Dia Internacional da Mulher reúne mais de 10 mil na Esplanada dos Ministérios

Manifestação por direitos iguais, contra as reformas da Previdência e trabalhista, o racismo e contra a violência, na Esplanada dos Ministérios (Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil)

Mais de 10 mil mulheres do Distrito Federal participaram da passeata do Dia Internacional da Mulher, na Esplanada dos Ministérios. Com a maioria vestida de lilás, elas se uniram a milhares de mulheres de todo o mundo, numa greve geral de mulheres, em defesa da igualdade de direitos, de salários e contra a violência sexista e doméstica, a discriminação e a estigmatização de que os cuidados com a casa e com os filhos é tarefa do gênero feminino. Em Brasília, o Sinpro-DF e a CUT Brasília foram entidades protagonistas na organização e participação na passeata.
A greve geral feminista também teve o objetivo de mostrar que o mundo não anda sem as mulheres. Se o mundo considera que não é grave que tanto o trabalho quanto a própria vida das mulheres não vale nada, neste 8 de março, elas mostraram como é viver um único dia sem o trabalho, a presença e a atuação delas na família e na produção capitalista. Essa ideia moveu a grande paralisação mundial de mulheres.
“Se nossas vidas não importam, que produzam sem nós”, dizia o slogan da greve mundial das mulheres. Mas é possível fazer uma greve geral mundial feminina? Sim. As ruas das grandes e pequenas cidades se encheram de mulheres em manifestação no mundo todo. E as brasilienses mostraram que sim. Mais de 60 coletivos de mulheres do Distrito Federal aderiram ao movimento local e à greve mundial por uma causa comum: os direitos da mulher.
A ideia de uma paralisação mundial das mulheres no dia 8 de março surgiu na Argentina, no ano passado, e ganhou força em vários países e em todos os continentes não só por ser, tradicionalmente, um dia de luta das mulheres, mas também em virtude da conjuntura internacional de retirada de direitos promovidas por dirigentes políticos neoliberais e do aumento da violência contra a mulher.
“No Brasil, esse ato tem um significado muito forte por causa das reformas trabalhista e da Previdência, que estão tramitando no Congresso Nacional e que têm em suas diretrizes o aspecto de prejudicar muito a classe trabalhadora e, principalmente, as mulheres. A reforma trabalhista precariza ainda mais a situação da mulher no mercado e no mundo do trabalho, e, a da Previdência, acaba com a possibilidade das brasileiras se aposentarem. Nessa reforma, as as camponesas e as professoras são as que serão mais prejudicadas”, denuncia Vilmara Pereira do Carmo, coordenadora da Secretaria de Assuntos e Políticas para Mulheres Educadoras do Sinpro-DF.
As professoras da educação básica terão de trabalhar mais 15 anos para se aposentar porque terão a idade mínima elevada para 65 anos. “Vamos ter de trabalhar mais tempo porque a proposta iguala a idade mínima entre homens e mulheres em tempo de contribuição e em idade. Além disso, vamos perder a aposentadoria especial pela qual lutamos durante o século XX para tê-la. Essa reforma aumenta o tempo laboral de todo mundo de forma irresponsável para 65 anos de idade e 49 anos de contribuição”, explica.
A passeata das brasileiras não só denunciou os ataque aos direitos, mas também revelou como essas reformas têm acentuado a indignação e levado milhares de mulheres a unificarem as lutas e irem às ruas em todo o Brasil. “Havia muito motivo para as mulheres estarem nas ruas lutando contra as desigualdades de gênero, contra a retirada de direitos e contra a violência. A violência é uma pauta constante da luta das mulheres porque ela tem se mostrado cada vez mais misógina, machista, sexista. Este 8 de março foi muito impactante no mundo inteiro”, avalia Vilmara.
Para a diretora do Sinpro-DF, uma singularidade marcou este 8 de março no Distrito Federal. “É que, pela primeira vez, neste século, o movimento de mulheres do Distrito Federal conseguiu unificar cerca de 60 entidades e  coletivos de mulheres organizadas nas mais diversas expressões e caracterizações. Isso foi muito rico e, ao mesmo tempo, um desafio enorme porque não é fácil unificar tantas diferenças. Todavia, foi por uma causa justa e necessária que é a da mulher, que é quem acaba sofrendo todo o impacto de uma sociedade machista”, diz.
Sônia Queiroz, da carreira de assistência em educação e secretária de Mulheres da CUT Brasília, considerou este 8 de março peculiar. “Gostaríamos de ter comemorando o Dia Internacional da Mulher com mais conquistas para as mulheres. Mas no Brasil e no mundo não tivemos como fazer isso por vários motivos. O primeiro que nos impediu foi crescimento da violência contra a mulher, que cresceu no mundo todo, especialmente no Brasil. O nosso país está no quinto lugar no ranking dos países mais violentos do mundo contra a mulher”.
Ela diz que outro desafio que tornou este Dia Internacional da Mulher único no DF foi o fato de o movimento ter conseguido reunir mais de 60 coletivos de mulheres com ideologias completamente diferentes. “Nunca foi uma coisa tão fácil construir uma unidade entre nós. Mas diante do aprofundamento da crise política e das retiradas de direitos por meio de projetos de lei, medidas provisórias e emendas à Constituição, isso fez com que nós conseguíssemos esta unidade inédita”, afirma.
Ela acredita que este 8 de março foi diferente também porque o ato público conseguiu dar visibilidade às causas da mulher, à reforma trabalhista, à terceirização sem limites – também em tramitação no Congresso Nacional – que pegou de surpresa a todos/as os/as trabalhadores/as. E também à reforma da Previdência. Segundo ela, a reforma da Previdência é considerada a pior porque aprofunda terrivelmente as desigualdades sociais no país.
Enquanto as mulheres marchavam para a Praça dos Três Poderes por direitos iguais em todos os sentidos, incluindo aí no mercado de trabalho, o presidente ilegítimo Michel Temer, em uma cerimônia pelo Dia Internacional da Mulher, disse que “o papel das mulheres na economia é serem astutas seguidoras do orçamento doméstico, capazes de notar as flutuações de preços”. Temer afirmou que as mulheres, “além de cuidar dos afazeres domésticos e serem as responsáveis pela educação dos filhos, ganham cada vez mais espaço no mercado de trabalho”. No evento, a primeira-dama, Marcela Temer, discursou por menos de dois minutos.
Na avaliação de Vilmara, não se trata de um discurso desastrado, meramente machista, feito por uma pessoa sem eloquência e oratória. Pelo contrário, esse discurso faz parte da política neoliberal de retirada de direitos e de aprofundamento da discriminação sexista e de gênero.
Para Sônia, esse tipo de discurso já era esperado. “Nós, mulheres trabalhadoras, achávamos que seria assim. Se fosse diferente, seria maquiagem. Desde que começamos a alertar sobre o golpe, denunciamos o aprofundamento da crise. Por isso não é surpresa ver mais de 10 mil mulheres em passeata até a Praça dos Três Poderes exigindo respeito, igualdade, um país mais justo e igualitário. É o que nós, mulheres, queremos”, finaliza.
Confira imagem da manifestação a seguir. Fotos da Ecom/Arquivo do Sinpro-DF.