388 bilhões, nos próximos 70 anos.

Silva explicou que o sistema proposto na PEC 6/2019 resultará num valor acumulado pelo trabalhador, ao fim de 40 anos de contribuição, de R$ 275.804,02. Entretanto, a remuneração dos bancos, prevista na reforma, consumiria R$ 105.701,43 dessa quantia, o que equivale a mais de 62% do valor do patrimônio do empregado. Assim, esse trabalhador ficaria com apenas R$ 170.102,58.

No 59º ano, após ingressar no sistema de capitalização, esta porcentagem ultrapassaria os 77%. Um cenário que, segundo Silva, possibilitaria o recebimento de uma aposentadoria no valor de R$ 750, o que equivale a apenas um quarto do total contribuído. “Um sistema sem empregador, e com instituição financeira, é um fracasso. É condenar o trabalhador à miséria”, concluiu.

Silva considerou a capitalização um “sistema complicado do ponto de vista do trabalhador”. Para ele, além de significar a “transferência de renda” dos empregados para os bancos, essa modalidade não cobrirá benefícios já existentes, como o salário família e o salário maternidade.

A capitalização funciona como uma espécie de poupança: o dinheiro descontado mensalmente do salário de cada trabalhador vai para uma conta individual, e não se mistura com as contribuições dos demais beneficiários. Pelo sistema atual, o de repartição, os pagamentos feitos pelo pessoal da ativa financiam as aposentadorias dos inativos.

Dieese

Economista do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), Juliano Musse disse que o cenário é preocupante. Ele considerou a PEC 6/2019 uma “reforma impositiva” porque, segundo afirmou, a medida não passou por uma prévia discussão com os trabalhadores. Ao questionar quem são os maiores interessados com a reforma da Previdência, Juliano ponderou que outras questões, como o desemprego, a informalidade e a saúde dos trabalhadores que enfrentam doenças crônicas são mais urgentes e deveriam ser o foco do debate. “A reforma é importante, mas desde que não minimize direitos sociais conseguidos com a Constituição de 1988”.

O consultor do Senado Luiz Alberto dos Santos frisou que a PEC 6/2019 não é de fácil compreensão. Para ele, o texto apresenta contradições, traz incertezas e tende a gerar custos diferenciados para a empregabilidade das pessoas. Ao ressaltar que os mercados demonstram volatilidade ao longo do tempo, o especialista disse que o regime previdenciário baseado na capitalização pressupõe uma renda questionável, porque dependerá de quanto, efetivamente, aquela aplicação renderá. “No Brasil, nós temos renda média muito baixa. As pessoas não têm dinheiro para destinar a uma sistemática de provisão fora do regime público, e essa é uma diferença fundamental.”

Retrocessos

O representante do Coletivo Nacional de Advogados de Servidores Públicos, Guilherme Zagallo, alertou que experiências de privatização da Previdência significaram retrocessos em outros países: estagnação das taxas de cobertura, diminuição do valor dos benefícios e aumento da desigualdade de renda. Para o advogado, a desconstitucionalização da aposentadoria, pretendida pelo Executivo, significa um risco político porque, a cada governo, pode-se criar novas regras para a concessão do benefício.

O advogado mencionou que o Ato das Disposições Constitucionais Transitórias veda a renúncia de receita que a capitalização causará, desacompanhada da estimativa de impacto orçamentário e financeiro. Ele lembrou que o Brasil já passou por uma tentativa de privatização antes da instituição do INSS, quando houve a unificação dos regimes, mas disse que a medida não obteve sucesso. Guilherme comentou, ainda, que esse assunto tem sido omitido no debate sobre a PEC 6/2019.

“Não fomos bem-sucedidos no passado, em relação à experiência de capitalização. A promessa de melhoria da economia por meio dessa reforma não altera a realidade. É uma bomba social de efeito retardado”.

O coordenador do Movimento Legislação e Vida, Hermes Rodrigues Nery, considerou o sistema de capitalização o ponto mais grave da PEC 6/2019. Para ele, as poupanças pessoais são “qualitativamente diferentes” da seguridade social, já que não dispõem de garantia, nem previsibilidade. Além disso, Nery ressaltou que “poupar de maneira suficiente para uma aposentadoria decente é difícil para muitos trabalhadores”.

Fonte: CUT Brasil

Reforma da Previdência de Bolsonaro ataca pensão de viúvas e órfãos

Se reforma for aprovada, a pensão por morte será de 60% do valor do benefício dos dependentes de servidores e trabalhadores e trabalhadoras da iniciativa privada

A Proposta de Emenda à Constituição (PEC) nº 06/2019 da reforma da Previdência propõe a redução de 40% do valor das pensões por morte recebidas por viúvas, viúvos e órfãos dependentes de trabalhadores da iniciativa privada, ligados ao Regime Geral de Previdência Social (RGPS), administrado pelo Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), e também os servidores públicos, do Regime Próprio de Previdência Privada (RPPS).

Se a PEC for aprovada pelo Congresso Nacional, o valor da pensão será de 50% do valor do benefício que o segurado recebia mais 10% por dependente, inclusive para a viúva, viúvo ou órfão, filho não emancipado menor de 21 anos, até atingir o máximo de 100%. O limite do RGPS é o valor do teto do INSS, de R$ 5.839,45 em 2019.

O valor de 60% a ser pago corresponde a 20 anos de contribuição previdenciária. Se os pagamentos ultrapassaram esse período, o valor será acrescido de 2% para cada ano. O benefício só será de 100% em caso de morte por acidente de trabalho e doenças profissionais.

ARTE DA AGÊNCIA SENADOArte da Agência Senado

As pensões concedidas antes da nova lei entrar em vigor não terão seus valores alterados.

Como é hoje

Atualmente, o valor do benefício equivale a 100% da aposentadoria recebida pelo segurado ou ao valor a que teria direito se fosse aposentado por invalidez. Se houver mais de um dependente, a pensão é dividida entre eles.

Salário mínimo

Matéria da Agência Senado sobre o tema revela que analistas da proposta estão questionando o fato de que não foi estipulado nenhum valor mínimo para o pagamento do benefício. Isso, dizem, abre a possibilidade de a pensão ficar abaixo de um salário mínimo (hoje de R$ 998,00), o que é proibido pela Constituição.

Na avaliação do economista Felipe Salto, diretor-executivo da Instituição Fiscal Independente (IFI) do Senado, a questão deve ser discutida pelo Congresso para solucionar o problema de vincular as políticas sociais ao salário mínimo.

“Vamos acabar então com a indexação? Não necessariamente. Você pode criar um indicador social para indexar os benefícios sociais. Você pode colocar valores que sejam um pouco abaixo para evitar essa correção automática. Então, há vários caminhos que podem ser escolhidos para que, inclusive, a política de salário mínimo tenha mais liberdade para ser corrigida”,analisa.

Acúmulo de benefícios

Além disso, a proposta do governo é limitar o acúmulo da pensão por morte com a aposentadoria. Atualmente é permitida a soma desses benefícios de forma integral. Também é possível o acúmulo de aposentadorias de diferentes tipos de regimes (público e privado).

Pelo texto da PEC, o segurado escolherá o benefício de maior valor, mantido em 100%, e receberá um percentual adicional do segundo, que terá descontos em percentuais crescentes em função do valor, até quatro salários mínimos. Quanto maior a soma dos benefícios, maior será esse limite.

A nova regra não será aplicada nas exceções prevista em lei: caso dos médicos e professores ou no acúmulo das aposentadorias do INSS com as do serviço público.

ARTE AGÊNCIA SENADOArte Agência SenadoServidores

Caso a reforma seja aprovada, as mudanças serão mais sentidas pelos dependentes dos servidores falecidos com a redução dos valores pagos pelo Regime Próprio de Previdência Social (RPPS).

Quanto menor for a média do salário de contribuição, menor será o valor da pensão por morte, independentemente do valor da última remuneração do servidor falecido.

A projeção dos analistas é de que os atuais servidores e os que ingressaram no serviço público antes da criação da previdência complementar (pela Lei 12.618, de 2012) e não migraram para o novo regime, ou antes da promulgação da emenda constitucional, sejam bastante onerados.

ARTE AGÊNCIA SENADOArte Agência Senado

Governo quer economizar 870 bilhões atacando aposentado que ganha até 2 salários

Em audiência pública da Comissão de Seguridade Social e Família da Câmara, o exemplo do Chile foi citado como fracasso do modelo de capitalização

CLEIA VIANA/CÂMARA DOS DEPUTADOS

Debatedores criticaram números da reforma da Previdência e modelo de capitalização proposto (PEC 6/19), mas Ministério da Economia defende que leitura é equivocada e que economia prevista precisa ser feita pelo governo.

Em audiência pública nesta quinta-feira (16) na Comissão de Seguridade Social, a coordenadora da Auditoria Cidadã da Dívida, Maria Lucia Fattorelli, afirmou que a reforma da Previdência foi proposta para resolver uma falsa crise provocada pelo Banco Central, que promove despesas com juros.

Ela explica que desde 1995 o Brasil produziu R$ 1 trilhão em superávit primário. Apesar disso, a dívida interna subiu de R$ 86 bilhões para quase R$ 4 trilhões. A atual crise, segundo Fattorelli, foi fabricada pelo custo da política monetária. Para ela, a economia de 1 trilhão de reais pretendida pela reforma da Previdência é apenas um valor que deixará de ser pago em aposentadorias, a maior parte (cerca de R$ 870 bilhões) do regime geral da Previdência, no qual 9 entre 10 aposentados recebem até 2 salários mínimos.

“Essa reforma não é para combater privilégios. R$ 870 bilhões vão sair dos mais pobres, do Regime Geral da Previdência. Os outros 20% que se pretende economizar vão sair de servidores públicos porque ele pretende aumentar a alíquota”, alertou.

Fattorelli acredita que ao tirar R$ 1 trilhão de nossa economia, o atual governo vai aprofundar a crise. “O objetivo da reforma é introduzir a capitalização que está dando errado no mundo inteiro”, completou.

Representante da Associação Nacional de Auditores Fiscais da Receita Federal (Anfip), Floriano Martins de Sá Neto ressaltou que o Brasil tem 13 milhões de desempregados e conta com 37 milhões de trabalhadores na informalidade, que não contribuem para o sistema. Uma reforma tributária, segundo ele, corrigiria essas distorções do regime.

Capitalização

Um sistema previdenciário com capitalização forma um caixa para cada contribuinte, a fim de financiar a aposentadoria no futuro. O sistema é criticado também pelo professor de direito previdenciário Ivan Kertzman. Ele afirma que o sistema previdenciário deve ser “solidário, não solitário”. O Chile foi citado como exemplo de país onde o regime de capitalização não funcionou.

Floriano Martins de Sá Neto afirmou ainda que o custo da transição entre o sistema solidário e o de capitalização vai na contramão da redução de gastos. No Chile, segundo o auditor, a transição teria custado 136% do PIB, após 34 anos de reforma.

Mas o secretário de Previdência do Ministério da Economia, Leonardo Rolim, discorda, afirmando que problemas enfrentados pelo Chile estão sendo ajustados.

“O Chile se deslocou da América Latina, tendo a previdência como motor do seu desenvolvimento. Não foi o único motivo, mas foi o motor do desenvolvimento do Chile, porque gerou poupança privada. Essa poupança privada fez gerar investimentos, reduzir juros, gerar empregos e o país cresceu”, enumerou.

Rolim destacou ainda que o Chile tem hoje o dobro da renda per capita do Brasil. “Quando criou a capitalização, era mais ou menos igual, talvez até um pouco menos do que a do Brasil”, informou.

Desconstitucionalização

A presidente da Associação Nacional dos Membros do Ministério Público da Bahia, Janina Schwenk, critica a desconstitucionalização promovida pela reforma. O texto retira da Constituição a previsão do reajuste do valor real dos benefícios.

Janina defende que mudanças na Constituição precisam respeitar os princípios dos constituintes originários. As regras de base da Previdência, segundo ela, não podem ser modificadas por uma Lei Complementar. “Pensamos que essa retirada de direito, que é uma garantia porque a Previdência é um direito social, constitui cláusula pétrea”, argumtou.

O deputado Eduardo Costa (PTB-PR), que presidiu a audiência pública, afirma que a Comissão de Seguridade Social vai continuar debatendo a Reforma da Previdência em reuniões futuras.

Fonte: CUT Brasil

Carlos Gabas: “A seguridade precisa reorganizar suas fontes de financiamento, mas não é desmontando e retirando direitos do trabalhador pobre”

Imediatamente após o golpe que culminou no impeachment da Presidenta Dilma, em 2017, há uma clara determinação do mercado financeiro de votar a reforma da previdência. O governo Temer, ilegítimo e rodeado de escândalos, não teve musculatura para levar o projeto a cabo e, com a eleição do novo Presidente, passou a ser do atual governo a missão de retirar da classe trabalhadora os direitos à proteção social conquistados ao longo de décadas.

A proposta não possui nenhuma credibilidade e nem a base social suficiente para aprová-la. O governo, entretanto, do mesmo modo que fez para eleger-se, está lançando mão de artifícios escusos para buscar os votos necessários entre os parlamentares e assim concluir seu projeto nefasto.

A classe trabalhadora está unificada na luta contra essa reforma que, além de não combater privilégios, massacra os mais pobres. No último dia 15 de maio, o ramo da Educação protagonizou um grandioso movimento de resistência. A CNTE chamou a grande Greve Nacional da Educação e, juntamente com outras entidades representativas do magistério, foi às ruas de braços dados com estudantes e outros setores que também se somaram aos trabalhadores da educação. O próximo passo é a Greve Geral convocada para o dia 14 de junho pela Central Única dos Trabalhadores (CUT), demais centrais sindicais e frentes populares.

A CNTE tem qualificado o debate sobre o tema e recentemente convidou o ex-ministro da Previdência, Carlos Gabas, para um painel exclusivo sobre “Reforma da Previdência e suas consequências para os trabalhadores”. Gabas é servidor do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) e ao longo de sua carreira exerceu importantes funções no seguro social. Atualmente ele é um dos quadros mais preparados para debater as questões relativas à proteção social e concedeu uma entrevista a nossa equipe de jornalismo, confira.

A Reforma da Previdência é necessária? Por que?
Desde o primeiro ano do governo do presidente Lula, nós defendemos uma reforma da previdência. Não só defendemos, como fizemos a Emenda 41, depois a Emenda 47 e depois, regulamentando a Emenda 41, a Lei 12.618/2012, que cria o mesmo teto de contribuição e de recebimento de benefícios para todos os trabalhadores da iniciativa privada, servidores públicos, do poder executivo, do poder legislativo, do poder judiciário e do Ministério Público.

O resumo dessa regulamentação (da Previdência Complementar do Servidor Público), é que qualquer servidor público, de qualquer dos três poderes, que entrou após a aprovação da lei, vai se aposentar com o teto de R$5.840,00, seja ele ministro do Supremo Tribunal Federal, seja ele juiz, seja procurador da República, seja médico, engenheiro, deputado, senador, exercendo qualquer cargo ou função pública federal estará sujeito a esse teto.

O Paulo Guedes está dizendo que tem que fazer mas, na verdade, isso já foi feito. Nós fizemos alguma reforma e vínhamos fazendo a continuidade desse rearranjo, dessa reorganização do sistema de previdência, com a sociedade. Nós entendemos que isso é necessário por vários motivos e o principal deles é que a sociedade evolui e as regras precisam evoluir junto. Temos algumas fontes de financiamento que foram pensadas e estruturadas em outro ambiente, em outro mundo do trabalho. Temos regras de acesso que foram pensadas há 30, 40, 50 anos.

Então, nós não temos problema em dizer que somos favoráveis a fazer uma reforma da previdência, mas não é essa que está sendo proposta, até porque nós temos divergência de que isso seja uma reforma. Para nós, isso é uma proposta de ajuste fiscal que faz o trabalhador pagar uma conta que não é dele.

A principal premissa para uma reforma é o diálogo. Precisamos ouvir os empregadores porque vamos mexer nas fontes de financiamento, precisamos ouvir os trabalhadores e precisamos ouvir os aposentados: todo mundo na mesa, com transparência, com os números sendo abertos para as pessoas olharem quanto se arrecada, quanto se gasta, especialmente quais são os setores da economia que tem isenções.

O governo tem muita renúncia fiscal, esse é um dos principais pontos que nós atuaríamos em nossa reforma. Vou citar um só, que é mais recente, criado no governo Temer, que é a isenção de tributos para empresas petrolíferas estrangeiras, a MP 795, que foi convertida na Lei 13.586, que concede isenção de todos os tributos a empresas petrolíferas estrangeiras que vieram explorar petróleo no Brasil. Isso é um absurdo! E, coincidentemente, o valor é de 1 trilhão de reais, o mesmo número da cabala do Paulo Guedes que diz que a gente precisa economizar 1 trilhão, mas não diz o porque, não apresenta um número ou uma planilha.

Então, nós defendemos uma reforma, a previdência precisa, a seguridade precisa reorganizar suas fontes de financiamento, mas não é desmontando e retirando direitos do trabalhador pobre, e não é colocando na conta do trabalhador uma crise econômica e um ajuste fiscal que ele quer fazer nas contas públicas de maneira equivocada: equivocada nas medidas e equivocada em quem paga as medidas.

Ela afeta todos os trabalhadores ativos, mas quem serão os mais afetados?
A proposta é ruim para todo o conjunto dos trabalhadores, não tem nenhum ponto que se salve, algum aspecto que a gente possa dizer que é menos mal. Ela é cruel e alcança o conjunto das trabalhadores e dos trabalhadores. Mas, na minha avaliação, há dois segmentos que são duramente afetados: as trabalhadoras e trabalhadores rurais da agricultura familiar, que são assegurados especiais, e os trabalhadores e trabalhadoras da educação, mais especificamente os que estão lotados no ensino básico e fundamental que tem uma carga de trabalho maior, com mais exigência física.

Aqui em São Paulo, onde estamos agora, por exemplo, as classes estão superlotadas, abarrotadas de alunos, em muitos casos mais de 50 por sala. Isso impõe um desgaste enorme aos professores. O governo que aí está foi eleito num processo fraudulento e cheio de enganação, então eu não o reconheço como um governo legítimo e depois que ele assumiu, o Brasil está vivendo uma verdadeira barbárie e para as professoras, mulheres, os efeitos são ainda mais negativos.

De janeiro até hoje aumentou muito o índice de feminicídios e isso se reflete nas escolas, pois as professoras são vítimas de agressões violentíssimas por parte de estudantes, de familiares de alunos, o que gera uma pressão psicológica intensa sobre esses profissionais. Ninguém dialogou com os professores para saber em que condições eles trabalham para avaliar se é justo fazer alguma modificação ou ainda o que eles precisam como proteção e garantia para exercer a sua profissão. Simplesmente vieram com uma regra que vai fazer que tenham que alongar seu período de trabalho por mais de 10 anos. Isso é um absurdo! Como dizer a uma professora que está prestes a se aposentar que ela terá que trabalhar por mais 10 anos e que depois vai ganhar bem menos do que receberia caso se aposentasse hoje? O governo além de alongar o prazo reduz o salário, isso é cruel! Não podemos aceitar esse tipo de coisa, precisamos aumentar a segurança, aumentar a oferta de formação para esses professores e, fundamentalmente, pagar um salário decente para que, ao final do mês, eles não tenham a preocupação se conseguem pagar o aluguel e colocar comida na mesa.

Nós constituímos um piso nacional que sequer é respeitado em vários locais e que, inclusive, é baixo. Temos que discutir em que condições esses profissionais estão exercendo suas funções. Ao mesmo tempo em que esse governo entrega um pacote de maldades com cortes brutais em vários segmentos, reduz o salário, aumenta o tempo de contribuição, acaba com aposentadoria por tempo de contribuição aumentando a idade das mulheres, principalmente, e reduz pela metade o valor do salário quando a pessoa chegar aos 65 anos. Lembrando que essa idade de 65 anos é móvel, terá o cálculo refeito a cada quatro anos e subirá. É inviável manter uma professora com 70 anos em sala de aula, pois não existe nenhuma condição que permita a essa profissional dar aula para uma sala de 50 ou 60 alunos, como está acontecendo na maioria dos estados.

Então nós somos contra essa reforma como está proposta. A que apoiamos faria uma revisão nas fontes de financiamento. A previdência tem sua estrutura garantida na Constituição e eles querem retirar todas as regras desse instrumento, o que consideramos um risco porque depois se altera através de leis ordinárias, medidas provisórias ou, no máximo, com uma lei complementar que não são quórum qualificado. Ao retirar isso da Constituição e permitir fazer reformas de qualquer maneira, as regras de proteção dos trabalhadores ficam muito fragilizadas e nós não faríamos isso nunca.

Outra medida que eles vão fazer, que está no artigo 201, é substituir o sistema solidário pelo sistema de capitalização individual, e não há chance disso dar certo. Isso foi feito em 30 países do mundo e 18 já voltaram atrás, porque não protege. Não existe nenhuma possibilidade de um sistema que tem característica de gerar lucro, como é de o capitalização, proteger trabalhador pobre. Isso não faz sentido em nenhum lugar do mundo, mas aqui há um interesse muito grande dos bancos e do ministro Paulo Guedes, que é um banqueiro, de implantar essa medida, obviamente para ampliar os lucros dos bancos para submeter a previdência pública e o sistema de proteção social público, à iniciativa privada como um produto para vender na prateleira. Isso foi implantado no Chile, que é um país vizinho, e gerou desproteção social, miséria, aumento da desigualdade social e aumento da concentração de renda. Então, nós não podemos defender isso e temos muita clareza de que a primeira medida para se equilibrar a previdência é ter emprego. O fundo de financiamento da previdência, que está no artigo 195 da Constituição, é composto por contribuições dos trabalhadores, dos empregadores e do governo. O Paulo Guedes propõe acabar com a contribuição dos empregadores, acabar com a contribuição do governo, e ficar só com a do trabalhador. Isso não viabiliza o sistema. E quem é que vai pagar as atuais aposentadorias? Isso é o chamado “custo de transição”, que o Paulo Guedes diz que não é possível estimar, mas no Chile custou 1,36 vezes o PIB (Produto Interno Bruto) e a CEPAL (Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe) estima que no Brasil custará 2 vezes o PIB, ou seja, 14 trilhões de reais. E quem vai pagar essa conta? A grosso modo, o que Paulo Guedes está propondo é que troquemos um déficit de 4% do PIB por um de 200% do PIB. Não concordamos de maneira nenhuma com essa proposta; na forma, porque não debate com ninguém e no conteúdo porque tira direito de trabalhador e não mexe com privilégio de ninguém, aumenta as isenções fiscais e não reorganiza as fontes de financiamento.
Atualmente dependemos muito de folha de salários, precisamos fazer a migração para contribuição sobre valor agregado e isso tem que ser debatido com os empresários. No mundo do trabalho há um processo natural de substituição de gente por tecnologia, esse é um processo da evolução que não vai parar, então nós precisamos nos adaptar a ele e substituir a folha de salários por valor agregado. Essa é uma discussão central que nós faríamos na nossa proposta, ou seja, tem saída.

Os outros países, especialmente os países europeus, que já passaram pelo período de transição demográfica que estamos passando, enfrentaram seus desafios e venceram reorganizando suas fontes de financiamento. Porque o Brasil tem que desmontar o sistema, acabar com ele e substituir pela privatização da previdência? Além de desamparar o trabalhador, aumentar a miséria e a desigualdade social, isso também causa uma estagnação da economia e precisamos fazer o contrário, colocar dinheiro para que a roda da economia volte a girar.

A população ainda está muito perdida nesse tema, mas é fato que a grande maioria quer se aposentar. Na sua opinião, qual narrativa devemos adotar para mobilizar a população, e mesmo a nossa base, para o enfretamento dessa reforma como está proposta?

Sobre disputa de narrativa, essa disputa da ideia de Reforma, o governo está sendo muito eficiente. Ele está colocando que ela combate privilégios, que o rico vai pagar mais e o pobre vai pagar menos. Isso não é verdade, basta fazermos a conta de onde estão os benefícios que serão retirados, e é no Regime Geral, então, a pergunta é: quem ganha R$1.400,00 é rico ou pobre? Claro que é pobre! Outro ponto fatal no debate com a sociedade: o governo diz que a reforma é boa para a população, no entanto está oferecendo 40 milhões de reais para cada deputado para aprovar a Reforma. Ora, porque para aprovar ‘uma coisa tão boa’ é preciso pagar um deputado? Se ela fosse boa mesmo o deputado iria votar e comemorar com a sociedade! Eles estão escondendo os números, deputados não vêm para o debate, e mais, o governo faz duas propostas distintas, sendo uma para toda população brasileira, exceto para os militares, para os militares ele faz uma proposta totalmente diferente! Por que será? Por que para os militares não tem capitalização? Por que para os militares a idade não é igual? As contribuições não são iguais, a média não é igual? Por que? Então vamos fazer o seguinte, vamos inverter essa proposta? A que ele fez para os militares damos para nós, para o restante da sociedade, para o servidor público e para a iniciativa privada.E os militares ficam com a proposta que ele fez para a sociedade brasileira. Vai ter algum acordo? Eles vão trocar? Não, não vão! Porque será que eles não querem? Eu fiz uma provocação para o Paulo Guedes: propus a ele que, já que a capitalização é tão boa como ele diz, que ele a implante para os militares e aí, se eles aceitarem, se funcionar, a gente topa! É esse tipo de pergunta que a gente tem que fazer. Se o negócio fosse bom mesmo, ele não teria que pagar deputado, se a proposta fosse boa mesmo os militares estariam pedindo para eles, mas eles não querem essa proposta. Alguma coisa tem que estar errada nela, o que governo falar não é verdade, ela não combate os privilégios, ela não vai equilibrar a previdência, vai aumentar a miséria, aumentar a desproteção e tornar o servidor público, em especial, um escravo: ele vai morrer trabalhando. Então devemos alertar nossos companheiros e companheiras servidores públicos: abram os olhos, nós vamos morrer trabalhando, ele corta pensão, chega a cortar até 1/3 do valor, 36% do valor da pensão, isso é crueldade e tem gente que não está percebendo. Infelizmente.

Editorial | A bem-sucedida Greve Nacional da Educação rumo à Greve Geral de 14 de junho

Professores e professoras, orientadores e orientadoras educacionais do magistério público do DF durante a Greve Nacional da Educação em 15/5/2019

Um dia depois da Greve Nacional da Educação contra o corte de 30% no setor, a equipe econômica do governo Bolsonaro prevê mais bloqueios que podem variar de R$ 5 a R$ 10 bilhões em razão da nova estimativa de receita que poderá ser divulgada ainda nesta quinta-feira (16).

Os cortes são efetuados no âmbito da Lei de Responsabilidade Fiscal – uma lei criada no governo Fernando Henrique Cardoso (PSDB) para atender e escoar dinheiro público para o sistema financeiro (bancos) por meio de um instrumento de desvio de dinheiro público denominado dívida pública: uma dívida sob suspeita que nunca foi auditada.

Nem mesmo a grande mobilização popular dessa quarta-feira (15) não foi suficiente para demover o governo dos cortes na educação. A Greve Nacional da Educação, convocada pela Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE) para ser um protesto contra a reforma da Previdência (que irá afetar negativamente todo o magistério do país), foi fortalecida e ampliada com as pautas sobre os cortes de verbas do setor da educação.

Com habilidade e experiência, a CNTE manteve o foco na luta contra a reforma da Previdência e, ao mesmo tempo, abarcou a pauta dos cortes que destroem não só a educação básica e superior pública e gratuita, mas, extingue a pesquisa científica produzida nas universidades federais e estaduais públicas.

As fake news do dia seguinte
Contudo, o noticiário do dia seguinte não tratou a ação popular com respeito. A grande mídia do Distrito Federal disse que apenas seis mil pessoas compareceram no gramado imenso da Esplanada dos Ministérios. Mas, em Brasília, cerca de 50 mil pessoas participaram da Greve Nacional da Educação.

Esse tipo de manipulação é denominada de fake news e sucede em todas as regiões do país: a imprensa reduz o número de participantes para desqualificar a grande manifestação popular que aconteceu nessa quarta-feira, arrefecer a opinião pública e desunir a classe trabalhadora.

Em Salvador, Bahia, mais de 70 mil pessoas. E, assim, a greve mobilizou mais de um milhão de pessoas em mais de 220 municípios. Todas as capitais levaram multidões às ruas. Ao vermos o país explodir em protesto contra os cortes na educação e contra a reforma da Previdência, vimos que o Brasil deu uma resposta como nunca se viu em defesa da educação.

Um movimento cívico, forte e suprapartidário
O Brasil viveu, mais uma vez, um imenso movimento cívico, suprapartidário, democrático, que envolveu centenas de milhares de defensores(as) da pesquisa científica, da escola pública e gratuita, da educação de qualidade e de um país soberano. Foi um movimento comparado às Jornadas de Junho de 2013. Um grande ato preparatório para a Greve Geral de 14 de junho.

Assim como a imprensa, o Presidente da República ofendeu, omitiu e mentiu quem foi às ruas e também quem não foi, mas, apesar de não ter ido, está do lado de quem paga impostos para ter investimentos do dinheiro público nos setores sociais do país e de quem rejeita a privatização generalizada da educação pública superior e básica e o extermínio da pesquisa científica.

Com suas agressivas e desrespeitosas declarações, o Presidente da República cunhou, definitivamente, a marca de sua gestão: um governo sem nenhuma preocupação com a demanda social, já estrangulada pela Emenda Constitucional 95 (EC95), de 2016, que congelou por 20 anos investimento do dinheiro público nos setores essenciais para canalizar o 40% do Orçamento do Estado para o sistema financeiro.

O desprezo pelas lutas da classe trabalhadora
Numa demonstração de desprezo pelas áreas sociais, o Presidente da República despejou sua agressividade e intolerância contra as pessoas e as legítimas e autênticas manifestações populares ao classificar os manifestantes de “idiotas úteis” e “massa de manobra” e seu autoritarismo ao afirmar que, se tiver de fazer mais cortes, irá fazê-lo.

O gesto do Presidente da República consolida o já conhecido desprezo que ele tem pelas mobilizações populares e sua abominação aos diretos sociais. Bolsonaro abnega mais uma vez da possibilidade de ser um estadista para ser um reles ocupante do Palácio do Planalto que desrespeita, cotidianamente, brasileiros e brasileiras que discordam da política econômica entreguista, privatista e excludente adotada no país.

Nas redes sociais, o “Tsunami da educação”, nome dado pela imprensa independente à manifestação dessa quarta, engoliu a narrativa da mídia empresarial e dos fake news. A própria Rede Globo, no jornal Bom Dia Brasil desta quinta-feira (16), confirmou que a gestão Bolsonaro é um fiasco ao mostrar que o período em que a educação foi mais valorizada e teve mais investimento foi entre 2008 e 2017. Ela disse que, nesse período, houve um aumento de investimento na educação de 91%, a 7% ao ano.

O fim do Fundeb e o desnorteio do ministro da Educação
Ela também chamou atenção para a crise do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (Fundeb), que irá ser extinto em 2020 e o governo Bolsonaro nem sequer o pautou no Ministério da Educação (MEC).

Criticou o ministro da Educação, Abraham Weintraub, que, em vez de falar de temas relevantes e pendentes da educação, foi à Câmara dos Deputados, nessa quarta-feira (15), para ofender parlamentares. Com agressividade e sem foco, o ministro não soube justificar tantos cortes financeiros na educação para verter tanto dinheiro público para o sistema financeiro por meio da chamada “dívida pública”.

Na sabatina, ele não falou nada, por exemplo, sobre o Fundeb, cuja extinção está prevista para ocorrer em 2020. O fim do Fundeb não é uma preocupação do governo de plantão. E ao permitir sua extinção, o governo Bolsonaro irá eliminar, mortalmente, o direito dos(as) estudantes à educação pública e reduzirá os salários dos(as) professores(as).

Mais do que isso, com o fim do Fundeb, irá prejudicar profundamente a economia dos estados e municípios porque, formado com dinheiro dos estados e municípios e, uma parte, com dinheiro federal, o Fundo é o grande financiador da educação básica e colaborador das regiões mais pobres. É o principal instrumento para combater as desigualdades e financiar a educação.

A Greve Nacional da Educação foi um sucesso e mostrou que a classe trabalhadora e os movimentos sociais, como os movimentos docente e estudantil, estão atentos e preparando o país para combater todos os ataques à educação, à Previdência e demais direitos sociais. É por isso que o Sinpro-DF permanece em luta contra o desmonte da educação, da saúde, da Previdência e da Assistência Sociais, e de todas as políticas públicas. Convocamos a todos e todas para a Greve Geral no dia 14 de junho.

Clique aqui e confira o comentário da jornalista Miriam Leitão sobre os cortes na Educação.

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