Profissão Professora – PNAIC: uma posposta que dá resultado
Jornalista: sindicato
O Pacto Nacional pela Educação na Idade Certa (PNAIC) é uma proposta que vem dando certo, porque envolve um olhar para a alfabetização e busca uma maneira de se preocupar com o início da vida escolar dos alunos, de forma positiva. O Pacto começa pela base, preparando o professor com um curso realizado em dois anos, auxiliando-os em suas atividades pedagógicas, onde o aluno é o beneficiado por excelência. Ideias, sugestões e estudos colaboram no curso para que o professor alfabetizador cresça como educador e transmita este aprendizado aos alunos.
O PNAIC é uma proposta de âmbito Federal. Isto propõe oportunidades de estudos e aprendizagens desde as grandes capitais aos vilarejos de interior, e a perspectiva de crescimento do aluno começa a existir independente do estado. Além disso, a bolsa que o professor e o orientador do curso recebem é um grande incentivo, principalmente para as cidades de interior que nem sempre tem oportunidades de se reciclar.
Para a professora Cláudia Caires Silva, da Escola Classe 410 de Samambaia, o Pacto Nacional pela Educação está contribuindo muito. “Estou adquirindo concepções que estão ajudando a reciclar e mudar a minha prática pedagógica e com isso acredito que a alfabetização na idade certa tem tudo para dar certo. Acredito também que leis e projetos ligados à educação nem sempre são colocados em prática, e o PNAIC vem de encontro com aqueles que se preocupam de alguma forma com uma educação de qualidade, pois o futuro do nosso país tem tudo para ser melhor se valorizarmos a educação”, afirma a professora.
Nome: Cláudia Caires Silva
Função: Professora
Série: 2º ano – Ensino Fundamental
Tempo de magistério: 27 anos
Escola: Escola Classe 410 de Samambaia
Profissão Professor – A realidade de quem trabalha em escolas de zona rural
Jornalista: sindicato
“Apesar dos problemas, a troca de experiências entre alunos e professores é gratificante. Aprendemos muito”. A fala do professor Marcos Alves Pires, da Escola Classe Riacho Fundo Rural (Ruralzinha), expressa um pouco da realidade de quem trabalha e dos que estudam em escolas de zona rural do Distrito Federal.
Mas apesar do bom ambiente e das experiências, a realidade mostra algumas preocupações.Com a necessidade de ter um planejamento pedagógico voltado para a realidade de um aluno que estuda e vive em uma zona rural, o professor revela que o aumento da quantidade de alunos oriundos da zona urbana, motivado pela falta de escolas nestas áreas, e a dificuldade na locomoção são algumas das dificuldades enfrentadas pelos estudantes.
“Muitos chegam com uma demanda de ensino deficitária, precisando de algum tipo de reforço, enquanto nos vemos cercados por alunos que vem da zona urbana. Isto traz uma responsabilidade ainda maior, principalmente porque aumenta o número de alunos nas salas de aula, muitos com níveis de conhecimento diferentes”, comenta Marcos Alves, complementando que a maior parte das escolas do DF oferece transporte da casa do aluno à escola, “o que diminuiu consideravelmente o número de faltas”.
Em relação às expectativas para o futuro, o educador espera que o governo valorize o profissional de educação que trabalha na zona rural, já que vários desanimam devido às dificuldades de locomoção e da perda de gratificações. “Acredito muito na minha profissão, é a que escolhi para transformar minha vida e para contribuir também na transformação de outras pessoas. Apesar de todos os problemas, o ato de educar é apaixonante”, conclui o professor da Escola Classe Riacho Fundo Rural.
Nome: Marcos Alves Pires
Função: Professor
Série: 4º ano
Tempo de magistério: 16 anos
Escola: Escola Classe Riacho Fundo Rural (Ruralzinha).
Profissão Professora – Formação contínua leva à evolução profissional
Jornalista: sindicato
“Diziam que não iria demorar muita para eu me decepcionar com a profissão, mas isso não aconteceu até agora”. Assim, a professora Noemia Maria da Silva, com 20 anos de magistério, define sua visão sobre a carreira. Lecionando no Centro de Ensino Infantil de Águas Lindas e no CEF 01 do Riacho Fundo II, ela tem a expectativa de que a categoria irá conquistar o mesmo status que outros profissionais de nível superior.
Noemia também assinala que a qualidade profissional dos educadores está em crescente evolução. Para ela houve uma marcante melhoria nas condições de trabalho, graças à união e ao empenho da categoria em busca de conquistar o respeito profissional. A professora destaca que a formação continuada conduz à evolução profissional e enaltece a atuação do Sinpro ao disponibilizar cursos de formação para a categoria.
As conquistas dos professores e professoras, segundo Noemia, são fruto de muitas lutas, entre elas a greve da categoria que durou 72 dias, em 1992. Noemia lembra também das mobilizações nas ruas no início da carreira, quando os educadores eram obrigados a encarar a repressão e enfrentar até os cães das forças policiais.
Sobre a atual condição da infraestrutura nas escolas do Distrito Federal, a professora diz que tem visões diferenciadas, já que atua em dois setores distintos: educação infantil e ensino fundamental. Ela diz que no CEI há uma boa infraestrutura para os professores e alunos. “Falta muito pouco para chegar ao ideal”, acrescenta.
Já no CEF, as coisas são diferentes. Noemia atribui a diferença entre as escolas à própria comunidade a que elas estão ligadas. No CEI, segundo ela, há uma grande participação dos pais e interesse em se ter uma escola de qualidade. Já no CEF isso não ocorre e, até pelo contrário, existe uma depredação da escola pelos próprios alunos. Noemia ressalta também que a fomentação de verbas diretamente às escolas foi de grande valia para a melhoria da infraestrutura escolar.
A professora atualmente faz uma pós-graduação na Universidade de Brasília e continua empolgada com a carreira de educadora, tanto que ainda pretende fazer um mestrado e até um doutorado.
Nome: Noemia Maria da Silva
Função: Professora
Série: Ensino Infantil e Fundamental
Tempo de magistério: 20 anos
Escola: Centro de Ensino Infantil de Águas Lindas e CEF 01 do Riacho Fundo II
Profissão Professora: Uma profissão que requer constante formação
Jornalista: sindicato
“Penso que para a formação do professor, além dos conhecimentos técnicos, bem fundamentados, o fator indispensável a essa formação é o amor à causa, aliado, claro, a afinidade com a profissão e a capacitação”. A opinião é defendida pela professora Elvane Rocha Morato, especialista em Educação e há 02 anos exercendo a função de gestora no Centro de Ensino Fundamental 04 do Guará.
Para ela, um dos mandamentos para uma nação chegar ao topo da Educação é cuidar da formação do docente, já que o professor precisa se atualizar sobre conhecimentos tecnológicos, políticos, pedagógicos, éticos e de relacionamentos que surgem com a evolução da sociedade.
“Não basta recrutar os melhores. É preciso manter os professores sempre atualizados”, afirma a professora, que acredita que o acúmulo de conhecimento e a atualização são desafios permanentes na vida dos educadores. “A única forma de melhorar resultados é investir na instrução”.
Mas a professora ainda lembra que não basta ter especializações para ser um bom profissional. É preciso ainda ser um entusiasta e defensor da profissão que atualmente enfrenta inúmeros desafios. “Quem faz essa opção sabe o quanto ela é importante e indispensável, sobretudo nesta sociedade tão esquecida de valores, de trocas sensíveis que vão além do conhecimento científico e tão necessárias na formação humana. E como toda profissão, a carreira requer compromisso, dedicação, investimento e muito amor”, ressalta Elvane.
Existem várias maneiras de criar e disseminar as melhores estratégias de ensino, como tutoria, trabalhos em grupo, cursos sobre as didáticas específicas, entre outros. Em apenas três anos, o Reino Unido conseguiu um aumento de 12% nos índices de alfabetização ao apostar na formação em serviço. Já o Japão coloca professores para apoiar os iniciantes durante dois dias por semana, tudo amparado em lições-modelo.
O desafio brasileiro começa em superar as deficiências da formação inicial. “Não é só o aluno que precisa de um bom professor para aprender. O educador também necessita de bons formadores para fazer a diferença na sala de aula”. De acordo com a professora, as faculdades precisam realizar pesquisa sobre as dificuldades e a realidade. “Essa profissão, inegavelmente tão necessária e indispensável, ainda é muito carente de reconhecimento, valor e investimento. Ainda atende a interesses muito particulares, historicamente marcados em nossa educação”, explica.
Atualmente, diversos estados brasileiros investem na formação em serviço para melhorar a instrução dos professores. O problema é como isso tem sido feito. “O currículo e o cronograma precisam ser discutidos com os participantes. É necessário casar a teoria do curso com a prática em sala de aula para que a formação seja realmente útil”, destaca a professora.
Entretanto, a gestora lembra que não é possível anular um dos pilares mais sólidos do desenvolvimento da educação: idealismo do professor. Esse fator, segundo ela, possibilita a contribuição para a sociedade, preparando as crianças e os jovens para o futuro. “A nossa expectativa tem que ser otimista. Diante de nossa garra e luta em defesa dessa bela e sofrida profissão, percebo que os ganhos e avanços tem sido significativos e que a classe tem conseguido legitimar de forma digna a nossa causa. Sou professora sim, com muito orgulho!”, salienta.
Nome: Elvane Rocha Morato
Função: Gestora
Escola: Centro de Ensino Fundamental 04 do Guará Ver Mais…
Profissão Professor – Projetos realizados nos Centros de Ensino Especiais
Jornalista: sindicato
O Centro de Ensino Especial 01 (CEE) de Ceilândia atende, hoje, 400 alunos de 0 a 60 anos de idade com diversos tipos de deficiências, entre elas DV (deficiente visual) DA, (deficiente auditivo), DM (deficiente múltiplo), TGD (transtornos globais de desenvolvimento) e DI (deficiente intelectual). Ao todo são 134 profissionais para atender os alunos nos dois turnos da escola.
Para trabalhar com a inclusão dos alunos, a escola desenvolve vários projetos para atendê-los, começando pelo projeto Precoce, que recebe crianças recém-nascidas de zero até os quatro anos de idade. A partir dos quatro anos, as crianças são encaminhadas para o Regular, onde recebem o acompanhamento pedagógico e participam de outros projetos desenvolvidos dentro da escola, entre eles: Oficina Pedagógica, Educação Física, Oficina de Teatro, Oficina de Musicoterapia, e para ajudar no desenvolvimento dos alunos e na coordenação motora deles, a escola ainda conta com uma cozinha experimental, uma horta, jardinagem, além de trabalhos realizados na marcenaria da escola. A escola ainda proporciona aos alunos, pais e à comunidade o Projeto Semeando Ideias da tia Alice.
O projeto desenvolve todo o tipo de artesanato, bem como tapeçaria, flores, caixas para presente, porta-joias, porta-retrato, enfeites, bolsas, agendas com papel reciclado e roupas que são produzidas por alunos, pais de alunos, ex-alunos e pessoas da comunidade que necessitam participar da iniciativa. Na Educação Física os alunos têm aula de hidroestimulação, hidroterapia e as aulas de iniciação. São três piscinas aquecidas e cobertas para atender aos estudantes. A escola conta com quase 140 profissionais de educação.
O professor Wellington Batista, de Educação Física, trabalha no CEE 01 há 13 anos e conta que se sente feliz por realizar o trabalho com os alunos e demonstra uma enorme satisfação ao se lembrar do trabalho desenvolvido na escola com os alunos cadeirantes quando estes estão nas piscinas da escola, que aliás são limpas e cuidadas por ele mesmo. Wellington ressalta que é preciso um amor muito maior para trabalhar com pessoas com algum tipo de deficiência, porque é um trabalho lento. “O resultado demora muito pra ser visto, é diferente de ensinar uma criança ou uma pessoa normal que desenvolve em tempo real qualquer tipo de atividade. Quem está aqui ama realmente o que faz. Criamos laços tão fortes com essas pessoas, que sofremos demais quando ficamos sem alguns deles. Perdemos um aluno nosso que morreu aos 16 anos de idade de parada cardíaca. Ele estava com a gente desde pequeno, foi uma grande perda para todos nós e em homenagem à ele, nossa horta se chama Ygor Matos”.
Feliz também é o professor Marcos Barreto, vice-diretor da escola, que trabalha com os alunos especiais há 13 anos. “É uma grande satisfação ensinar estes alunos. Quem chega aqui não quer ir mais embora para outra escola. Cuidamos dos alunos, somos amigos dos ex-alunos, alguns deles hoje estão casados, possuem suas famílias e nos visitam com seus filhos, trazem as crianças para conhecermos. Esse retorno é muito satisfatório. Atendemos ainda as famílias que muitas vezes nos trazem muitos problemas também. Por isso espero realmente que os professores sejam cada vez mais valorizados para que possam continuar a exercer esse tipo de trabalho no âmbito da rede pública, trabalho tão importante que tem nos valido muito a pena. O diretor e demais profissionais de educação podem investir dialogicamente na construção de um clima educativo, satisfatório, transformando o cotidiano do ambiente escolar em um local de formação humanizada onde atuem pessoas criativas, críticas, sérias, felizes, solidárias e com atitudes de humildade, fazendo uma escola reflexiva, crítica e inclusiva. É verdade que tivemos um grande avanço nestes novos tempos tecnológicos e científicos. Por outro lado sofremos um terrível retrocesso no que se refere à questão da humanização”.
Nome: Wellington Batista
Função: Professor de Educação Física
Tempo de magistério: 13 anos
Escola: Centro de Ensino Especial 01 de Ceilândia
Marcos Antônio Barreto Vieira
Professor há 13 anos na Secretaria de Educação
Função: Vice-diretor
Escola: Centro de Ensino Especial 01 de Ceilândia
Profissão Professora – Carreira e as lutas da categoria
Jornalista: sindicato
Maria José Ribeiro, 71 anos, 30 destes dedicados ao magistério. Aposentada há 20 anos, a professora Zezé, como é chamada pelos amigos, foi professora durante 23 anos da rede pública de educação no Distrito Federal e na Secretaria de Educação de Goiás, onde lecionou por sete anos. Lembrando-se orgulhosamente do tempo em que participou de greves, movimentos estudantis e passeatas, Maria José se emociona ao recordar o dia da invasão da Catedral de Goiânia. Lamenta a ação da polícia naquele dia em que os estudantes foram perseguidos e, sem saída, só viram refúgio no lugar sagrado, a Catedral. E com olhos cheios de lágrimas recorda ainda da imagem do arcebispo Dom Antônio de mãos para o alto com toda sua autoridade sacerdotal impedindo que a polícia entrasse na igreja e atacasse os estudantes. “Sinto grande emoção de ter participado de ações como esta, fui uma militante”, conta.
A professora chegou à Brasília com 28 anos de idade, contratada como celetista da Fundação Educacional, e lembra-se da primeira escola em que deu aula, o GG no Guará I. Recorda também da postura profissional que era muito diferente da atual. Conta que o sistema da Fundação era bem rígido, mas ela não se importava, porque chegou a capital com aquela vontade de mudar o mundo e assim arregaçou as mangas e começou, além de lecionar em sala, a incentivar seus alunos a pensarem sobre aqueles difíceis momentos de ditadura. “Éramos cidadãos trabalhadores normais sem recursos, mas os alunos se identificavam muito com a gente. Sinto orgulho pelos alunos que participaram do Diretas-Já”, relembra.
Em 1971 Maria José fez concurso interno e foi dar aula na escola Polivalente, uma escola criada como modelo que tinha um projeto de grande transformação para uma escola pública. “Foi uma grande iniciativa a criação da escola, dei aula lá durante 16 anos”. Além do Polivalente a professora deu aula no GG do Guará, no PROEN, na ASP, na EIT e se aposentou quando dava aula no Caje.
Maria José se enche de orgulho ao lembrar dos debates em sala de aula sobre a Revolução pela libertação de Angola, em 1975. A professora conta que além do debate em sala de aula, levou o filme “O 25” para assistir com os alunos no auditório do SESC. “É claro que os puxões de orelha vieram, mas eu continuava incentivando os alunos a assistirem filmes como “O 25” e toda semana pegava emprestado na Embaixada do Canadá e da França os filmes e passava para os alunos”.
Professora de Geografia e Estudos Sociais, ela também passou a dar aulas de Educação Moral e Cívica. “As aulas tinha um cunho voltado para a direita, mas eu continuava com a minha ideologia e claro que enfrentei alguns problemas por causa disso. Fui vigiada, tive aula gravada, mas conseguimos tomar a fita antes que o problema ficasse maior pra mim. Éramos 40 professores, mas todos muito unidos,” recorda.
Maria José conta que as salas de aula eram muito cheias, sempre com mais de 45 alunos em cada uma. E a luta da categoria era pela diminuição de alunos por classe, pela carga horária, por melhores condições de trabalho e melhoria de salários. “Não tinha nem comida nas cantinas das escolas. Os professores voltavam em casa pra almoçar ou comiam em lugares improvisados que chamávamos de “pé sujo”. Almoçar em casa era bem difícil pra quem não tinha carro. Os ônibus eram superlotados e nem de longe se pensava em Passe Livre como hoje”.
Em 1976 Maria José começou a dar aula em escolas particulares como o CETEB, onde o salário era duas vezes maior do que as 20h paga pela Fundação Educacional. Para ter um salário maior ela também deu aula no SESC e brigou pelas 40h da Fundação.
Maria José relembra que houve a associação dos professores e que a mesma terminou em 1974 com a ditadura militar. A associação voltou a atuar em 1979, e em seguida virou Sindicato, mas por causa de uma greve de 13 dias houve a intervenção do Sindicato pelo Ministério do Trabalho. Com o apoio de outros movimentos como o Eclesiais de Base foi possível a retomada do Sindicato dos Professores no mesmo ano. Ela integrou a diretoria do Sinpro-DF de 1980 a 1986. Foi também militante do Coletivo de Mulheres Negras. A professora então se aposentou em 1992, como estatutária.
Hoje a professora aposentada diz que continua bastante preocupada com a educação dos jovens. Leva voluntariamente matérias jornalísticas e artigos extraídos de uma revista em que ela é assinante para os alunos debaterem em sala de aula numa escola pública de São Sebastião. Maria José diz que as lutas valeram a pena e muito. Sofreu pressão dentro e fora da escola, mas valeu a pena tudo que viveu e tudo que conquistou por meio da educação. Deu aula para mais de 500 alunos por ano e sente imenso orgulho de pessoas que hoje fazem parte dos Governos. E diz ainda que tem uma grande preocupação com a formação de novos líderes. “Não há investimento em formação política que dê capacidade ao indivíduo para que ele possa fazer várias escolhas. Espero sinceramente que os professores atuais se engajem mais na luta e tenham compromisso com a escola pública”.
Depois da aposentadoria Maria José estudou inglês e espanhol, faz ginástica, dança na UNB e é militante do Comitê de Defesa da Revolução Internacionalista (CDRI). “Continuo na luta sempre para que todos pensem em como fazer uma educação melhor e de qualidade. Luta, esse é meu lema”, ressalta.
“Luta palavra vibrante que levanta os fracos e determina os fortes”.
“Minhas mãos doceiras jamais ociosas, fecundas. Imensas e ocupadas. Mãos laboriosas. Abertas sempre para dar, ajudar, unir e abençoar”. Poemas de Cora Coralina, sua autora preferida.
Nome: Maria José Ribeiro
Profissão: Professora aposentada
Tempo de magistério: 30 anos
Escola: Uma das escolas em que mais lecionou foi o Polivalente, por 16 anos
Profissão Professor – Ausência de política preventiva: um mal que afeta a saúde da categoria
Jornalista: sindicato
A falta de uma política preventiva contra problemas relacionados à saúde mental e corporal é o principal motivo para afastar o(a) professor(a) da rede pública de ensino do Distrito Federal da sala de aula. No topo dos motivos para concessão de licenças médicas estão aquelas relacionadas à convalescência, episódios depressivos e outros transtornos ansiosos. Para o professor do 2º ano do Ensino Fundamental da Escola Classe 52 de Ceilândia, Luiz Gonzaga Marcolino Feitosa, a desvalorização do professor e o estresse estão entre os principais fatores para a ocorrência deste mal. “O que ocorre é um excesso de responsabilidades jogado nas costas do professor. Em muitos casos, estas responsabilidades são jogadas pela própria família dos alunos, que não assumem a responsabilidade de ajudar na educação desta criança. Isto acaba gerando depressão e um estresse muito grande”, explica.
A falta de infraestrutura e da própria desestrutura familiar de muitos estudantes cooperam para o adoecimento de professores(as). “O fato é que muitos educadores estão desmotivados, porque na nossa luta conseguimos alguns avanços, mas o poder público não se interessa pela educação como deveria e isto precisa mudar com urgência. Precisamos de Plano de Saúde porque em caso de necessidade, vamos ter de tirar do próprio bolso”, comenta Luis Gonzaga.
Apesar dos problemas o professor da EC 52 de Ceilândia afirma que a profissão é extremamente gratificante e diz que as expectativas para o futuro são de muita luta e conquistas. “Como educador não troco minha profissão por nenhuma outra, porque é aquilo que sempre quis fazer, independente de qualquer coisa. Encontrar alguém que passou por você na escola e ouvir dele que você o ajudou a conquistar uma vida melhor é a coisa mais gratificante que existe”, afirma Gonzaga, complementando que a várias conquistas foram alcançadas e a categoria tem muito que se orgulhar. “Apesar da profissão não ter a valorização que merece, temos de continuar lutando para oferecer a melhor educação para os estudantes, que são o futuro deste país”.
Nome: Luiz Gonzaga Marcolino Feitosa.
Série: 2º ano do Ensino Fundamental
Função: Professor
Tempo de Magistério: 17 anos.
Escola: Escola Classe 52 de Ceilândia Ver mais…
Daniela Aguirre é professora desde janeiro de 1998, profissão que seguiu se espelhando na mãe, que foi professora na Fundação Educacional. A educadora conta que escolher a profissão foi uma decisão complicada, já que havia saído do Colégio Militar e não queria fazer o vestibular, e sim magistério. Então fez uma complementação em 1997 e antes mesmo da finalização do curso havia passado para o cargo público. “A arte de ensinar é uma tarefa difícil para que alguém se envolva nela por comodismo, falta de algo melhor, ou pelo sonho de um grande salário”, diz.
A sua primeira experiência foi em uma escola localizada na zona rural de Vargem Bonita. “Meu primeiro choque. A escola na época era muito carente e usávamos retalhos de papel de outras escolas. No segundo semestre ampliei minha carga para 40 horas, com isso trabalhava na Candangolândia e na Vargem Bonita. Fazia tudo isso de ônibus, era uma loucura, mas sempre amando”, lembra Daniela.
O acesso, a progressão e as oportunidades mostram a desigualdade entre as instituições, que dependem da localidade ou do gestor. “Fui enviada para o CEI do Núcleo Bandeirante. Aí conheci o céu. Escola com muito material, pais presentes, festas e meu primeiro contato com os projetos. Mas pediram para eu entrar na remoção e fui para o Recanto das Emas para trabalhar 40 horas apenas nessa escola”, conta.
A professora afirma que a educação precisa ser um dos vetores do progresso social, com escola igual para todos. “Aprendi a amar mais ainda o que eu fazia, pois estava num lugar que tudo era agradecido pelos alunos. Descobri o que era uma boca de fumo, o cheiro da maconha, os efeitos da cocaína e da merla, onde ficava o CAJE e pela primeira vez vi um cadáver de perto. Meu sonho de consumo era um muro da Escola Classe 801 do Recanto das Emas. Apliquei tudo que aprendi de projetos em uma turma de aceleração de alfabetização. Era a turma que só poderia ter 25 alunos e tinha 30, a maioria com algum transtorno ou deficiência”, destaca a professora.
Após atuar nas escolas CEI, RFII, Jardim RFII, SHISUL, ser supervisora da Escola Classe 45 de Taguatinga e atualmente trabalhar na Escola Classe 04, Daniela revela que os profissionais da educação possuem vários desafios, que passam pela necessidade de se elaborar com criatividade os conhecimentos teóricos e críticos sobre a realidade e a preocupação dos professores serem considerados como parceiros/autores na transformação da qualidade social da escola, compreendendo os contextos históricos, sociais, culturais e organizacionais que fazem parte da atividade docente. “O maior desafio, hoje, para mim, é a estrutura para trabalharmos. O governo acredita que com cadeira, mesa e quadro conseguiremos atingir os objetivos que eles propõem. Sinto-me dentro de um vidro, que vai passando de mão em mão e o Estado não sabe o que fazer”, desabafa a professora.
Outro desafio levantado por Daniela é a sociedade imediatista e de consumo. Daniela questiona o fato dos pais acharem que é obrigação dos professores aprovarem o estudante e que os pais não os vejam como babás de luxo que cuidam dos filhos por 5 horas semanais. “Que possamos estimular nossos alunos com todas as condições possíveis, que possam dar bons resultados e tenham opções do que querem ser como eu pude. Que nós professores sejamos uma unidade e não unitário”, argumentou. “O salário não é o que mantêm o professor na carreira, na grande maioria dos casos. Sabemos que a categoria é mal remunerada. Na realidade, o trabalho tem início com a preparação das aulas, continua em sala de aula e prossegue após as aulas, com a correção de trabalhos, provas, cadernos e apostilas”, ressalta.
“Nós precisamos ter melhores condições de trabalho, tanto financeira quanto profissional. Que tenhamos muitos professores que amem a profissão e não o cargo de servidor público. Amo ser professora mesmo com todas as dificuldades. Hoje, como professora do 5º ano, me sinto fora desse ‘pote governamental’. Por isso ainda acredito que vale a pena”, comemora.
Nome: Daniela Aguirre
Função: Professora
Tempo de magistério: 15 anos
Escola: Escola Classe 04
Profissão Professora – Qualidade da educação deixa a desejar
Jornalista: sindicato
Com uma carreira dedicada à alfabetização entre as classes excluídas, a professora Cleuza de Medeiros, da Escola Meninos e Meninas do Parque, ainda considera que a qualidade da educação no Distrito Federal “está bem aquém daquilo que imaginamos como ideal”. Embora reconheça as dificuldades do trabalho com a exclusão social, a professora, com trinta anos de experiência, diz que ainda sente orgulho das sementes plantadas. Já tendo lecionado no CAJE e na Papuda, Cleuza cita como exemplo o caso de um detento premiado. “Isso me deixou muito feliz. Ouvir o presidiário dizer que se tornou outra pessoa graças à educação, me deixou muito orgulhosa”, diz.
A professora considera que a evolução no setor educacional em Brasília deve-se muito à luta sindical. Cleuza diz que na sua longa vida de militância, seguindo os passos de Paulo Freire, viu crescer a credibilidade da educação no Distrito Federal.
Cleuza de Medeiros não crê que haja falta de recursos financeiros nas escolas. Para ela, o que falta são gestões de qualidade. A professora ainda ressalta que não basta uma boa gestão pedagógica. “É necessário também que haja um gerenciamento administrativo eficiente para tornar a escola organizada e democrática”, conclui.
Nome: Cleuza de Medeiros
Função: Professora
Tempo de magistério: 30 anos
Escola: Escola Meninos e Meninas do Parque Ver mais…
Profissão Professor – Ainda há muito que conquistar
Jornalista: sindicato
A trajetória de lutas dos professores e professoras do Distrito Federal resultou em uma série de conquistas para a categoria ao longo dos últimos anos. O novo Plano de Carreira do Magistério Público do DF (Lei nº 5105/13), que reestrutura as carreiras e oferece vários benefícios aos professores, entre eles reajuste salarial e a incorporação definitiva da Tidem, é apenas uma das vitórias alcançadas graças à garra desta categoria. Apesar disto, ainda há muito que conquistar. A opinião é compartilhada pelo professor Fabiano Gomes Félix, do CAIC Ayrton Senna de Samambaia. Para o educador, é preciso mais atenção com a qualidade de vida do profissional em educação e com a infraestrutura das escolas.
“Precisamos de escolas melhores, munidas de equipamentos, laboratórios, e de uma melhor infraestrutura para acomodar os alunos. Além disto, é necessária uma atenção especial com a qualidade de vida dos professores”, explica Fabiano Gomes. Segundo o educador, a falta de um plano de saúde é um dos maiores motivos para o aumento no número de licenças médicas. “Muitas doenças poderiam ser prevenidas se tivéssemos um plano de saúde. O governo deveria ter programas de qualidade de vida para o professor, mas infelizmente o que mais vemos são colegas doentes”.
A falta de reconhecimento por parte da sociedade e do Estado são fatores que fazem, segundo Fabiano, muitos profissionais da área de educação abandonarem o magistério. “Deveria ser criada uma faculdade distrital para incentivar até mesmo os alunos ao magistério. Outra conquista que temos pela frente é a isonomia salarial com outras carreiras de nível superior do DF, já que não temos compatibilidade salarial com outras áreas, e isto é muito ruim”, lamentou.
Para o futuro, a expectativa é que a categoria alcance as conquistas que ainda estão na pauta de reivindicação, a luta por mais qualidade no atendimento aos alunos e que a educação do Distrito Federal seja referencial para o país. “Plantamos uma sementinha que pode dar bons frutos no futuro e tudo isto começa com uma boa educação. Temos excelentes profissionais e o que espero para o futuro é que possamos manter a educação da capital federal de qualidade”, finalizou o professor do CAIC Ayrton Senna.
Nome: Fabiano Gomes Félix
Função: Professor
Série: 4º ano do Ensino Fundamental
Tempo de Magistério: 9 anos
Escola: CAIC Ayrton Senna de Samambaia